Crise perdura e mercado de trabalho estanca no Ceará

Quase oito mil vagas com carteira assinada foram encerradas no Estado durante os três primeiros meses do ano, segundo o Caged. Intensidade da queda surpreende especialistas

Escrito por Carolina Mesquita , negocios@verdesmares.com.br
Legenda: Para a entidade, a medida retira dos trabalhadores condições materiais mínimas para o enfrentamento do vírus e para a manutenção de condições básicas de subsistência e de saúde.
Foto: Foto: Agência Brasil

Com a contínua lentidão no cenário econômico do País, o mercado de trabalho segue sem reagir. Somente nos três primeiros meses do ano, o Ceará perdeu 7.965 postos de trabalho. O saldo é resultado da diferença entre as 92.830 admissões frente a 100.795 demissões no mesmo período, segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), divulgado ontem pela Secretaria Especial de Previdência e Trabalho do Ministério da Economia.

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O fechamento de vagas tem se dado de forma gradual desde dezembro. No último mês de 2018, foi observada a perda de 5.481 empregos. Em janeiro, o Estado registrou o fechamento de 4.982 vagas. Já em fevereiro, houve uma leve reação, registrando saldo positivo que chegou a 1.865 postos de trabalho.

Segundo o coordenador de Estudo e Análise de Mercado de Trabalho do Instituto de Desenvolvimento do Trabalho (IDT), Erle Mesquita, o resultado de março foi semelhante ao observado em igual mês dos anos 2016 e 2017, quando ele afirma terem sido registrados os piores resultados da década. “Embora seja um comportamento típico do período essa redução de postos, a intensidade com que se deu chama atenção”, avalia.

Em março do ano passado, o Estado havia conseguido alcançar um saldo positivo de 238 vagas. Em comparação com outros estados brasileiros, o resultado do mês passado deixou o Ceará no quinto lugar entre os que mais fecharam postos de trabalho no País, atrás somente de Pernambuco (-6.286), Rio de Janeiro (-6.986), São Paulo (-8.007) e Alagoas (-9.636).

“A expressividade desse resultado mostra a necessidade de termos políticas mais específicas para geração de postos de trabalho”, aponta o coordenador Erle Mesquita.

Crise econômica

A crise econômica que ainda perdura no Brasil é o motivo mais apontado para explicar a perda de vagas de trabalho no Ceará e em todo o território nacional. Para o secretário do Desenvolvimento Econômico e Trabalho do Estado do Ceará (Sedet), Maia Júnior, é a maior crise da história do País. 

“Ela já dura sete anos. O mercado não está conseguindo reagir. Todas as análises de recuperação feitas tanto pelo mercado quanto pelo governo têm se mostrado furadas. Uma taxa de crescimento tão baixa quanto a que estamos tendo não pode ter um resultado diferente, senão o de um baixo investimento privado na geração de novas oportunidades”, destaca o secretário.

Ele ainda avalia que a insegurança com as perspectivas do novo governo também têm fortes reflexos sobre a situação. “Essas discussões sobre as reformas necessárias e a falta de projetos apresentados têm interferido no processo de retração de investimentos privados, porque quem gera emprego no Brasil é o setor privado, não é o público. E o público, por mais boa vontade que tenha de equilibrar a crise, tem um cenário fiscal extremamente ruim na conjuntura geral”, aponta.

Maia Júnior ainda ressalta que a crise no Ceará só não é maior porque o Estado vem mantendo um nível elevado de investimentos.

Municípios

Concentrando quase metade do Produto Interno Bruto (PIB) e dos empregos do Estado, segundo Erle Mesquita, Fortaleza foi o município cearense que mais fechou postos de trabalho. Foram 5.192 vagas encerradas somente nos primeiros três meses deste ano. “Com uma concentração tão grande, é natural que o maior saldo, seja negativo ou positivo, esteja na Capital”, afirma Mesquita.

Municípios da Região Metropolitana (RMF) e localidades do interior do Estado mais industrializadas também sofreram com a perda de vagas, segundo o levantamento. Sobral registrou o corte de 1.768 empregos entre janeiro e março, seguida de Quixeramobim (-430), Aquiraz (-430) e Maracanaú (-289). O coordenador de estudo e análise de mercado de trabalho do IDT ressalta que a indústria de transformação foi o terceiro segmento econômico que mais perdeu vagas no trimestre.

“Como esse segmento é muito expressivo para esses municípios, o impacto acaba sendo maior. O comércio e a construção civil também impactaram significativamente”, avalia.

Setor têxtil

Entre as atividades da indústria, o segmento têxtil se destacou pelo volume de demissões maior que o de admissões. Entre janeiro e março, o saldo de empregos ficou negativo em 600 vagas.

O presidente do Sindicato da Indústria de Fiação e Tecelagem em Geral no Estado do Ceará (Sinditêxtil), Rafael Cabral, admite que a situação o deixa menos otimista do que começou o ano. “Estamos vivenciando um momento difícil para todos os setores. É o resultado de uma sequência de erros que o novo governo está buscando ajustar", pontua.

Rafael acrescenta que, pelo curto tempo, ainda não foi possível ver efetivamente as mudanças práticas e seus reflexos na situação econômica local e nacional. “Ainda assim, vemos uma união no sentido de mudar e melhorar o que vinha há muito tempo caminhando de forma errada. Vamos continuar trabalhando no sentido de moldar uma nova situação e um novo futuro de maior prosperidade e trabalho para todos”, conclui.

No sentido contrário da média estadual, o município de Canindé apresentou saldo positivo de 560 postos de trabalho, o maior entre as cidades cearenses.

Além deste, Caucaia (371), Eusébio (260), Morada Nova (182) e Viçosa do Ceará (159) também estão entre as localidades que encerraram o primeiro trimestre deste ano com mais contratações do que demissões.

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