Fraport investirá R$ 1 bi em obras do Aeroporto

Ao Diário do Nordeste, a executiva contou detalhes sobre as dificuldades geradas pelo impasse judicial que atrasará em cinco meses a conclusão dos trabalhos

Escrito por Yohanna Pinheiro - Repórter ,

A Fraport investirá cerca de R$ 1 bilhão nas obras de reforma e ampliação do Fortaleza Airport até o término da fase I-C do contrato, em 2021. Antes previsto em R$ 800 milhões, a revisão incluiu custos como design e gerência de projetos, além de reflexos do atraso provocado pelo imbróglio judicial das obras inacabadas, deixadas pelo consórcio anterior.

Impasse este que a empresa só veio a saber em outubro, cerca de dois meses depois de assinar o contrato de concessão do terminal com a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), e que tornou impraticável a entrega da obra no prazo de outubro de 2019. Agora, a Fraport trabalha com o prazo de maio de 2020 para a entrega do equipamento e vai renegociar o contrato com a agência.

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No comando de toda essa operação, a presidente da Fraport Brasil, Andreea Pal, oficializou ontem (19) o início das obras, na cerimônia de lançamento da pedra fundamental da expansão do Aeroporto, mas elas já haviam começado no fim de abril, após perícia judicial. A concessionária assumiu um risco e espera impulsionar a movimentação do terminal.


Como foi a experiência da Fraport no Brasil até agora?

Foi um grande prazer entrar no mercado brasileiro, a Fraport estava tentando por muitos anos desenvolver um projeto aqui. Depois disso, um período muito difícil começou porque o prazo que a Anac definiu para o projeto é extremamente apertado, foi um trabalho muito intenso até assinar o contrato de concessão. Por outro lado, tivemos que começar intensivamente a construir o projeto. Além disso, a gerência estava envolvida em outro projeto, nossa COO, Sabine Trenk, estava vindo da China, e eu estava na Rússia, e nós precisávamos de um tempo para finalizar nossos projetos lá e mudar para o Brasil. Por um tempo, foi um duplo trabalho.

Nós reunimos todo o nosso time em alguns meses e, em agosto, começamos a pensar o projeto mesmo. Finalmente, no dia 2 de janeiro, passamos à frente da administração do Aeroporto. Foi um grande esforço, eu nem consigo acreditar que nós conseguimos a tempo sem nenhum problema.

E no Aeroporto de Fortaleza?

Ficamos sabendo em outubro que o canteiro de obras não estava com acesso liberado, não sabíamos antes do leilão. Isso foi uma grande surpresa negativa. Poderia ter levado cinco, sete anos. Foi um ponto de grande estresse para nós, porque não sabíamos quanto tempo levaria para resolver e nós tínhamos que tomar uma decisão de continuar o projeto, contratar a construtora, ou parar e esperar o resultado final.

Ao fim, decidimos continuar para garantir que estaríamos prontos assim que fosse possível (realizar as obras), mas estava fora de questão concluir a tempo. Tentamos diminuir esse atraso ao máximo que podíamos e assumimos um risco considerável ao contratar a construtora e todo o equipamento necessário, afinal, naquela época nós não sabíamos quando esse processo terminaria. Foi uma "aventura".

Qual o impacto dessa situação sobre o planejamento?

De outubro do ano passado até abril, cerca de seis meses. Mas poderia ter sido maior, porque se não tivéssemos a construtora e os equipamentos já contratados, teríamos começado somente agora, o que seria mais três ou quatro meses.

Ainda será possível atender o prazo de outubro de 2019?

Não. Estamos prevendo o fim das obras para maio de 2020.

A empresa vai renegociar o contrato com a Anac?

Estamos em processo.

O Aeroporto está preparado para o aumento de voos?

Quando nós terminarmos a primeira fase da expansão, teremos capacidade suficiente por um bom tempo para lidar com todas as solicitações das companhias, mas precisamos fazê-lo.

Mas a expansão ainda deverá levar alguns anos.

As companhias aéreas não estão crescendo de hoje para amanhã. Temos alguns períodos de pico, mas temos vários slots entre esses momentos em que o aeroporto não é tão movimentado. A questão é em que momento do dia os voos adicionais estão vindo. Definitivamente, há espaço.

Há empresas interessadas além das que já operam aqui?

Há interesse, mas todos estão observando o que os concorrentes estão fazendo. Temos Gol e Latam, que já deixaram claro que querem ampliar o tráfego aqui, e concorrentes vão esperar e ver como isso se desenvolve, porque ninguém quer entrar em um mercado que já está ocupado. Mas estamos conversando. Acho que podemos ir ao mercado mais agressivamente após terminarmos a construção do terminal.

Como o Aeroporto se coloca em termos de concorrência no Nordeste?

Fortaleza tem uma localização ideal, porque é o ponto mais próximo da Europa e o que importa é, de fato, o custo do combustível que as linhas aéreas precisam comprar na Europa para vir para cá, por isso estamos numa posição muito estratégica. E essa é a razão pela qual Air France-KLM e Gol decidiram desenvolver o hub em Fortaleza. Além de, claro, por haver fantásticas regiões turísticas aqui.

Como a empresa observa os resultados do Aeroporto?

Foi um crescimento decente que pudemos observar até agora em termos de número de passageiros e estamos tentando aumentar a capacidade do Aeroporto de Fortaleza, além de continuar a desenvolver o hub. O Aeroporto será um hub regional porque está, naturalmente, em um bom lugar. Se não estivéssemos esperançosos com ele, não estaríamos investindo todo esse dinheiro no Aeroporto.

O investimento de R$ 800 milhões está consolidado?

Quando assinamos o contrato em janeiro, informamos à imprensa que este seria o valor do contrato de construção civil e equipamentos. No total, teremos quase R$ 1 bilhão, porque é preciso contar design, gerência de projeto, e tudo junto fica por volta de R$ 1 bilhão até terminarmos as fases I-B e I-C. Se tudo for de acordo com os planos, poderemos estar prontos antes do prazo final da fase I-C, que é outubro de 2021.

Haverá a divulgação oficial do projeto do Aeroporto?

Não. Será uma extensão e um píer, não será um aeroporto completamente novo. E está vindo de forma rápida, então em poucos meses será possível ver, porque na maior parte do tempo você constrói dentro, não fora. Então o prédio subirá muito em breve e o trabalho acontecerá na parte de dentro. Quanto aos acessos viários, ainda estamos no processo de design, não está pronto.

Como os aeroportos de Fortaleza e Porto Alegre se integram à estratégia da companhia?

A Fraport está crescendo mundialmente. No setor de aeroportos, você vai para onde há oportunidade e o Brasil é um lugar para o qual a Fraport sempre quis ir, porque acreditamos no desenvolvimento do País. É um território enorme, onde a aviação tem um importante papel. O Nordeste e o Sul são muito bem vindos ao nosso portfólio. Entre as diferenças de Fortaleza e Porto Alegre, além do clima, é que são públicos diferentes, já que aqui há mais passageiros internacionais e Porto Alegre é mais doméstico.

A Fraport tem interesse na nova rodada de concessões?

Nós estamos observando. Se Fraport irá participar ou não, veremos, mas vamos começar o processo de due dilligence e meus colegas em Frankfurt estão olhando todos os blocos, não há decisão ainda.

A economia brasileira é um fator de preocupação?

A economia ora está em cima, ora está abaixo. A concessão (dos aeroportos) é por 25 longos anos. Então, a economia varia e a indústria de aviação já provou estatisticamente que sempre cresce. É por isso que temos confiança que o Brasil vai se recuperar e que tem um bom potencial para o futuro.

*Presidente da Fraport Brasil

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