Ano sabático: como se preparar para um ano fora do mercado

Seja para se reencontrar na carreira ou na vida pessoal, sair por um ano das funções profissionais para se dedicar a projetos pessoais exige esforço e planejamento, que inclui economia, investimentos e complemento de renda

Escrito por Camila Marcelo , camila.marcelo@diariodonordeste.com.br
Legenda: Diplomata Lara Lobo economizou mais da metade do salário por um ano

Quando as horas de folgas e férias já não são suficientes para restaurar a vida pessoal e profissional, um período sabático pode entrar como uma “carta na manga” para interromper a rotina, a fim de descansar e buscar novos horizontes em outras áreas.

Realizar cursos voltados à formação acadêmica ou em uma área completamente diferente, explorar novos destinos turísticos e aprender diferentes idiomas, colocar a leitura em dia ou até escrever o próprio livro, enveredar em outra carreira, realizar alguns trabalhos voluntários, resgatar um sonho de infância ou mesmo fazer absolutamente nada. O período sabático, seja ele curto ou a longo prazo, deve ser de renovação.

Para colocá-lo em prática, planejamento financeiro é fundamental. Primeiramente, é importante pôr no papel quais as principais atividades previstas para essa temporada, como os cursos e as viagens, e a média de preços de cada uma delas, sempre arredondando para mais. Fora isso, é preciso separar verba para o básico: hospedagem, transporte e alimentação.

“A flutuação de moeda e passagens aéreas podem impactar bastante. Tipo de acomodação também: casa de família, hotel, albergue, imóvel alugado. Bem como a forma de fazer suas refeições: comer em casa ou fora costuma fazer bastante diferença”, pontua Rebeca Toyama, especialista em desenvolvimento humano e liderança.

Para ela, não se pode cair nas armadilhas dos roteiros da moda. “O importante é alinhar as suas lacunas de competências ao sabático para garantir que o investimento valerá a pena”, completa. E para a experiência ser completa, fica o lembrete de incluir na programação a cultura do local visitado: conhecendo pessoas, costumes e locais diferentes.

Gestão de contas 

De acordo com o economista e membro titular do Conselho Regional de Economia do Ceará, Allisson Martins, caso o afastamento das atividades seja por um ano, as reservas financeiras devem abranger os gastos previstos para, pelo menos, 24 meses para cobrir imprevistos – como questões de saúde ou acidentes – e para ajudar durante a recolocação no mercado de trabalho. 

“O esforço financeiro para viabilizar o projeto deve ser intenso. O máximo possível da renda deve ser reservada para o objetivo. A sugestão é guardar entre 30% e 40% da renda mensal. Caso tenha carteira assinada, as verbas rescisórias devem ser estimadas”, aponta. Entra no cálculo ainda o pró-labore, para pessoas que possuem alguma participação societária em empresa.

Além de poupar, a dica é apostar na venda de bens e em diferentes produtos financeiros, como fundos de investimentos, depósitos a prazo (CDB) e Tesouro Direto. “Para a Bolsa de Valores, o recomendado é investir no máximo 20% das economias. A intenção é turbinar os recursos, mas caso aconteçam quedas abruptas, não comprometerão substancialmente as reservas financeiras”, acrescenta. 

Durante o período sabático, segundo Allisson, os recursos devem ser redirecionados para produtos de baixo risco e alta liquidez. “Fundos de investimentos, com base em renda fixa, Tesouro Direto e CDB (liquidez diária) são recomendados”, destaca. 

Para completar, vale recorrer à geração de renda passiva, como o aluguel do imóvel fechado, e à prestação de serviços à distância, em cursos online, ou no destino imigrado, como cuidador de idosos e crianças, garçom em restaurantes ou professor de idiomas. “Trabalhar pode ser uma boa opção como comple-mentação de renda ou aquisição de experiência”, acrescenta Rebeca.

Na prática

Quem decidiu separar um tempo para reavaliar o caminho pessoal e profissional traçado até então foi a diplomata Lara Lobo, em 2017. A ação não foi por impulso – pelo contrário: foi muito pensada, amadurecida, debatida e planejada com o marido por mais de um ano.

Para organizar o lado financeiro, eles inicialmente definiram o destino da viagem para, em seguida, começar as pesquisas de gastos e estipular o orçamento mensal, desde custos de saúde, aluguel, mercado a até eventuais cursos para duas viagens grandes que queriam fazer.

Eles economizaram mais da metade de ambos salários por mais de 12 meses, fazendo toda a reserva em dólar. Faltando seis meses para o início da nova jornada, ainda realizaram um grande bazar de roupas, sapatos e acessórios, venderam móveis e eletrodomésticos, além do carro, e se mudaram para um apartamento um terço menor do que o que tinham anteriormente. 

“Experimentamos um período de transição, com bem menos coisas, sem carro, com diarista três vezes na semana, ao invés de todos os dias, como era antes”, pontua.

Para manter os gastos controlados, durante o ano sabático escolheram um local pequeno, mas bem localizado, fazendo as atividades diárias a pé ou de ônibus. No lazer do fim de semana, nada dos restaurantes mais caros ou programas mais extravagantes.

“Eram mais simples. Tínhamos uma verba de 100 dólares. Isso nos permitia ir a shows, exposições, museus e alguns restaurantes. Sentia-me muito feliz e realizada com a vida mais simples, mas muito mais cheia de presença, paz e saúde”, ressalta.

Para se renovar no aspecto intelectual, Lara investiu em cursos e workshops, como a formação em coaching ontológico em Lima (Peru), onde morava, antes de ir para a Austrália. No âmbito espiritual, praticava quase que diariamente yoga, começou a escrever o próprio livro, além de participar ativamente em outros projetos, como facilitadora de workshop e coach.

Foram 14 meses transformadores, segundo Lara. Dos arrependimentos, somente o fato que queria ter reservado um pouco mais de dinheiro para fazer viagens dentro da Austrália e pela Nova Zelândia. Com exceção disso, foram só pontos positivos trazidos na bagagem.

“Foi uma experiência fantástica. Voltei ao meu ofício de diplomata com mais calma, menos ansiedade, com mais controle sobre expectativas e frustrações. Hoje, procuro valorizar as coisas boas mais do que olhar para os problemas. Sinto uma profunda gratidão de estar onde estou”.
 

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