Chuvas animam no CE, e setor agropecuário espera reação

Expectativa para os próximos meses é de safras mais expressivas, especialmente de grãos, e de crescimento da pastagem para alimentar os rebanhos do Semiárido

Escrito por Yohanna Pinheiro - Repórter ,

Depois de enfrentar cinco anos de seca, o setor agropecuário ganha certo fôlego com as chuvas que banharam o território cearense nos dois primeiros meses deste ano e com a previsão de uma quadra chuvosa dentro da média histórica para o Estado. A expectativa para os próximos meses é de safras mais expressivas, especialmente de grãos, e de crescimento da pastagem nativa para alimentar os rebanhos do Semiárido.

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O prognóstico da Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme) para os meses de março, abril e maio aponta que a quadra chuvosa tem 43% de chance de ter precipitações dentro da média histórica, com a probabilidade de 20% de ser acima da média e de 37% de ser abaixo. Ainda existe, porém, a preocupação de que as chuvas não sejam suficientes para fazer a recarga dos açudes e reservatórios do Estado.

Perspectivas

As perspectivas para este ano são bem melhores que as dos últimos cinco, destaca Regina Feitosa, coordenadora do Grupo de Coordenação de Estatísticas Agropecuárias do Ceará (GCEA), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Ela afirma que os produtores estão animados e que algumas áreas de produção de milho e feijão no Estado já foram ampliadas. "Se as chuvas continuarem como estão, podemos ter uma safra ainda maior que a prevista", pontua.

Safra pode dobrar

O impacto deve ser sentido sobretudo na safra de grãos, que, de acordo com Regina, deve ser mais que o dobro da produção do ano passado. Além do feijão, o arroz irrigado deve voltar a ser cultivado na região de Quixeré e o milho de sequeiro, isto é, produzido na quadra chuvosa, teve área de cultivo ampliada pelos produtores, estimulados pela ocorrência de chuvas em diversas localidades.

Na avaliação de Flávio Saboya, presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado do Ceará (Faec), as chuvas chegaram com boa intensidade e trouxeram um pouco mais de tranquilidade para o setor neste ano. Ele aponta ainda que, aliada à expectativa positiva para a quadra chuvosa, a renegociação de dívidas agrícolas de produtores também ajudará a impulsionar a atividade no Estado.

"As chuvas sempre serão muito bem vindas, não resta dúvidas, e estão chegando com certa intensidade. Já estamos com a meta (de precipitação) de fevereiro ultrapassada e com um bom prognóstico que, se for confirmado para os meses de março, abril e maio, significará uma rápida recuperação principalmente para as pastagens, que era nossa maior preocupação", ressalta o presidente.

Rebanhos

Saboya relata que todos os dias recebia ligações de produtores preocupados com a situação dos rebanhos, havendo localidades em que era necessário até transportar água para que os animais não morressem de sede. Esse cenário já está mudando, segundo ele, com a distribuição das chuvas em todo o território cearense e com o surgimento da pastagem nativa, que reduz as despesas dos produtores.

"No ano passado, estávamos numa situação crítica com o desaparecimento das pastagens nativas. Deixamos de ter repasses em outubro e chegou-se a uma situação em que praticamente já não havia pastagem. O Ceará tem 87% da área no Semiárido, e a atividade principal nessa região é a pecuária. Essas chuvas agora estão nos dando um alento, porque senão entraríamos em um colapso total", aponta.

Preços

O fornecimento de milho pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) também deve melhorar a situação. A maior parte das 200 mil toneladas de milho destinadas ao Nordeste deverá vir ao Ceará, com saca a preços mais baixos, em torno de R$ 33, mas ainda não há dados oficiais. Hoje, o preço da saca de 64 Kg nos armazéns da Conab é de R$ 48,09, enquanto no mercado está entre R$ 52 e R$ 55.

De acordo com o presidente da Faec, os rebanhos deverão se recuperar rapidamente com o crescimento da pastagem nativa e ele ainda estima que, em um prazo de dois meses, já haverá um maior volume de leite no Estado. "Imagino que a oferta de leite deve crescer, no mínimo, cerca de 20% no mercado cearense", avalia Saboya, destacando o alívio para as despesas dos pecuaristas.

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