Interior perde força, e potencial de consumo se concentra na RMF

Segundo IPC Maps, que mede o consumo, o Ceará foi o 10º maior mercado do País. Já Fortaleza ficou em sétimo lugar. No entanto, diferentemente do que ocorre no Brasil, o interior cearense vem perdendo potencial nos últimos anos

Escrito por Hugo Renan do Nascimento , hugo.Renan@diariodonordeste.Com.Br
Legenda: Despesas com alimentação consomem grande parte do orçamento doméstico cearense, o que é negativo para o mercado, já que não sobra o suficiente para consumir outros bens.
Foto: Walter Craveiro

Os municípios do interior do Ceará continuam perdendo participação no nível de consumo do Estado. De 2005 a 2017, o índice acumulou altas sucessivas, mas a partir de 2018, a Região Metropolitana de Fortaleza (RMF) tem ganhado força neste quesito. Segundo Marcos Pazzini, diretor da IPC Marketing, há 14 anos, o interior representava 36,3% de tudo que era consumido pelos cearenses. "Em 2010, essa participação subiu para 38,1%, em 2015 aumentou para 44,5%, e em 2018 cai para 40,5% e se mantém nesse patamar neste ano".

De acordo com ele, os números do IPC Maps 2019 mostram que a Região Metropolitana ainda tem um poder de consumo muito forte em relação ao restante do Estado.

"Isso significa que o interior do Ceará está sentindo mais os efeitos da crise que vem passando o País desde 2015, e a RMF tem respondido de forma mais rápida. Muito provavelmente por conta da abertura maior de empresas e dos fluxos turísticos que a gente observa do Brasil para Fortaleza que, de certa forma, tem ajudado a RMF e o Ceará a ter uma posição significativa no cenário de consumo tanto regional como nacional", explica Pazzini.

Entre as cidades cearenses com maior poder de consumo, cinco estão localizadas na RMF, outras duas da região Norte, mais duas do Cariri e uma No Centro-Sul. Na ordem se encontram Fortaleza, Caucaia, Juazeiro do Norte, Maracanaú, Sobral, Crato, Iguatu, Maranguape, Itapipoca e Aquiraz. Apenas a Capital está na lista dos 50 municípios do Ceará com os maiores IPC Maps do País.

Além disso, o relatório aponta que, ao contrário do que acontece na média do Brasil, onde o interior vem ganhando participação em relação às regiões metropolitanas dos estados, no Ceará isso ocorre de forma lenta. "Enquanto no Brasil como um todo, o interior já ultrapassou as capitais em termos de participação de consumo, no Ceará isso não acontece".

O IPC Maps também indica que houve queda do Estado na participação no cenário nacional, com potencial de consumo de R$136,3 bilhões.

"No ano passado, o Estado foi responsável por 2,97% de tudo que foi consumido no País. Esse ano vai ser responsável por 2,91%. Isso significa que de cada R$100 gastos pelos brasileiros R$2,91 vai ser gasto pela população do Ceará como um todo. No ranking dos estados brasileiros, o Ceará mantém a posição de 2018 e é o 10º maior estado brasileiro neste quesito. E no Nordeste, é o terceiro, atrás da Bahia e de Pernambuco".

Segundo o diretor, a abertura de empresas cearenses é bem significativa. "Houve uma abertura de 78.247 novos estabelecimentos - com uma predominância forte do setor de serviços, com 40 mil novas empresas entre os dois anos. E um destaque também para o setor de comércio, com 26.800 novas empresas abertas no Estado entre 2018 e 2019", acrescenta.

Consumo na Capital

Fortaleza configura como o sétimo maior mercado do País, atrás de São Paulo (SP), Rio de Janeiro (RJ), Belo Horizonte (MG), Brasília (DF), Salvador (BA) e Curitiba (PR), com potencial de consumo em 2019 de R$56,8 bilhões. A cidade manteve a posição entre os anos de 2018 e 2019, mas registrou queda de participação.

"Nós verificamos que, realmente, houve uma queda de participação de Fortaleza no cenário nacional. No ano passado, a Capital foi responsável por 1,34% do que foi consumido no Brasil e, em 2019, vai ser responsável por 1,21% do consumo nacional. Apesar disso, que aconteceu de forma generalizada no Nordeste, Fortaleza continua sendo o sétimo maior mercado do País e o segundo do Nordeste, atrás apenas de Salvador".

Pazzini explica ainda que a Capital não cresceu neste ano porque os domicílios de classes A e B, que fazem parte da parcela da população mais rica, perderam participação, tanto na quantidade de domicílios como no consumo total. "Apenas houve crescimento nas classes C e D/E, que são as classes média e de baixa renda. Então quando você tem crescimento nas classes mais baixas, tem uma tendência de perder participação".

Tradicionalmente, Salvador é o maior mercado do Nordeste, mas Fortaleza tem reduzido nos últimos anos a diferença para a capital baiana.

"Salvador participa com 1,62% de tudo que é consumido no Brasil. Fortaleza é responsável por 1,21% então a diferença não é tão grande. E está bem a frente de Recife, que é responsável por 0,8% de tudo que vai ser consumido no País. A posição de Fortaleza é confortável e dificilmente vai ser alcançada por Recife ao longo dos próximos anos. E se mantiver um padrão de crescimento significativo tende a se aproximar mais de Salvador e de repente galgar o primeiro posto do Nordeste".

Hábitos

Tanto o Ceará quanto Fortaleza possuem hábitos de consumo muito similares. Segundo o diretor, há uma forte participação das despesas com alimentação no domicílio, alimentação fora do domicílio, pagamento de dívidas de compras feitas a prazo, que são categorias básicas de consumo. "Essas despesas são básicas e consomem grande parte do orçamento doméstico. E este não é um cenário positivo. Pelo contrário, você tem um valor de renda definido e se você compromete boa parte do seu rendimento com despesas básicas obviamente sobra menos para você comprar produtos que não são de primeira necessidade", acrescenta.

Na análise de Pazzini quando há esse comprometimento do orçamento doméstico muito forte não sobra dinheiro para comprar outros bens. "Isso explica também um pouco do cenário de crise que nós estamos passando porque o consumidor não tem folga no orçamento doméstico. O consumidor tem um certo medo de fazer aquisição de produtos para pagar a prazo porque ele não sabe se amanhã o emprego dele está garantido. Essa incerteza compromete a confiança do consumidor".

Para ele, o consumo e a economia só vão voltar a crescer em níveis satisfatórios quando houver um menor comprometimento da renda do trabalhador com o pagamento de despesas básicas. "Então esse comportamento de consumo com essas despesas muito pesadas no orçamento da população é negativo", avalia.

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