Métodos educativos ajudam a criança no uso cotidiano do dinheiro

Especialistas da área de finanças e investimentos afirmam que abordagem faz com que jovens e crianças compreendam o real valor do dinheiro, em meio a um cenário cada vez mais digital. O uso do cofrinho ainda é uma boa opção

Escrito por Bernadeth Vasconcelos , bernadeth.vasconcelos@svm.com.br
Legenda: Geovana passou a ter lições de educação financeira e, hoje, já tem metas de pequeno, médio e grande porte em seus desejos de consumo
Foto: Foto: Kid Júnior

O saber na infância é fortalecido por estímulos lúdicos, principalmente em relação ao que se deve economizar ou poupar, já nos primeiros anos de vida. No Ceará, especialistas recomendam que essas noções sejam ensinadas por meio de pequenas responsabilidades que já devem ser repassadas gradativamente no crescimento das crianças a fim de que aprendam a ter controle, como o cofrinho de moedas.

Na opinião de Darla Lopes, diretora do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças do Ceará (Ibef-CE), a raiz do problema começa na falta de instrução dos pais em informar à criança quando o orçamento familiar está apertado. 

“As crianças estão habituadas a verem os pais apenas desembolsando o dinheiro. Por isso, é preciso ensinar a elas como se comportar com o dinheiro, mostrando que existe um planejamento dentro dos lares”, afirma. Para ela, “é preciso dialogar sobre os sonhos da família”. 

“E aí a criança começa a ver que falar sobre isso é algo bom, porque ela vai ter um contato positivo com as finanças”, completa. 
Darla também pondera que “muitos pais só afirmam aos filhos: não tenho dinheiro”. “E isso não é verdade. Você tem dinheiro, mas para outras prioridades. Se a criança quer um brinquedo, você explica que é possível juntar uma quantia para comprar o produto futuramente, tirando o “imediatismo” que a nossa geração tem. A criança vai perceber que o dinheiro não é ilimitado”, observa. 

Percepção na infância

No início do desenvolvimento da criança, os pais já podem abordar temas básicos como “juntar” e “poupar”. Para a neuroeducadora e psicopedagoga, Vládia Michelle, o momento para fazer isso é a partir dos três anos – a fase do egocentrismo (quando o menor não conhece outras perspectivas diferentes das suas) é substituída por um momento onde a criança acelera o aprendizado cognitivo e passa a entender as intervenções dos pais na educação familiar. 

“As crianças aprendem através do exemplo. Quando não se tem isso dentro de casa, fica muito complicado. O adulto, na maioria das vezes, acha que a criança não tem potencial de aprendizado nesse aspecto”, explica. 

Michelle indica que durante os primeiros anos de educação é importante mostrar paciência nos diálogos e também firmeza. “A partir dos três anos, a criança vai desenvolvendo noções de ganhar e perder. É aí que é possível ensinar a juntar dinheiro ou economizar. Já nos seis anos, ela passa para uma fase de desenvolvimento mais concreta e consegue conservar. Ela vai iniciando a maturidade de receber um ‘não’. O uso do cofrinho é uma boa opção nessa idade”, explica.

Para Carol Paiffer, CEO da Atom Educacional (plataforma de treinamentos e investimentos do mercado financeiro), as crianças desta geração estão mais imersas no meio digital, mas o uso do cofrinho ainda continua sendo a abordagem mais eficaz. “Falar sobre dinheiro em casa sempre foi considerado um ‘tabu’, como se fosse um pecado falar quanto os pais possuem. A ideia do cofrinho ainda funciona porque mostra fisicamente quanto vale o dinheiro para comprar algo. Traz a realidade para a criança ou adolescente, já que hoje nós estamos perdendo essa sensação no meio digital, com o uso do cartão de crédito como forma de pagamento”, explica.

Primeiras práticas

Através de um convite do tio, a pequena Geovana Rocha, de 8 anos, passou a participar de um projeto de educação financeira, no qual crianças aprendem noções financeiras por meio de uma cartilha interativa, elaborada pela diretora do Ibef-CE. A partir daí, Geovana desenvolveu o próprio planejamento financeiro a curto, médio e longo prazo, com seus desejos de consumo, usando o cofrinho. 

“Eu consegui juntar dinheiro para comprar minhas maquiagens e a minha mãe me ajudou a escolher. Eu aprendi a economizar dinheiro e a ver os valores”, explica. “A tia sempre ensina a gente sobre como economizar dinheiro, com um cofrinho. A gente desenha os brinquedos que a quer ganhar”, diz. A mãe, Amanda Rocha, gerente comercial, percebeu mudanças no comportamento da filha. “Ela passou a entender quando não temos dinheiro para comprar o que ela deseja”. 

Atitudes

Na transição da infância para adolescência, os jovens já passam a ter uma maturidade maior em relação ao dinheiro. E isso não se resume somente à ideia de poupar, mas também de investir no futuro, como a noção de empreendedorismo que pode ser estimulada pelos pais, segundo a diretora do Ibef. 

“Se eu quero algo melhor (além do que o meu pai pode oferecer), eu vou construir algo para mudar isso. Assim, você passa a desenvolver mais autonomia no jovem. Passando isso para os filhos desde cedo, eles entendem que também precisam ajudar no meio familiar e isso faz toda a diferença. No fim das contas, não é só dinheiro, mas além disso”, conta Paiffer.

Os destaques das últimas 24h resumidos em até 8 minutos de leitura.
Assuntos Relacionados