“O crédito, em 2020, será a grande mola propulsora do consumo”

Em entrevista com Luiz Rabi, economista-chefe da Serasa Experian, o especialista em consumo comentou que o acesso aos recursos deve ser garantido pelo Cadastro Positivo já em janeiro e deve beneficiar não bancarizados e micros e pequenas empresas

Escrito por Redação , negocios@verdesmares.com.br
Legenda: Luiz Rabi está há mais de dez anos lidando com indicadores de consumo da Serasa Experian

A projeção de movimentar até R$ 29 bilhões na economia do Ceará a partir do acesso ao crédito por cerca de 1 milhão de consumidores, segundo já estimou a Câmara dos Dirigentes Lojistas da Capital, destina muitas expectativas ao Cadastro Positivo, que deve ser efetivado no próximo ano. Na linha de frente para a coleta e trânsito dos dados, estão os birôs de créditos, como SPC, Boa Vista e Quod e Serasa.

Esta última instituição tem estado na esteira do debate sobre o acesso ao crédito a partir do Cadastro Positivo, com a participação efetiva de Luiz Rabi nos estudos sobre o consumo e o comportamento do brasileiro em diversos momentos-chave da economia. 

O economista-chefe da Serasa Experian é formado pela Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo (USP), na qual possui mestrado, além de um doutorado pela USP, e está há mais de dez anos como responsável pelos indicadores de mercado da instituição.

Em entrevista ao Diário do Nordeste, ele destaca a abrangência do Cadastro Positivo – capaz de mapear dados, inclusive, das pessoas que não possuem contas em bancos – e a promessa de atingir consumidor e micros e pequenas empresas com maior acesso ao crédito e taxas de juros diferenciadas.

Na avaliação de Luiz Rabi, “o crédito, em 2020, será a grande mola propulsora do consumo”, que deve alavancar a economia do País no próximo ano.

Na prática, como deve funcionar o Cadastro Positivo para o consumidor?

Hoje, o score (indicador que avalia, dentre outros fatores, a pontualidade de pagamento do consumidor) só contém informação negativa, como atraso e inadimplência, e informação cadastral. Qualquer pagamento que a pessoa faz não conta a favor dela. Mas a partir de janeiro, quando o Cadastro Positivo começa a funcionar, as informações positivas também vão fazer parte do score, que irá considerar tudo aquilo que a pessoa pagar em dia.

E o que muda para o consumidor para o consumidor brasileiro com o Cadastro?

Para quem concede crédito, o score será a principal variável na hora de decidir um empréstimo. Vai melhorar a avaliação, fazendo com que as pessoas que são boas pagadoras possam ter mais acesso a crédito. E estas serão beneficiadas não só no acesso ao crédito, mas com taxas de juros mais baixas e com prazos de pagamento mais longos.

De que forma o consumidor terá acesso a essas melhores condições prometidas pelo Cadastro?

Quanto maior o score do cliente, mais ele vai ser disputado pelos bancos, pois todo o mercado irá saber dessas informações. Hoje não dá para fazer isso porque só o banco daquela pessoa sabe que ela é uma boa pagadora. E isso deverá aumentar a concorrência no sistema bancário.

Qual o impacto esperado desse compartilhamento de informações para o mercado de crédito brasileiro?

Em 10 anos, nós vamos ter um aumento de R$ 700 bilhões nas operações de crédito para os consumidores. Hoje, 23 milhões de brasileiros não têm acesso a crédito por falta dessas informações. São pessoas que pagam suas contas em dia, estão adimplentes, mas têm um score baixo porque não há muita informação sobre elas. 

Com o Cadastro Positivo, mesmo que a pessoa não seja bancarizada (possua uma conta em banco), ela paga várias contas, como de água, luz, telefone, e essas informações serão compartilhadas, fazendo com que o crédito seja melhor concedido, diminuindo a inadimplência.

Nós vamos receber dados não só dos bancos, mas também das empresas de energia, de água, de telefone e de crediário. Ao longo do próximo ano, quando essas informações foram sendo agregadas ao Cadastro Positivo, as pessoas não bancarizadas vão ter seu histórico de pagamento formado.
Além disso do crescimento de crédito para pessoa física, acreditamos que teremos um ingresso de R$ 600 bilhões para pessoa jurídica. Então, será R$ 1,3 trilhão a mais de crédito que o Cadastro Positivo tem o potencial de proporcionar em 10 anos.

Quando o consumidor começará a perceber esses resultados?
A partir de janeiro, os modelos de análise de crédito já estarão sendo calculados com as informações positivas. E já começaremos a ter uma diferenciação nas taxas de juros. Aqueles que não têm como comprovar rendimentos, como profissionais autônomos, passarão a ter acesso a crédito. E o crédito, em 2020, será a grande mola propulsora do consumo.

Qual o impacto esperado para as empresas? É semelhante ao do consumidor?

O impacto principal será para as micro empresas e MEI (microempreendedor individual). Temos 2,5 milhões de micro e pequenos empreendedores que não são inadimplentes mas têm score baixo, porque você quase não tem informação sobre eles, além do endereço. A partir de agora, tudo isso vai ser visível. Já as grandes empresas não têm problema de acesso a crédito.

Como deve proceder quem não quiser compartilhar seus dados com o Cadastro Positivo?

A lei prevê que, a qualquer momento, a pessoa pode solicitar a sua exclusão. Mas aí ele sai do Cadastro como um todo. Sai do sistema geral e nenhum pagamento em dia vai ser considerado na hora em que ele for buscar um crédito.

De que forma será feita a segurança dos dados compartilhados no Cadastro Positivo?

A segurança terá o mesmo rigor com que é feito no Cadastro Negativo. Tudo está de acordo com a Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais. A única coisa que será disponibilizada ao mercado final é o score, e não um extrato de pagamento que as pessoas fizeram. Além disso, qualquer pessoa poderá pedir o seu próprio extrato aos birôs.

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