Após 100 mil pontos, comportamento da Bolsa ainda deve variar

Análise dos dados indica que os recordes da B3 ainda estão abaixo dos vistos há dez anos, mas perspectivas é de que a tendência seja positiva para 2019 e sem que o investidor tenha que desembolsar mais para investir em ações

Escrito por Bruno Cabral , bruno.cabral@diariodonordeste.com.br
Legenda: Segundo o professor e economista Allisson Martins, as perspectivas para o Ibovespa e para as ações das empresas cearenses são positivas em 2021
Foto: Miguel SCHINCARIOL / AFP

Apesar de ter alcançado a marca de 100 mil pontos pela primeira vez, na terça-feira (18), o Ibovespa, principal índice da bolsa brasileira, ainda está longe das máximas se for considerada a inflação ou mesmo o seu preço em dólar. Ainda assim, os sucessivos recordes nominais da B3, registrados desde o fim do ano passado com a superação dos 80 mil, 90 mil e agora 100 mil pontos, vêm despertando cada vez mais interesse pelo mercado de ações e atraindo mais investidores para a bolsa brasileira, que está próxima de atingir outra marca histórica: a de 1 milhão de investidores pessoa física.

Apenas nos dois primeiros meses deste ano, o número de investidores cearenses na B3 aumentou 20,7%, passando de 11.307 no fechamento de dezembro de 2018 para 13.654 em fevereiro. Considerando números de todos os estados do País, o avanço foi de 10%, passando de 835.217 investidores para 919.403, no mesmo período. 

“Esse avanço expressivo da Bolsa desde o fim do ano passado pode ser explicado, em boa medida, pela taxa de juros, que está num patamar histórico muito baixo. Isso fez com que a rentabilidade das aplicações que pagam juros, como as da renda fixa, ficasse pouco atrativa. E os números mostram, tanto no Brasil como no Ceará, uma nova postura do investidor, que busca maior rentabilidade com um pouco mais de risco. Esses 100 mil pontos traduzem essa nova realidade”, afirma o economista Ricardo Eleutério. Para ele, a tendência é que esse movimento continue no médio e longo prazo, conforme a economia vá melhorando. “Mas é claro que, por se tratar de renda variável, ao longo do tempo podem acontecer quedas bruscas e o investidor deve estar preparado para eventuais correções”.

A Bolsa está cara?

Embora, aos 100 mil pontos, o Ibovespa esteja no topo histórico, ainda que em termos nominais, considerando seu preço em dólar o índice está na casa dos 26,5 mil pontos, ainda distante dos 44,6 mil pontos atingidos em maio de 2008. Ou seja, o índice ainda teria de avançar 69% para chegar àquele patamar.

À época, o Ibovespa, em reais, marcava 73 mil pontos. Já se for considerada a inflação (IPCA), o Ibovespa estaria em torno dos 50 mil pontos, cerca de 35% abaixo do topo de 2008. No último pregão, o indicador retrocedeu 3,1% e fechou aos 93.735 pontos. Ou seja, mesmo tendo iniciado a semana com a euforia dos 100 mil pontos, a Bolsa acabou com a pior média em mais de sete meses, acumulando queda de 5,45% – a maior desde agosto de 2018.

“Já havia uma expectativa, no começo do ano, de a Bolsa atingir os 125 mil pontos até o fim de 2019. Então, os 100 mil pontos eram esperados para este semestre”, diz o analista de investimentos Elísio Medeiros. “A reforma da Previdência é o gatilho para consolidar os 100 mil pontos e fazer a Bolsa subir mais”. Sobre a bolsa ter ficado “cara”, ele diz que, analisando a relação preço/lucro (P/L) das empresas que compõem o índice, a Bolsa “ainda” não está cara.

“Hoje, o P/L está em torno de 12. Isso mostra que a Bolsa ainda não está cara. Nos últimos anos, o P/L oscilou entre 10 e 14. Então, ainda há espaço para a Bolsa operar em 15”, afirma. Grosso modo, o P/L em 15 significa que, em média, as empresas do Ibovespa demorariam 15 anos para retornar o valor investido.

‘Reprecificação’

“Provavelmente, vai ter uma reprecificação dos ativos no Brasil, pois hoje há um cenário positivo de juros baixos, risco do País controlado e um crescimento esperado muito bom. Então, estamos falando aqui só sobre expectativa. O que vai fazer essa Bolsa permanecer subindo é uma reforma da Previdência. O mercado aposta muito nisso. A reforma é a chave inicial para abrir caminho para a Bolsa subir e fechar os 125 mil pontos, segundo os analistas da XP investimentos”, afirma Medeiros.

O analista de investimentos destaca ainda que os investidores estrangeiros também estão de olho no cenário brasileiro e aguardando o melhor momento para investir no País, e a reforma seria o definidor.

“Neste ano, o investidor estrangeiro ainda não alocou um valor expressivo no nosso mercado. Ele tem uma retirada, do começo do ano até esse mês de R$ 1 bilhão. Esse mês de março está um pouquinho positivo. Ele entrou com R$ 300 milhões. Provavelmente, eles estão esperando essa reforma sair, um sinal mais concreto para entrar, realmente, no Brasil. O que a gente vê hoje é investidor local, pessoa física, comprando em cima dessas expectativas”, afirma.

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