Análise: liberação do FGTS é solução paliativa e deve trazer benefícios apenas no curto prazo

Governo estuda liberar saque de até 35% do saldo de contas inativas do FGTS

Escrito por Samuel Quintela , samuel.quintela@diariodonordeste.com.br

Opinião de Samuel Quintela
Repórter de Economia do SVM

O Governo Bolsonaro anunciou que pretende liberar o saque de parte dos recursos do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço) em moldes mais abrangentes do que foi feito durante o breve mandato de Michel Temer. Mas a nova medida, apesar de levemente diferente da gestão passada, não deverá causar nada além de um impacto pontual na economia brasileira, o que não garante uma recuperação do PIB (Produto Interno Bruto) em 2019. 

Com a decisão, o Ministério da Economia, de Paulo Guedes, espera dinamizar – perdão pela repetição óbvia do termo imposto pelo nome da Pasta – a economia brasileira. Com o saque, as pessoas deverão, de fato, ter a oportunidade de voltar a consumir e isso poderá gerar um aumento da demanda. 

Mas a iniciativa, assim como foi durante o período Temer, é vista por economistas como uma solução paliativa e situacional, pois deverá trazer resultados apenas no curto prazo. 

O País não deverá sentir os efeitos das medidas macroeconômicas (reformas da Previdência e do sistema tributário, por exemplo) no curto prazo, então a esperança é que os saques do Fundo de Garantia possam dar um fôlego para as perspectivas de crescimento do PIB, que enfrenta consecutivas reduções de previsão. 

E o PIB...

Se o Governo Bolsonaro iniciou impulsionado por uma perspectiva otimista de 2,5% de crescimento do PIB em 2019,  atualmente, seis meses após o começo do mandato, a previsão é de que o PIB avance apenas 0,81%, segundo o boletim Focus, do Banco Central.

Além disso, o Brasil ainda vive um cenário de muita incerteza, gerado pela alta taxa de desemprego (12,3%), deixando 13 milhões de pessoas sem trabalho, e pela inadimplência, com 63 milhões de contribuintes com dívidas a pagar. 

Sendo assim, não há garantias que o dinheiro retirado do FGTS seja direcionado para o consumo, o que poderia fazer com a roda da economia pudesse voltar a girar, mesmo que lentamente. Muitas pessoas podem acabar usando essa oportunidade para pagar débitos antigos ou até mesmo investir em poupanças para criar um fundo emergencial, já que o mercado mantém-se instável desde o início da recessão econômica – é preciso garantir reservas. 

Solução completa

Considerando todos esses pontos, a liberação da verba do FGTS pode, sim, trazer benefícios no curto prazo, mas ainda é preciso fazer mais para que o Brasil possa voltar a crescer. A solução completa deverá passar pelas reformas estruturais, ainda que se discuta qual modelo seria mais benéfico para o País. 

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