Juventude sem saída

Escrito por Redação ,
Com quase 36 milhões de jovens, o Brasil detém a 5ª maior população juvenil do mundo. Porém, eles não têm recebido do poder público a devida atenção, sobretudo no que diz respeito ao mercado de trabalho. Explorados, sem uma política de emprego que contemple as suas reais necessidades, os jovens ficam com a auto-estima comprometida. Ao longo de 25 anos, o que se pode perceber é que, cada vez mais, a nação mergulha numa estagnação econômica, cujos índices de crescimento de 2,5% ao ano não são suficientes para gerar emprego. Embora o país tenha exibido com orgulho, durante o século XX, a fama de ser o ´País do Futuro´, tendo na sua juventude o seu maior trunfo para conseguir se firmar entre as maiores economias do mundo, hoje, esse sonho caiu por terra. A geração dos anos 80 é uma das mais penalizadas. A partir de hoje, o Diário do Nordeste, inicia uma série de reportagens que apontam as saídas encontradas pelos jovens desta geração.

Os jovens estão sem perspectivas de emprego e de seguir suas vidas em um país que não oferece alternativas

´O Brasil não está expandindo as ocupações e os jovens ficam impossibilitados até mesmo de formar famílias´. A análise é de Marcio Pochmann, economista e professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), completando que esse quadro é motivo de constrangimento entre as novas gerações que acabam ficando mais tempo na casa dos pais. Daí, continua, acabam procurando ´fugas´ para essa realidade como as drogas, criminalidade ou entram em depressão.

Conforme Pochmann, embora esses jovens acabem sendo vítimas de uma ´realidade social´, não impede uma sensação de fracasso termine invadindo as suas vidas. Eles acham que são incapazes. ´É como se existissem empregos e eles não tivessem qualificação, gerando uma depressão profunda´. O especialista chama a atenção para o papel que os jovens têm no processo de desenvolvimento da nação brasileira.

Por isso, defende: ´É importante a construção desse diálogo com o futuro que foi interrompido pela falta de trabalho´. As transformações ocorridas no mundo do trabalho a partir do final da década de 80 repercutiram no mundo do trabalho, sobretudo com a diminuição do mercado. Mardônio Costa, diretor de estudos e pesquisas do IDT, complementa, que ´o impacto foi grande ao longo dos anos de 1990´, citando a globalização da economia brasileira e a abertura ao mercado externo.

A reestruturação produtiva da empresa nacional produziu efeitos danosos à economia. Além do desemprego, o mercado ficou mais seletivo, exigente, penalizando os jovens, principalmente os que nasceram a partir de 1980.

´A situação chega a ser cruel´, arremata Marcio Pochmann, afirmando que alguns desses jovens sequer conseguem, mesmo com maior grau de escolaridade, galgar a condição social adquirida pelos pais, alguns só com o Ensino Médio. O mais grave é que os programas do governo, no sentido de resolver o problema, deixam muito a desejar.

´Espero que o Governo Federal consiga oferecer uma política para a juventude mais articulada´, destaca, fazendo referência ao fracasso dos programas Primeiro Emprego e o Escola de Fábrica. É inegável o reconhecimento da temática no primeiro mandato do Governo Lula, mas as políticas desenvolvidas são fragmentadas.

Conforme Marcio Pochmann, o desemprego é apenas um dos aspectos de uma crise mais geral. Existem outros como a família, e a própria auto-estima dessa juventude. Aliás ela é uma das principais vítimas da falta de emprego no País completando a efervescência do caldeirão.

Falta identificação com os pais, vindos de gerações mais velhas que conseguiam pelo menos estabilidade, fazer carreira no emprego e se aposentar. ´Mesmo aqueles com maior escolaridade não conseguem uma referência´, ou seja, quando conseguem trabalho é ganhando pouco e sem possibilidade de ascensão profissional ou aposentadoria, já que muitos estão na informalidade.

Geração desocupada

De acordo com Afonso Tiago Nunes de Sousa, assessor de Juventude da Prefeitura Municipal de Fortaleza (PMF), ´existe uma geração nascida a partir dos anos 80 que não está conseguindo entrar no mercado´. Na sua opinião, o poder público tem limitações para alterar essa realidade, citando a abertura econômica, apontada como um dos fatores responsáveis pelo fechamento de milhares de postos de trabalho.

Enquanto Mardônio Costa ressalta que, nos últimos 25 anos, a economia tem crescido uma média de 2,5 ao ano, percentual considerado insuficiente para a geração de emprego. Entretanto, admite que está havendo sinais de recuperação nos últimos quatro anos. Mas a estagnação dos anos de 1980, conhecida como a ´década perdida´, provocou um verdadeiro vendaval na economia brasileira, cujas conseqüências são sentidas até hoje.

Iracema Sales e Filipe Palácio
Repórteres

FIQUE POR DENTRO
Brasil é ainda o País do futuro?

O Brasil embalou o sonho de ser o ´País do futuro´ durante o século XX, tendo na sua juventude a esperança para tornar a fantasia realidade. Passados os anos do ´milagre econômico´, cujo auge foi a década de 1970, em pleno regime militar (1964-1985), quando os genereais-presidentes usaram a expressão como propaganda da ditadura, o que restou foi uma inanição que se agrava ano a ano.

Porém, antes dos anos 70, outro vento promissor varreu o País. Foi na década de 50, durante o governo de Juscelino Kubitschek (1956-1961), quando Brasil viveu a euforia desenvolvimentista. O lema de JK era crescer 50 anos em 5.

Menos sorte têm os filhos da geração 80 que não conseguiram ver um surto de crescimento. Até agora, não viram o Brasil dar um passo concreto rumo um novo milagre. Desde ´a década perdida´, como foram apelidados os anos 80, os brasileiros, filhos de uma crise que talvez tenha raízes históricas, herança do Brasil colonial, amargam a ausência de desenvolvimento econômico capaz de gerar, pelo menos, emprego.

Foi mesmo na chamada ´década perdida´, quando o Brasil começou a mergulhar num processo de estagnação econômica. No final dela, passou por uma reviravolta com a abertura econômica, iniciada no governo Collor, quando o País começava a entrar na economia global.

Nos anos de 1990, na era FHC, o Brasil vira de ponta-cabeça com a consolidação de vez da política neoliberal, representada pela venda de estatais dos setores de energia, telecomunicações e bancos. Os pais dos filhos da geração 80 que, até então, acalentavam o sonho de um futuro garantido, porque estavam nos seus empregos em estatais ou bancos, a maioria tendo ingressado por concurso público, foram para o olho da rua engrossar a lista do mercado informal. Neste ano, o presidente Lula acenou com o esboço de novo milagre econômico: o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).
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