Incertezas regem os rumos da economia

Novas denúncias de corrupção desfizeram expectativas de haver estabilidade para retomar avanço

Escrito por Yohanna Pinheiro - Repórter ,

As denúncias envolvendo o presidente da República, Michel Temer, na noite da última quarta-feira (17) despedaçaram as expectativas do mercado de haver alguma estabilidade política e econômica no Brasil. Após demonstrar alguns sinais positivos, como queda da inflação e da taxa de juros, além da maior confiança de empresários e consumidores, a tendência é que o cenário econômico volte a piorar enquanto não houver maiores definições no âmbito político.

LEIA MAIS

.Temer teria adiantado corte de juros à JBS; Banco nega

.Setor produtivo mostra apreensão com o futuro

.'Reformas da Previdência e da CLT não têm como avançar'

.Dólar dispara mais de 8%; maior alta em 18 anos

.JBS teria comprado grande volume

.Combustível: preço pode ter aumento

.Unidade do Grupo no Ceará segue operando

O primeiro impacto foi sobre as bolsas e o dólar, em um dia de pânico no mercado financeiro. De acordo com o professor Paulo Matos, da Pós-Graduação em Economia (Caen) da Universidade Federal do Ceará (UFC), a reação tem fundamento e deve continuar agindo nos próximos dias, tendo em vista o aumento dos riscos. "Quando a incerteza política é o catalisador de uma reação dessas é terrível, porque não há nada que se possa prever a curto ou médio prazo. Temo um maio terrível para a bolsa", aponta Matos.

Para ele, a incerteza é ainda maior do que nas vésperas do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, há pouco mais de um ano. "Não foi uma notícia do tipo 'saiu um presidente e entra o vice'. A gente não faz a menor ideia do que vai acontecer, se o presidente vai permanecer, se vai acontecer eleições indiretas, diretas, quem são os candidatos, se a equipe econômica permanecerá. Não há como 'chutar' em nenhuma direção", completa o professor da UFC.

Ainda no curto prazo, outro efeito esperado é a paralisação do Congresso em relação às reformas da Previdência e trabalhista, que estavam sendo tocadas pelo governo Temer como medida para reequilibrar as contas do País. Isso é reflexo, de acordo com a professora de economia Juliana Inhazs, da Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado (Fecap), de mais uma saída das questões econômicas do primeiro plano para dar espaço à política.

"Isso é negativo porque retarda as reformas, se acontecerem ainda esse ano, o que é improvável", aponta a professora.

Destacando que o ambiente econômico estava pautado na aprovação das reformas, o professor Paulo Matos destaca que todo o fundamento "vai embora" e só resta incerteza. "Não se sabe se a equipe econômica permanece. Se entrar outra, até que se inteire e ganhe confiança do mercado, vai demorar muito".

Por outro lado, o economista Marcelo Lettieri, que também é vice-presidente do Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal do Brasil (Sindifisco) - Delegação Sindical no Ceará (DS-CE), avalia que as reformas não teriam efeitos econômicos a curto prazo nas contas públicas. Ele acrescenta ainda que as decisões econômicas por parte do governo federal também devem ficar suspensas durante os dias de mais instabilidade política.

Lettieri aponta ainda que a ideia do mercado de que havia uma melhora do ambiente econômico estava equivocada, uma vez que, na avaliação dele, a recuperação no primeiro trimestre havia sido "muito modesta".

"Primeiro, que tinha uma base de comparação muito ruim, do ano passado, e estavam se apegando à ideia de que a inflação ter caído para menos que a meta era algo bom. Despencou rapidamente porque a recessão está forte", aponta o economista Marcelo Lettieri.

Indicadores

Outra incógnita é em relação ao ritmo de redução da taxa básica de juros (Selic), que está em 11,25% e era prevista para encerrar o ano no patamar de 9%. Enquanto a professora Juliana Inhasz avalia que a o ritmo de queda deva diminuir em relação ao que estava sendo implementado pelo Banco Central, mas não o suficiente para travar a queda da taxa, Marcelo Lettieri avalia que a Selic deve permanecer como está, sendo difícil reduzir ainda mais. O economista Bruno Alberto, membro do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças do Ceará (Ibef-CE), explica que, nesse momento, é possível que o Banco Central mantenha a taxa Selic mais elevada mesmo em um cenário de inflação baixa para compensar a fuga de investimentos do País. "A expectativa é que pare tudo novamente (na economia), como já aconteceu no ano passado", diz.

Já em relação à variação do Produto Interno Bruto (PIB), os economistas consultados pela reportagem avaliam que deve permanecer dentro das estimativas anteriores, entre 0% e 1% no ano. No entanto, Lettieri avalia que, se não houver um desfecho rápido para o imbróglio político e Temer tente se manter no cargo, a probabilidade é maior de que a variação do PIB feche mais um ano em queda.

Cortina de fumaça

Para Juliana, o cenário é de um País em meio a uma fumaça intensa, de forma que não dá para identificar onde está a porta de saída. "Eu não acredito que as nossas condições piorem muito. O que acontece é que a gente ainda não tinha começado a dar passos para frente, nós só desaceleramos os passos para trás. O risco é que o País continue dando passos atrás", lamenta.

Cenário desafiador 

"Quando a incerteza política é o catalisador de uma reação dessas é terrível, porque não há nada que se possa prever"

Paulo matos
Professor da Pós-Graduação da UFC

"O que acontece é que a gente ainda não tinha começado a dar passos para frente, só desaceleramos os passos para trás"

Juliana Inhazs
Professora de Economia da Fecap

"Estavam se apegando à ideia de que a inflação ter caído era algo bom. Despencou porque a recessão está forte"

Marcelo Lettiere
Vice-presidente do Sindifisco-CE

"A expectativa é que pare tudo novamente (na economia), como já aconteceu no ano passado"

Bruno Alberto
Economista do Ibef-CE

Os destaques das últimas 24h resumidos em até 8 minutos de leitura.