Indústria cearense prevê crescer até 2,5% neste ano

Andamento das reformas da Previdência e Tributária e desvalorização cambial, que contribui para as exportações, são fatores que impulsionam a produção no setor em 2019

Escrito por Hugo Renan do Nascimento , hugo.Renan@diariodonordeste.Com.Br
Legenda: Metalurgia, produtos de metal e químicos estão entre setores que devem apresentar maiores expansões no ano
Foto: FOTO: JOSÉ LEOMAR

Após crescer 2,9%, no acumulado de janeiro a julho deste ano, a produção industrial cearense deve crescer até 2,5% em 2019. Segundo estimativa da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec), a tendência é que haja uma efetiva estabilidade nos números de produção.

"Uma retomada de investimentos agora vai gerar impactos positivos no ano seguinte. A tendência é que haja essa estabilidade, ou seja, um crescimento de 2% a 2,5% da indústria de transformação cearense. Um resultado ainda melhor que a indústria nordestina e brasileira, mas ainda longe do que nós esperamos e precisamos, até para poder compensar as sucessivas quedas de produção que o Estado e o País viveram em decorrência da crise econômica", analisa o economista da Fiec, Guilherme Muchale.

De acordo com ele, entre os setores que devem ter crescimentos sustentáveis neste ano estão a metalurgia, produtos de metal, produtos químicos, fabricação de máquinas, aparelhos elétricos e setor calçadista. "Um exemplo é o setor de metalurgia, que é um investimento que acaba refletindo ao longo dos últimos dois anos. O setor de produtos químicos apresentou um fim de 2018 mais complicado, mas vem registrando números positivos nesse primeiro semestre".

Muchale diz ainda que a fabricação de máquinas e equipamentos elétricos está muito focada nas exportações, o que favorece o aumento de produção. "O setor calçadista vem também apresentando forte crescimento. De um lado, ele vem sendo beneficiado pela desvalorização cambial, mas, por outro, para o mercado interno a gente não deve ter uma recuperação rápida. A tendência é que este setor tenha continuidade nas taxas de crescimento", avalia.

Para o economista Alex Araújo, as indústrias siderúrgica (metal-mecânico) e de alimentos e bebidas devem assinalar resultados positivos até o fim deste ano.

"A gente tem visto uma mudança estrutural significativa no formato da indústria do Estado, com peso muito forte da siderúrgica, e isso vai garantir uma estabilidade nesses números. Além disso, por se tratar de fim de ano, você tem naturalmente um aquecimento da demanda. Aquelas indústrias ligadas à demanda local, como a de alimentos, tende também a auxiliar a produção, então eu vejo um quadro favorável", afirma.

Resultados

Conforme a Pesquisa Industrial Mensal do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Ceará registrou o melhor desempenho do Nordeste no acumulado deste ano (de janeiro a julho). Pernambuco (-1,6%) e Bahia (-2,1%) tiveram quedas no período.

Entre as maiores altas estão a fabricação de produtos de metal, exceto máquinas e equipamentos (217,1%), fabricação de outros produtos químicos (8,2%) e fabricação de máquinas, aparelhos e materiais elétricos (6,3%). "Ainda não dá para falar em recuperação contínua desses indicadores. Ainda assim, são resultados positivos em um período que a gente vê resultados negativos em outros segmentos industriais. Com a aprovação da reforma da Previdência, que é esperada para os próximos meses, e as discussões acerca da reforma Tributária, eles acabam sendo sinalizadores importantes de uma estabilidade do cenário econômico ao longo dos próximos anos", avalia Muchale.

Segundo ele, no caso específico do setor de fabricação de produtos de metal, a explicação pela alta de mais de 200% é meramente estatística. "Esse segmento apresentou uma queda de mais de 50% em 2017, então a base de comparação do volume produzido era muito baixa. É um setor que enfrentou uma situação bem complicada durante a crise e que foi afetada pela greve dos caminhoneiros no ano passado", explica.

Já as maiores quedas foram nos produtos derivados de petróleo (-11,8%), produtos têxteis (-9,9%), alimentícios (-6,5%) e confecção (-5,9%). "Eu acredito que grande parte dessa redução seja explicada pelo aumento dos custos de transporte ligado ao tabelamento do frete e pela retração do mercado consumidor interno. E são produtos que, muitas vezes, a matéria-prima vem de fora, como o setor têxtil, que traz o algodão do Centro-Sul do País".

Para o consultor de petróleo e gás, Bruno Iughetti, a queda na produção dos produtos derivados de petróleo pode ser entendida como um efeito do aumento dos veículos flex e pela queda de consumo. "Efeito sazonal. Se fazem sentir em alguns meses do ano. O consumo tende a permanecer em queda. O próprio consumidor que tem abastecido menos e o preço da gasolina mais alto", explica.

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