Milharal sem-fim

Escrito por Redação ,
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No perímetro Jaguaribe-Apodi, a produção anual de milho verde chega a 40 milhões de espigas por hectare

Limoeiro do Norte (CE)

O milharal surge a perder de vista. Chegamos em dia de chuva - esta que não vinha, diziam os moradores de lá, há vários meses. Acima, o cinza das nuvens e, abaixo, a enorme plantação verde. A lama tomava conta das passagens entre os lotes de plantação de milho, mas, fazendo chuva (quando não é muita) ou sol, o trabalho é o mesmo: trabalhadores colhiam as espigas e as posicionavam às margens da estrada, para depois jogá-las aos cargueiros dos caminhões, que chegavam vazios e saíam repletos do milho que é levado a todo o Nordeste. No ano passado, foi registrada uma produção de quase 40 milhões de unidades por hectare, fazendo com que o cultivo do cereal seja uma das principais atividades econômicas do perímetro Jaguaribe-Apodi.

Por lá, dividem-se grandes e pequenos produtores, mas, quase sempre, há uma interação entre estes. A maioria é de pequenos, que, com poucas condições de comercialização para fora da região, vendem sua produção aos grandes, que fazem o escoamento do produto.

Antônio Ibernon Maia intermedeia estes negócios. Trabalha com milho há 16 anos, e destaca: todo dia se colhe na chapada. Responsável por uma área de 50 pivôs de milho, ele recolhe o milheiro cultivado pelos produtores. "Esta é a maior produção organizada do Nordeste", afirma. O ciclo do milho dura 75 dias, informa. São cerca de R$ 700 mil a R$ 800 mil que a cultura consegue movimentar por mês na região, R$ 10 milhões por ano. "Esse perímetro vale por um horror de fábrica: movimenta o comércio, concessionárias, supermercados. Antes do perímetro, só tinha mato e fome. Produção de nada", aponta.

Rendimento

Ele paga R$ 9 por milheiro, e garante que há trabalhador que tire R$ 1 mil por mês. O pai de família e pequeno produtor Reinaldo Zacarias, 52, também trabalha na fazenda, mas não consegue alcançar estes rendimentos. Contudo, justifica: "não venho todos os dias". Ele vai ao lote "quebrar milho e botar em cima do carro". Pelo trabalho braçal, recebe entre R$ 30 e R$ 50 por dia. Para ele, é um bico: "tenho três hectares meus, fora do perímetro, onde planto banana e limão. Lá, é de sequeiro mesmo, ainda dependo da chuva para tirar a renda da plantação". A produção dele é levada a um "atravessador", que faz a venda às Ceasas nas capitais. "Eu tiro mais grana com a minha produção, mas a chapada melhorou a renda, porque antes era muito pouco", diz.

Além das espigas de milho, o perímetro produz as sementes do cereal, e conta com três Unidades de Beneficiamento de Sementes (UBS). O produto vai para diferentes mercados do Nordeste: Recife, Campina Grande, Caruaru, Natal, informa Ibernon. A maior parte dessa produção, contudo, é vendida ao governo estadual.
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