Crise na Argentina pode afetar exportações de calçados e de algodão

País é o principal comprador dos calçados produzidos no Ceará e vendas podem ser impactadas a médio e longo prazo com ameaça à saúde econômica argentina. Em contrapartida, situação beneficia importadores

Escrito por Ingrid Coelho , ingrid.rodrigues@diariodonordeste.com.br
Foto: Foto: Natinho Rodrigues

O pedido de moratória da Argentina ao Fundo Monetário Internacional (FMI) na última semana fez pairar sobre os exportadores brasileiros incertezas sobre a capacidade do país de manter o ritmo de compra dos produtos brasileiros. A venda de algodão e de calçados cearenses pode ser comprometida pela situação econômica do país sul-americano. Em contrapartida, as importações podem ser beneficiadas com a oportunidade de barganha de preços, de acordo com a avaliação de especialistas em comércio exterior.

A gerente do Centro Internacional de Negócios (CIN) da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec), Ana Karina Frota, reforça que a Argentina é o principal país comprador dos calçados cearenses. "No caso específico do Ceará, a possível estagnação da economia da Argentina, considerando uma análise de médio e longo prazo, pode ocasionar o comprometimento das operações comerciais", avalia.

De acordo com dados da plataforma Comex Stat, do Ministério da Economia, as exportações do item "calçados, polainas e artefatos semelhantes; suas partes", principal destaque da pauta, somam, de janeiro a julho, US$ 19.134.238. Em seguida, aparece o algodão (US$ 7.441.022) e "frutas; cascas de frutos cítricos e de melões", com US$ 2.466.492.

O envio de produtos do Ceará ao país sul-americano soma, ao longo do ano de 2019 até julho, US$ 32.696.700. Já o valor importado revela uma balança comercial deficitária, totalizando US$ 115.668744. Na aquisição dos produtos argentinos, Ana Karina Frota avalia que os compradores locais podem ganhar com a situação. "Na parte das importações, existirá probabilidade de renegociar o preço de alguns produtos. Hoje, o principal produto importado pelo Ceará, da Argentina, são os cereais", detalha.

Produtos

A importação de cereais soma US$ 106.148.787, seguido pelo item "reatores nucleares, caldeiras, máquinas, aparelhos e instrumentos mecânicos e suas partes" (US$ 2.283.761).

As "máquinas, aparelhos e materiais elétricos, e suas partes; aparelhos de gravação ou de reprodução de som, aparelhos de gravação ou de reprodução de imagens e de som em televisão e suas partes e acessórios" somam US$ 1.990.092 entre janeiro e julho deste ano.

O economista e consultor internacional Alcântara Macêdo lembra que a Argentina é considerada o terceiro maior país parceiro comercial do Brasil (fica atrás apenas dos Estados Unidos e da China).

"Quando um parceiro de tamanha importância entra em uma crise, sem dúvida nenhuma é preciso ter atenção, porque certamente os negócios não serão da mesma maneira que vinham acontecendo". Nas importações, entretanto, ele também acredita que quem compra pode até conseguir preços melhores. "É o efeito de oferta e procura e a demanda por dinheiro que eles vão passar, principalmente por moeda forte", explica Alcântara Macêdo.

Impacto reduzido

Ele destaca, porém, que apesar de ser o terceiro país em relevância das relações comercial com o Brasil, a Argentina "tem uma dimensão muito diferente dos Estados Unidos e China". "De modo que, afetar, afeta, mas não significativamente, ou seja, não de maneira que possa causar uma situação de constrangimento da nossa receita cambial", avalia.

Situação delicada

Alcântara Macêdo detalha ainda "ser uma pena que um país vizinho entre nessa situação de moratória". "Na medida que se faz uma escala de pagamento unilateral, evidentemente que isso se caracteriza como moratória. Eles não fizeram reformas, não se submeteram aos desafios naturais de quando se faz uma grande mudança", analisa.

"O Brasil está enfrentando a reforma da Previdência, vamos para a reforma Tributária e estamos tentando fazer com que tenha uma política econômica de realidade. A Argentina vinha fazendo um congelamento de preços que é 'anti-ciência econômica'. Não existe qualquer tese que sustente isso. E o segundo fator é um comodismo político", argumenta o economista e consultor internacional. 

Os destaques das últimas 24h resumidos em até 8 minutos de leitura.
Assuntos Relacionados