Casa Freitas: de camelô em São Paulo à maior rede varejista do Ceará, com lojas em quatro estados

Fundador da rede de lojas, Pedro Freitas foi para o Sul do País de pau-de-arara e retornou para a terra natal anos depois, já dono do próprio negócio. Episódio é o 3º da série 'Por Dentro do Negócio'

Escrito por Camila Marcelo , camila.marcelo@diariodonordeste.com.br
Legenda: Filho do fundador da Casa Freitas, Marcelo Freitas é hoje um dos responsáveis pela rede varejista
Foto: Camila Marcelo

Quando subiu no pau de arara para uma viagem de doze dias de Fortaleza ao Rio de Janeiro, as metas de Pedro Freitas eram terminar o Ensino Médio, tentar o vestibular para Medicina e se tornar médico, desejo seu e de sua mãe.

Naquela época, não imaginava que ficaria desapontado com a capital carioca, abandonaria as metas e embarcaria para São Paulo, onde desenvolveu a sua veia empreendedora, que no futuro resultaria na criação de uma das mais conhecidas varejistas de Fortaleza: a Casa Freitas.  

A série 'Por Dentro do Negócio' traz histórias de empreendedorismo de empresas que atuam no Ceará, dos percalços ao sucesso, para inspirar você no sonho de abrir o próprio negócio. 

Foi em São Paulo que ele encontrou sua vocação. Aos 23 anos, tornou-se camelô nas ruas da maior cidade do País. Começou vendendo óleo de peixe-boi e de poraquê (peixe da Amazônia), depois foi alternando para outras mercadorias, como meias, calças e canetas.

Legenda: As metas de Pedro Freitas eram terminar o Ensino Médio, tentar o vestibular para Medicina e se tornar médico
Foto: Isanelle Nascimento

Saiu da informalidade, providenciou a sua carteira de ambulante regular em 1955, já aos 29 anos, e tempos depois abriu a primeira loja em São Paulo, ao lado de dois irmãos, com o nome de Casa Freitas. 

"O papai era camelô e abriu uma loja. Apareceu um ponto em São Paulo que ele conseguiu alugar. Abriu a empresa com caixas secas porque não tinha produto para encher a loja", conta Marcelo Freitas, caçula de Pedro.

Hoje, Marcelo é o responsável pela abertura de novos empreendimentos da Casa Freitas. Ao lado da irmã Fernanda, comanda todas as 20 lojas espalhadas pelo Ceará e também Pará, Maranhão e Piauí. E a presença dos dois na empresa não é recente. Ainda crianças, eles e também o irmão Pedro ajudavam em diferentes funções em seu tempo livre.  

"O papai sempre criou a gente dentro do comércio. A gente foi desenvolvendo aquele tino, orientado sempre por ele", pontua Marcelo.

A ajuda era principalmente nas épocas de maior movimento, como Natal e Dia das Crianças, além das férias, que sempre passavam na Casa Freitas.  

"A gente ajudava em tudo, junto com todos os outros funcionários. Lembro que no Natal a gente saía tarde, isso criou um vínculo muito grande", acrescenta Fernanda Freitas, a primogênita de Pedro Freitas. 

A participação de dona Onivalda Pinheiro de Freitas, mãe deles e esposa de Pedro, também foi crucial no crescimento e na identidade que a Casa Freitas  tem até hoje. 

"Acho que minha mãe ajudou o meu pai em todos os sentidos. Foi aquela mulher que esteve presente, no lado. Para abrir lojas em outros estados, ela sempre acompanhava", lembra Fernanda. 

Por vezes, como lembra Marcelo, a irmã mais velha assumia a responsabilidade do caixa, enquanto ele ficava atendendo os clientes ou pegando mercadoria no depósito. Mas nenhum deles ficava sem trabalho. 

"Papai sempre foi mão de ferro na criação da gente. Eu, com 12 anos, vinha para o Centro fazer pagamento no banco. Já fui motorista, empacotador", completa. 

O ensinamento é traduzido pela frase declamada aos filhos e funcionários, e que todos continuam seguindo à risca: "reze como se tudo dependesse de Deus e trabalhe como se tudo dependesse de você". 

Crescimento e atuação 

A primeira loja no Centro de Fortaleza, na Rua General Bezerril, aberta em parceria com um outro irmão do fundador, em pouco tempo ganhou uma filial no mesmo bairro. Inclusive, as duas unidades funcionam no mesmo endereço até hoje.

De 1959 a 1996, essas eram as únicas representantes da Casa Freitas na Capital, até que em 1990, a unidade da General Sampaio, aberta em 1988 focada no varejo, ficou sob o domínio do filho Pedro Freitas, que criou uma nova empresa, a Freitas Varejo.  

O papai sempre nos orientou a não brigar. A gente vê vários casos de grandes empresas que a família briga e a empresa desaparece do mercado. Mas nós temos uma união muito sólida. Minha irmã é minha sócia, meu irmão é dono da Freitas, mas não existe briga

"Claro que existe uma certa concorrência dos gerentes, até porque eles são instruídos a vender mais na loja deles. Mas é uma concorrência totalmente sadia. É tanto que a gente sempre se reúne para falar de tendência de mercado", revela Marcelo. 

Outra mudança nessa década foi a adesão mais intensa ao varejo. "A gente observou um vácuo nessa parte de varejo e o atacado diminuindo, porque os nossos fornecedores tinham acesso ao meu cliente. Então, a gente sentiu essa retração no atacado e decidimos investir no varejo", explica, relembrando a decisão tomada em 1996.

1997
Foi o ano de abertura da Casa Freitas da Avenida Dom Luís. A loja, primeira da rede fora do Centro de Fortaleza, supera a movimentação de todas as outras unidades de rua do grupo.

Além dessa representante na Aldeota, a Casa Freitas pode ser vista em outros endereços em Fortaleza, como nos bairros Edson Queiroz, Montese e Messejana.

Em breve haverá uma nova localização: "neste ano, a gente vai abrir uma loja grande na Frei Cirilo com a BR-116. Vai ser a maior loja do Ceará", destaca, adiantando outro projeto ousado em Messejana.  

No geral, o novo estabelecimento terá dois mil metros quadrados (m²) de área de venda. Só perde para a unidade de Belém (PA), que conta com sete mil m² no total, sendo três mil m² de área de venda.

No planejamento da Casa Freitas, ainda há planos para inaugurar uma terceira loja em Belém e outra em São Luís (MA).

Legenda: Primeira loja da rede fora do Centro de Fortaleza, a unidade da Av. Dom Luís fou aberta em 1997.
Foto: Isanelle Nascimento

No Ceará, tem Casa Freitas também em Maranguape, Pajuçara, Quixadá e uma especial em Itapipoca. "O papai sempre teve um sonho de abrir uma loja na cidade dele e, em 2016, a gente concretizou o sonho. Tinha muita gente que conhecia ele da época que morava lá. Foi muito bonita a inauguração da loja", lembra Marcelo.  

Mais de mil funcionários

Ao todo, são 20 lojas e, de 50 funcionários em 1959, a marca agora possui mais de mil em seus estabelecimentos. "Mais de 10% do nosso quadro tem mais de dez anos na loja. Há até pouco tempo, a gente tinha funcionários com 80 anos de idade", ressalta Fernanda. 

Paralelo a Casa Freitas, o grupo ainda abraça outras duas empresas. A primeira é a Maison par Casa Freitas, aberta em 2007, instalada logo ao lado da unidade da Av. Dom Luís, no Meireles. Especializada em lista de casamentos e presentes para casa, atende os clientes de diversas regiões do Brasil, seja por meio físico ou virtual. No mesmo endereço também está a Casa de Brinquedos, inaugurada em 2008.

"A gente quis separar a parte de brinquedos da Casa Freitas e especializar-se mais nesse ramo. O vendedor é diferenciado, conhece o produto, e a gente hoje trabalha bem melhor com brinquedos do que quando era dentro da Casa Freitas", explica Marcelo.

Estrutura e tendências, além de viagem para China

Para abastecer as lojas do Estado e as demais do Nordeste, além da unidade de Belém, o Centro de Distribuição (CD) no Eusébio, na Região Metropolitana de Fortaleza, cresceu para dar conta do negócio.

O galpão inicialmente tinha cerca de 1.500 m² e foi ampliado para 12 mil m² de área construída. "Nosso centro hoje é muito bem estruturado, com pé direito de 15 metros, e todo automatizado", destaca Marcelo.  

Para manter o espaço sempre atualizado de lançamentos, os proprietários sempre viajam para ficar atento às tendências de mercado.

"A gente vai em torno de duas a três vezes por ano para China para olhar novidades e fechar o ano de produtos importados. Mas a nossa venda maior hoje continua sendo dos nacionais", revela Marcelo.   

Apesar de ter entregue a administração aos filhos em 1997, o patriarca Pedro Freitas continuou dando assistência às lojas até 2008, e até hoje não deixa de estar presente sempre que pode em suas lojas.  

"Papai tem 93 anos, mas continua ativo. (...) Acho importante até mesmo para ele, para não ficar ocioso. Todo dia vai para uma loja diferente, muitas vezes chega primeiro que a gente", conta o filho. 

Para o futuro, além de novos endereços nos planos da família, a meta é que as próximas gerações também possam continuar, com o mesmo fôlego de Pedro Freitas, o lema que ele seguia e fala ainda hoje com tanto orgulho: "aqui trabalha a minha família para melhor servir a sua". 

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