Empreender no Ceará é alternativa de recomeço para imigrantes

Ao todo, 548 estrangeiros estão cadastrados como microempreendedores individuais (MEIs) no Estado, dos quais 352 em Fortaleza, segundo dados do Portal do Empreendedor

Escrito por Carolina Mesquita , carolina.mesquita@diariodonordeste.com.br
Legenda: Ao chegar a Fortaleza, a venezuelana Dariana Jiménez tinha apenas R$ 0,30. Hoje, mantém um box de moda masculina
Foto: José Leomar

Dariana Jimenez, 20, se viu obrigada a largar a faculdade de Administração pela metade para trabalhar e permitir que os irmãos mais novos continuassem estudando. Com a dificuldade de conseguir emprego, a jovem veio da Venezuela para o Brasil apenas um mês depois de completar a maioridade. Escolheu Fortaleza por ser uma cidade parecida com a sua, Maturín, com clima quente, praiana e turística. Teve que pedir dinheiro na rua para conseguir chegar à capital cearense e, ao chegar, tinha apenas R$ 0,30 no bolso.

Sem ter terminado o ensino superior e com dificuldades para se comunicar, Dariana sobreviveu os primeiros dias em Fortaleza apenas da solidariedade dos cearenses. A primeira fonte de renda que conseguiu foi como doméstica. "Trabalhava dia e noite e ganhava muito pouco. Dormia na casa da minha patroa. Do salário, separava só o suficiente pra me manter e enviava o resto para minha família na Venezuela. Meu esposo também conseguiu um emprego como mecânico, mas ganhava por comissão e ele ainda não tinha quase nenhum cliente", conta.

O ingresso no mercado de trabalho brasileiro pode ser complicado e demorado para um estrangeiro. Obrigados a ter uma fonte de renda, eles acabam aceitando vagas fora de suas áreas ou até mesmo empregos informais. Quando nenhuma dessas alternativas se concretiza, o negócio próprio, valendo-se de habilidades diferenciadas dos locais, tem sido a saída. No Ceará, 548 estrangeiros já estão cadastrados como Microempreendedores Individuais (MEI), sendo 352 somente em Fortaleza, de acordo com dados do Portal do Empreendedor.

Depois de ser dispensada, Dariana começou a vender comida venezuelana perto de casa. Em poucas semanas, o produto deixou de ser novidade. Atualmente, a venezuelana mantém um box de moda masculina e seu marido conseguiu colocar a própria oficina. Desse esforço, eles já conseguiram tirar uma parte da família da Venezuela. "Graças a Deus, tudo está dando certo agora. Minha mãe está trabalhando como costureira e devemos colocar uma lanchonete para ela em breve". "Você tem carro? Se precisar de algum serviço pode falar comigo. Se estiver procurando algum produto masculino também é só passar no meu box", oferece Dariana.

Assistência

Ao chegar em Fortaleza, os imigrantes e refugiados podem receber a primeira assistência já no aeroporto, no Posto Avançado de Atendimento Humanizado ao Migrante. Após o pedido de visto ou de refúgio, os imigrantes devem ir à Superintendência do Trabalho para emitir a Carteira de Trabalho e Previdência Social.

"Chegando na ponta, no Sine/IDT (Sistema Nacional de Emprego/Instituto de Desenvolvimento do Trabalho), ele vai ser cadastrado e atendido como qualquer outro. Mas o que percebemos é que eles têm muito mais dificuldades para conseguir uma vaga, tanto pelo idioma quanto pelo preconceito das empresas", pontua Jidlafe Rodrigues, gerente da unidade do Centro do Sine/IDT.

Aqueles que optarem por abrir um negócio próprio têm de já estar com todo os documentos regularizados antes de procurar o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae).

"O que eles precisam, mais do que os brasileiros, é conhecer mais a atividade, o local e o público-alvo. Não necessariamente um negócio que dá certo no país de origem deles vai dar aqui. Então, nós os ajudamos a ter um foco maior, a fazer um plano de negócios, até para eles não perderem o investimento que fizerem", detalha Alice Mesquita, articuladora do Sebrae.

Produto exclusivo

O sírio Riad Alnasar, 28, veio ao Brasil para a Copa do Mundo de 2014. Com o agravamento da guerra no seu país, não conseguiu voltar. Realizando pinturas típicas da região arábica em paredes, tetos e caixas, ele deu continuidade ao ofício que já exercia. "Eu coloquei uma loja em São Paulo, depois me mudei para Florianópolis e estou há três meses em Fortaleza. Não passei por tantas dificuldades quantos outros sírios e não me considero um refugiado. Tenho conseguido viver muito bem", revela o artesão Riad Alnasar.

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