Cultura de planejar o futuro é desafio no País

Maior parte dos brasileiros não estaria preparada para buscar regimes complementares de Previdência

Escrito por Redação ,
Legenda: Especialista defende a necessidade de ações governamentais de educação para a aposentadoria, sobretudo entre os mais jovens, uma vez que as gerações mais recentes não costumam pensar na renda quando saírem do mercado de trabalho
Uma das principais pautas a serem tratadas pela equipe econômica do próximo governo federal, a Reforma da Previdência exigirá uma forte adaptação da sociedade para alcançar a tranquilidade financeira na velhice. Mais que isso, especialistas preveem a necessidade de criação de uma política de educação previdenciária para que os cidadãos consigam ter alguma garantia de renda depois de deixar o mercado de trabalho. 

Na avaliação de Elenice Hass de Oliveira Pedroza, secretária geral do Instituto Brasileiro de Direito Previdenciário (IBDP), a maior parte dos brasileiros não possui a cultura de se preparar financeiramente para esse momento da vida. “(Hoje), não se pensa nem no regime público (INSS). E essa geração que está vindo pensa muito menos, é outra mentalidade, que não quer um emprego convencional”, alerta Pedroza. 

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Ela aponta que, nas propostas do governo, empurra-se a responsabilidade para os próprios segurados de buscarem regimes de previdência complementar a fim de garantirem valores necessários à sobrevivência. 

“Nem todo mundo tem essa possibilidade e, com isso, acaba-se impedindo acesso a certos benefícios. Transfere-se a eles a necessidade de contratar esses tipos de serviços”, ressalta, lembrando que o brasileiro não está preparado para isso. 

Complementar 

No Brasil, existem dois ramos da previdência complementar: a fechada, oferecido a uma entidade de classe ou a apenas funcionários de uma mesma empresa, por exemplo; e a aberta, que é oferecida ao público em geral por bancos e seguradoras. A primeira não tem fins lucrativos e os beneficiários participam da gestão dos recursos e das tomadas de decisão, o que não acontece no aberto. Segundo a secretária-geral, os regimes de previdência complementar fechada sofreram um forte baque com a Reforma Trabalhista e a terceirização da atividade-fim, que confirmam a tendência de redução de vínculos empregatícios, necessários para sustentar o modelo. 

“Esse segmento vai ter que se reinventar”, aponta. “Esse sistema é ideal porque capitaliza em favor dos participantes, enquanto no fechado o objetivo é o lucro dos bancos”, diz. 

Pedroza aponta que o regime de previdência privada aberto não é tão vantajoso. “Não falo que seja nem um regime de previdência. É um sistema financeiro, uma poupança, que é pouco vantajoso para quem faz. Há outros investimentos com melhor retorno, como Tesouro Direto, entre outros. As pessoas deveriam investir em si próprias e em educação financeira para isso”, afirma. 

Revisões constantes 

Para a secretária-geral do IBDP, ajustes na previdência são necessários constantemente, uma vez que está ligado às características da sociedade, que evolui de forma rápida. “A reforma tem que ser muito discutida, porque mexe em vários pontos, inclusive na própria economia. Vários municípios hoje dependem da renda da previdência”, destaca Pedroza, lembrando que muitos aposentados e pensionistas são provedores de famílias. 

Ela argumenta não ser suficiente aumentar a idade para se aposentar, uma vez que precisam ser consideradas as diferentes realidades das regiões brasileiras. “No mercado de trabalho, por exemplo, pode-se chegar a uma certa idade em que não se consegue mais emprego, nem está aposentado. Essa pessoa vai sobreviver como? E as diferentes expectativas de vida?”, questiona. “A reforma é necessária, mas não deve ser feita de maneira irresponsável. 

Opinião do especialista

Crise econômica prejudica os investimentos

A previdência privada é uma clara alternativa para que as pessoas não dependam tanto do regime público, mas o orçamento das famílias está muito apertado, já que estamos com o nível de desemprego muito alto, e com a inadimplência muito alta. Então, a contribuição para uma previdência privada, para receber o dinheiro lá na frente, acaba sendo prejudicado pela situação de crise e fica em segundo plano. Além disso, o mercado de previdência privada é muito regulado, até para proteger o investidor, então as margens não vão variar muito de um plano para outro, mas essa discussão, assim como a educação financeira, são muito importantes para o País.

Luiz Antônio Trotta
Executivo de finanças do Ibef

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