Café produzido no Maciço de Baturité conquista apreciadores

Valorização do produto tem atraído mais investidores para cultivar na região serrana do Ceará. Hoje, o produto local tem status e preço de café especial

Escrito por Camila Marcelo , camila.marcelo@diariodonordeste.com.br

Seja coado ou expresso, com pouco ou nenhum açúcar, amargo, leve ou até frutado e com toques de rapadura, o Ceará consome cerca de 2,5 milhões de quilos de café por mês, conforme o presidente do Sindicato da Indústria de Torrefação e Moagem de Café, Jocely Dantas. Desse montante, pouco a pouco a produção local, realizada no Maciço de Baturité, vai conquistando o cearense e também o turista pela qualidade do processo produtivo, ganhando status e preço de “café especial”. 

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É possível encontrar o produto da região em pó, em grãos nas feiras voltadas à agricultura familiar ou em cafeterias de Fortaleza. Exemplo disso está na Benévolo, que compra de produtores de Baturité e ainda dá o seu toque no processo de torra e moagem. 

“Nós fundamos (a empresa) há pouco mais de um ano e meio e já entramos na terceira onda do café, que é a personalização. As cafeterias começaram a investir em torradores para torrar os seu grãos, e adotamos como café principal da marca a produção do Maciço de Baturité. É inusitado para muitos que nos visitam saber que é do Ceará. É excepcional, um ouro pouco explorado”, diz o proprietário, Jerfferson Deywis. Dessa mina, entretanto, já saiu mais ouro. 

No século XVIII, conforme Marcos José de Arruda Garcia, presidente da Associação dos Produtores Ecologistas do Maciço de Baturité (Apemb), a produção era de 150 mil sacas por ano, com 60 quilos cada. Neste ano, como a safra não foi uniforme, a região somou apenas cerca de 8 mil. Mas potencial o Ceará tem de sobra, garante Marcos. 

“A gente tem condição de refazer esse caminho. As terras são as mesmas, podem até não estar na mão das mesmas pessoas, mas, se quisessem, haveria condições de produzir isso de novo ou até mais, porque os cafés estão até melhorados”, declara. 

Variedade mais resistente

Exemplo dessa evolução é a nova variedade mais resistente à ferrugem e seca, utilizada por sete produtores da região para renovar a plantação. Fora isso, estão aplicando o gotejamento como técnica de irrigação para evitar perdas na estiagem. Entre eles, está Frederico Yan Nascimento, proprietário do Sítio Bom Princípio. 

Ele inclusive foi com essa nova safra representar o Estado, ao lado de demais produtores da região, na Semana Internacional do Café 2018, realizada na última semana em Belo Horizonte. “A primeira reação é de espanto por ter café no Estado, porque a visão que o Brasil inteiro tem é que aqui é seco e tem deficiência de água. E quando a gente mostra as fotos e eles bebem o café, se surpreendem. Além de ter café, é de qualidade, então foram só elogios”, comenta Yan, que também é presidente da Aflora Café. A associação, criada em 2017, é composta por pouco mais de 20 produtores e tem uma média de 30 sacas na safra por integrante. A previsão é crescer e atingir mil sacas para o grupo em três anos.

“Ela é formada por produtores que querem inovar e fazer um café especial. São pessoas que têm esse produto como segunda atividade, então conseguem investir e, com isso, expandir o café, trabalhar a qualidade. A intenção é construir esse quadro e depois chamar o restante dos produtores. A gente está renovando, replantando, caminhando na produtividade”, pontua Yan.

Porém, essa quantidade está longe da totalidade do Maciço. O número atual é inferior às 1.500 dos anos 2000, e, segundo a Apemb, são cerca de 400 produtores na região, que contempla Pacoti, Guaramiranga, Aratuba, Mulungu e Baturité. E o potencial é voltar a crescer. 

“Tem tido um retorno às raízes. Pessoas que já tinham ido embora estão voltando às propriedades de seus pais para voltar a produzir. É o caso do Sítio São Roque, em Mulungu. As filhas do Seu Gerardo estão retornando e assumindo a propriedade”, relembra Marcos.

Aliás, a capacidade ultrapassa essa região.“Fizemos um levantamento, no início da Associação, na década de 90, e temos 72 municípios que já produziram ou têm condição de produzir. Vai desde a Serra de Itatira, perto de Canindé, até Serra de Meruoca, Redenção, Serra Grande, Pacatuba, elas todas têm condições de produzir”, aponta.

Indústria

Para completar, além de expandir em área de plantação, o Estado tem competência para crescer como indústria, como marca de café. Vários produtores já estão envolvidos no processo de torra do grão, como é o caso de 9 marcas existentes no Maciço de Baturité. 

Todas são encontradas para venda direto nos sítios. A dica, aliás, é visitar a “Rota Verde do Café” para conhecer o processo produtivo. O Sítio Águas Finas, por exemplo, é aberto diariamente para um passeio com quase 2h de duração, tendo como guia o próprio dono, Francisco José Uchôa. Ao fim, os visitantes degustam o Café Uchôa. A entrada é R$ 30. 

“Conseguimos, por meio da temática do café, fazer uma rota que incrementou um maior fluxo de turistas, deu mais taxa de ocupação e dias de turismo no território, por ter mais opções através dos roteiros. Mas a gente pode fazer mais. Para isso, o Sebrae chama novos empreendedores que acreditem no café como negócio viável que é representativo no Ceará”, destaca Fabiana Gizelli, articuladora regional do Sebrae no Maciço de Baturité.
 

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