Com menos taxas, bancos digitais ganham espaço entre brasileiros

Com todas as operações realizadas por meio do celular, as contas virtuais apresentam menores custos e maior comodidade para os correntistas. Questões de segurança ainda são vistas como obstáculo

Escrito por Bruno Cabral , bruno.cabral@diariodonordeste.com.br
Legenda: Em 2018, pela primeira vez, as contas operadas por smartphone ultrapassaram as contas com internet banking.

Conquistando cada vez mais espaço no ainda concentrado setor bancário brasileiro, os bancos digitais já fazem parte da realidade de milhões de brasileiros. Como não dependem de uma rede de agências e da estrutura física dos bancos tradicionais, eles conseguem oferecer isenções de algumas taxas, tarifas operacionais ou de anuidade, que servem como atrativo para captar novos correntistas.

Além disso, o correntista ainda fica livre de filas e de outras burocracias comuns em agências. Desde a abertura da conta até aplicações, todas as operações podem ser feitas pelo celular. No entanto, apesar dessas comodidades, o fator segurança ainda pesa contra os bancos digitais.

"Antes de abrir uma conta digital, a pessoa precisa avaliar a situação financeira daquela instituição, ver se ela tem autorização do Banco Central para operar e buscar informações junto ao Sistema Financeiro Nacional (SFN)", aconselha o economista Ricardo Coimbra.

O objetivo, ele diz, é verificar se a instituição tem capacidade de assegurar os recursos do correntista. Uma pesquisa da empresa Cantarino Brasileiro revela que 25% dos usuários que possuem, simultaneamente, conta em banco digital e tradicional, apontam o item "segurança" como principal ponto negativo dessas contas.

"Outro aspecto que deve ser observado pelo consumidor está relacionado às aplicações financeiras como, por exemplo, o CDB (instrumento financeiro por meio do qual os bancos captam recursos). Também é importante verificar se a instituição tem cobertura pelo FGC (Fundo Garantidor de Crédito)", diz o economista. O fundo cobre até R$ 250 mil, por CPF, caso a instituição não tenha capacidade de honrar seus credores.

Entre os principais bancos digitais em operação no País, figuram instituições como Agibank, Banco Inter, Next, Nubank e Original. E cada um deles oferece diferentes vantagens para atrair clientes.

Vantagens

Destes bancos, todos são isentos de taxa de manutenção, exceto o Original, que cobra R$ 12,90 ao mês, mas permite transferências ilimitadas por um ano. Já Agibank e Next têm políticas diferentes de cobrança para transferências enquanto Inter e Nubank são isentos.

Para realizar saques em caixas de autoatendimento, o Inter não cobra taxa em Banco 24h, o Next não cobra nos caixas do Bradesco e o Agibank permite quatro saques grátis no Banco 24h. Já o Original dá gratuidade por um ano também no Banco 24h e o Nubank cobra R$ 6,50 por cada saque.

"É preciso avaliar o uso que cada pessoa faz do banco e os serviços que utiliza, para saber se vale a pena sair do seu banco, ou se é melhor apenas abrir uma segunda conta num banco digital. Porque quem usa muito as agências físicas pode ter dificuldade em usar o digital. Então, tudo vai depender do perfil de cada um", diz Ricardo Coimbra.

Crescimento

Embora a ausência de agências físicas ainda possa ser vista como obstáculo para quem quer abrir uma conta digital, o crescimento dos meios de pagamento eletrônicos, principalmente por meio do celular, vem contribuindo para a popularização do setor.

Segundo a Federação Brasileira de Bancos (Febraban), em 2018, o grande impulsionador do aumento no número de operações bancárias foi o celular, como já havia acontecido em 2017. Enquanto o crescimento das transações bancárias em geral foi de 8%, em 2018, o número de operações via mobile banking avançou 24%. E a fatia do celular na composição do total de transações aumentou de 35%, em 2017, para 40% em 2018.

O diretor executivo de tecnologia, produtos e operações do Banco Original, Raul Moreira, estima que até 2022, entre os cinco grandes bancos brasileiros, pelo menos um será digital. "Pode ser a partir da criação de um banco tradicional, mas será totalmente segregado", ele diz. "O consumidor que já nasceu em um ambiente de cultura digital não vê o banco como essencial para suas soluções diárias".

Consolidação

Diante da expansão dos digitais, Moreira avalia que a tendência é que haja uma consolidação no setor. "Alguns vão se sobressair mas, para isso, o banco precisa ser completo. Ele precisa suprir todas as demandas do cliente, com conta corrente, cartão, conta pessoal, crédito pessoal. Ser um banco completo é um requisito essencial", ele diz.

Hoje, o Original conta com cerca de 1,5 milhão de clientes e pretende fechar o ano com 2 milhões. Para os próximos dois anos, a expectativa é atingir a marca de 10 milhões de clientes ativos. O Nubank, por exemplo, que é hoje o maior banco digital do mundo, tem mais de 12 milhões de clientes.

Embora sejam concorrentes diretos dos digitais, os bancos tradicionais contribuíram de forma decisiva para crescimento do setor. Para a Febraban, o crescimento significativo na oferta de serviços digitais é reflexo da "preocupação dos bancos em facilitar o acesso dos consumidores aos serviços bancários", principalmente por meio do smartphone, com o qual é possível abrir uma conta, além de realizar operações financeiras.

Abertura de contas

De acordo com a Febraban, em 2018, foram abertas 2,5 milhões de contas por meio do celular, o que representou um aumento de 56% em relação ao 1,6 milhão registrado em 2017. E o número de contas abertas por meio do internet banking também saltou de 26 mil, em 2017, para 434 mil em 2018. Conforme o correntista vai aderindo às plataformas digitais, o smartphone vai ganhando protagonismo.

Se, em 2017, o volume de contas acessadas por meio do celular foi o mesmo do de contas com uso pelo computador, em 2018, pela primeira vez, as contas operadas por smartphone ultrapassaram as contas com internet banking.

Entre as contas com uso de mobile banking, as pessoas físicas são responsáveis por 94% dos acessos, enquanto as pessoas jurídicas perfazem 6%. O internet banking, por sua vez, conta com 87% de adesão de pessoas físicas e 13% de pessoas jurídicas.

Mesmo com a forte expansão do setor nos últimos meses, a avaliação é que o segmento de bancos digitais ainda têm um longo caminho de crescimento, se beneficiando de novas medidas tomadas pelo Banco Central, além do aumento da demanda e da retomada do consumo. A pesquisa "Banco Digital 2019", realizada pela Cantarino Brasileiro, aponta que a satisfação dos consumidores com bancos digitais é de 30,7%, superando os tradicionais (17,5%).

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