Educação financeira é saída para redução da inadimplência

Especialista em finanças e educador financeiro indicam que o aprendizado adquirido ao longo da infância é estratégia para ter adultos cujo consumo não extrapole os limites, diminuindo o número de devedores do País

Escrito por Redação ,
Legenda: Beto Barrocas educou os três filhos (Ranan, Mayra e Davi) para que eles pudessem lidar melhor com as finanças quando adultos
Foto: FOTO: THIAGO GADELHA

O Nordeste é a região líder do Brasil em reincidência de pessoas com dívidas em atraso, segundo dados do Serasa. Isso significa que mesmo limpando o nome, os consumidores voltam à inadimplência e, o Ceará, apresenta taxa de reincidência de 44,4%. Esses números, garantem especialistas, apontam dificuldades no consumo e na organização de gastos, que poderiam ser evitadas caso a educação financeira fosse estimulada na infância.

Conforme o Índice de Educação Financeira, estudo feito pelo Serasa em parceria com o Ibope, os jovens de 16 a 17 anos tem uma queda de 0,4% na educação financeira no País. Talvez os números fossem diferentes se as últimas gerações soubessem consumir. É o que aponta Reinaldo Domingos, presidente da Associação Brasileira de Educadores Financeiros. "Parte da população inadimplente é jovem e isso leva a necessidade de envolver nas crianças a vontade de aprender conceitos de educação financeira, que não é de um dia pro outro que se faz".

As utilizações de mesadas como modelo de aprendizagem podem ser uma boa saída. A ideia, segundo Domingos, é mostrar que os filhos podem ter "pequenas responsabilidades" para manusear o dinheiro e saber gastá-lo de forma responsável. "Muitos pais acreditam que o dinheiro não é assunto de criança. E isso é um grande engano. A criança aprende pelo exemplo que a gente dá para elas", diz Darla Lopes, diretora do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças no Ceará (Ibef-CE).

Dessa forma, ter estímulos na infância é uma das maneiras de a criança entender que nem sempre será possível ter tudo. "O desafio está no fato de as últimas gerações que não tiveram nenhum tipo de ensinamentos sobre finanças. Entre um adulto e uma criança, é mais fácil educar uma criança, porque ela é mais curiosa", revela Domingos.

Limites

Apesar de ter uma filha de apenas 2 anos, Diana Melo já pratica essas noções em casa. "A gente procura explicar que nem sempre a nossa filha terá tudo que deseja. Isso é uma lição de economia também, porque ela acaba aprendendo desde cedo com esses limites", observa a professora. Depois dos 8 anos de idade, os pais já podem oferecer mesada aos filhos, mas em quantias pequenas, indica o educador financeiro. "O ideal é oferecer três cofres: um pequeno, um médio e um grande. De acordo com o tamanho de cada sonho, nós depositamos mais. Alguns sonhos demoram mais, por isso o cofrinho é maior. E nunca se dá uma só moeda. Uma vai para o cofre e outra para o consumo. Isso dá equilíbrio", ensina.

Aprendizados

Desde os 13 anos, o estudante Davi Barrocas já começou a receber uma mesada de seu pai. O valor era em torno de R$20,00, mas com o passar do tempo, foi aumentando conforme a idade ia avançando. "A partir do momento que eu tive contato direto com dinheiro, eu pude perceber que poderia gastar parte de uma quantia 'X', que eu recebia mensalmente. Se eu tivesse algum plano de comprar algo mais caro do que eu tinha, eu precisava economizar", revela Davi, hoje com 18 anos.

O pai de Davi, o arquiteto Beto Barrocas, conta que sempre orientou os três filhos - Rena (28) e Mayra (8) - na questão financeira. "Eu tenho três filhos com as respectivas idades: 28, 18 e 8 anos. Com o Davi, eu dava uma mesada para ele tomar 'cuidado' com o dinheiro, mas ao mesmo tempo, não dava muito pra ele ter a consciência de batalhar para ele ter o dele", afirma.

Além da mesada tradicional, existem outros modelos que os pais podem adotar. A mesada voluntária, por exemplo, é quando os avós ou tios geralmente dão alguma quantia às crianças. Conforme o educador financeiro, nesse momento, os pais precisam dialogar e explicar que é importante separar uma quantia para consumo imediato e outra para ser poupada.

Além dessa, existem a mesada ecológica e a econômica. A primeira se define quando os pais estimulam hábitos sustentáveis em casa ou no condomínio, trocando brinquedos com outras crianças ou aprendendo a reaproveitar. Já a segunda é quando os pais que não podem doar mesadas periódicas. Nessas situações, pode- se ensinar noções de como economizar água ou luz e, se sobrar algum dinheiro, é possível separar alguma quantia destinada às crianças.

Livros e jogos como ajuda na tarefa de educar

Até os 8 anos, as crianças podem aprender noções de finanças sem o uso de dinheiro, segundo o educador financeiro Reinaldo Domingos. A leitura pode ser uma das opções que os pais podem utilizar para isso. Uma dica é o livro "Dinheiro compra tudo?", da educadora financeira Cássia D' Aquino. Na obra, o jovem aprende sobre as primeiras moedas do mundo. E, além disso, também entende a como montar um orçamento, começando pelas brincadeiras. Através do enredo, ela explica que todo consumidor tem direitos, inclusive as crianças, e que os seus desejos por brinquedos viram lucro. Além da leitura, as crianças também podem aprender brincando. O "Jogo da Mesada", é um tabuleiro que ensina sobre despesas, empréstimos e pagamentos. Outro exemplo é o "Monopoly", conhecido no Brasil como "Banco Imobiliário", que ensina a criança a ganhar uma renda a partir de investimentos em imóveis. A dica de especialistas é que os pais busquem em sites, como da Associação Brasileira de Educadores Financeiros, formas de ensinar sobre economia aos filhos.

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