Escalada do dólar deve afetar preço de alimentos e combustíveis

Impacto da moeda americana sobre insumos de itens da cesta básica e de derivados do petróleo deve aumentar preços para o consumidor e, por consequência, reduzir o poder de compra da população

Escrito por Redação ,
Legenda: Preços dos alimentos dispararam nos últimos 12 meses, sob influência do crescimento nas exportações de milho e soja e alta do dólar, impulsionando as commodities
Foto: Daniel Aragão

Com o fechamento do mercado no fim da tarde de ontem (30), agosto registrou a maior alta mensal do dólar desde setembro de 2015, quando a moeda tinha avançado 9,09% no mês em que o Brasil perdeu a classificação grau de investimento pela S&P Global Ratings e pela Moody's. Com leve recuo de 0,43% ao fim desta sexta-feira, cotado R$ 4,14,o dólar acumula alta de 8,45% no mês.

De acordo com especialistas consultados pela reportagem, a escalada da moeda americana pode refletir, principalmente, nos preços dos combustíveis e dos alimentos.

A economista Thaís Cattani, destaca que, nesse cenário, o poder de compra do consumidor recua. "A principal diferença é sentida direto na inflação, porque o dólar influencia no preço dos insumos que estão presentes na nossa cesta básica, que não necessariamente estão contidos nela, mas fazem parte da cadeia produtiva de alimentos, como a carne, por exemplo. E isso traz a perda do poder de compra do consumidor, que afeta diretamente o comércio", comenta.

Para o economista Alex Araújo, o efeito da alta do dólar impacta rapidamente toda a cadeia produtiva do Brasil e do Ceará. "O País importa trigo, milho e soja. E isso acarreta um efeito em cadeia no processo produtivo até chegar aos supermercados ou a outros setores que dependem também desse repasse", diz.

Combustível

Araújo salienta que, embora o Brasil seja autossuficiente na produção de petróleo, o preço atrelado ao dólar acaba refletindo nas bombas de combustível. "O consumidor sofre com produtos que têm preço com referencial no dólar, como é o caso do petróleo, mesmo tendo autonomia e sendo um forte produtor em relação ao mundo", comenta.

Segundo Thaís Cattani, o combustível é um dos primeiros produtos em que o consumidor já sente o preço mais elevado. "Agora, o impacto é direto. Nós sentimos logo essa variação do câmbio na gasolina. E é um produto que faz parte do consumo dos brasileiros", diz Cattani.

Os cearenses que pretendem viajar ou têm dívidas também pagarão mais caro, alerta Alex Araújo. "Na hora de converter o real com o dólar, o consumidor acaba pagando mais caro. É importante acompanhar o ritmo do mercado para se programar".

Cenário preocupante

A guerra comercial entre Estados Unidos e China cresceu na semana passada, quando o presidente Trump anunciou imposto adicional sobre cerca de US$ 550 bilhões (R$ 2,24 trilhões) em produtos da China, horas depois que Pequim divulgou tarifas retaliatórias sobre US$ 75 bilhões (R$ 306 bilhões) em produtos americanos. Araújo explica que a escalada do dólar tem se dado pelo fato de a maioria dos países estarem com uma taxa de juros em um patamar mais baixo, não oferecendo rendimentos tão altos. "E com ameaça da guerra comercial, os investidores têm procurado o dólar por questão de segurança".

Sobre as perspectivas futuras, o economista avalia que a valorização da moeda deve permanecer entre os desentendimentos entre as duas potências. "Parece que a relação dos Estados e Unidos com China está difícil de ser resolvida rapidamente. Do outro lado, o Banco Central tem entrado de forma ativa, mantendo a paisagem do dólar 'sob controle'. Mas não sabemos até quando ele vai ter essa capacidade de fazer isso. Nessas últimas semanas, a crise se agravou muito", diz.

Para tentar manter o real valorizado, o BC começa, nesta segunda (2), uma nova rodada de atuações programadas, que devem somar US$ 11 bilhões ao longo do mês.

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