Ano Internacional da Cooperação pela Água: desafio para as nações

Escrito por Redação ,
A Unesco está buscando mobilizar governos e entidades mundiais para os problemas da distribuição da água

A falta de água potável é um problema real para os moradores no semiárido Foto: Waleska Santiago

Na próxima sexta-feira (22) comemoramos o Dia Mundial da Água, data criada a partir de 1993 para chamar a atenção sobre a importância da água doce e defender a gestão sustentável dos recursos hídricos. Mas, em 2013, a água recebe atenção especial, pois durante todo o ano, a Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (Unesco) vem desenvolvendo uma série de eventos visando, principalmente, a conscientização sobre a importância, os benefícios e os desafios da cooperação em questões relacionadas aos mananciais existentes no Planeta com a celebração do Ano Internacional para Cooperação pela Água.

A expectativa da Unesco é que o Ano Internacional da Cooperação pela Água mobilize governos, empresas, organizações não-governamentais e a sociedade civil em níveis internacional, nacional, regional e local a agir em prol da Cooperação pela Água. A Organização acredita que a campanha trará motivação para além do Ano com esforços de conscientização.

Campanha

As quatro mensagens principais da campanha são: a cooperação pela água é crucial para a erradicação da pobreza, a igualdade social e a igualdade de gênero; gera benefícios econômicos; é crucial para preservar os recursos hídricos e proteger o meio ambiente; e constrói a paz.

Diante dos desafios a serem enfrentados na gestão da água do Planeta, o Brasil, de acordo com relatório divulgado no ano passado pela Agência Nacional de Águas (ANA), apresenta situação confortável, em termos mundiais, no que diz respeito aos recursos hídricos.

A disponibilidade de água por habitante indica uma situação tranquila quando comparada aos valores dos demais países informados pela Organização das Nações Unidas (ONU). No entanto, o relatório da ANA indica que, apesar dessa aparente tranquilidade, existe uma distribuição desigual dos recursos hídricos no Brasil com 80% da água disponível concentrados na área que abrange a Região Amazônica.

No Ceará, temos grandes desafios a serem enfrentados, como falta de abastecimento e o comprometimento da qualidade em épocas de estiagem. Segundo o diretor de operações da Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos do Ceará (Cogerh), José Ricardo Dias Adeodato, apesar de o Estado estar passando por um período complexo de quase dois anos de seca, a União e o Estado têm feito investimentos significativos no Semiárido do Ceará, para conviver com a seca. "Hoje temos 139 reservatórios monitorados, temos canais, elevatórios, temos transposição, permitindo que a gente tenha uma segurança hídrica para uso da água bruta", afirmou.

Adeotado explicou que a liberação da água é feita mediante as prioridades definidas pela Lei Brasileira de Recursos Hídricos 9.433/97, depois de ser amplamente discutida com a sociedade, por meio dos comitês gestores das bacias. "A prioridade é o consumo humano, depois água para dar de beber aos animais, por fim, indústria e agricultura", afirmou o diretor da Cogerh.

O filósofo e articulista do Portal EcoDebate, Roberto Malvezzi, afirmou, em artigo publicado no último dia 5, que a longa estiagem nos Estados do Nordeste obrigou as autoridades a mudar a dinâmica no abastecimento de água no País. "O governo federal - e os estaduais - viram-se obrigados a fazer o que a sociedade civil nordestina reivindica há muito tempo, isto é, investir na distribuição da água acumulada nos reservatórios, particularmente através das adutoras".

O papel da sociedade nas discussões sobre o uso eficiente da água, foi destacado pelo diretor da Cogerh Ricardo Adeodato. "O cidadão é a figura mais importante. Você tem um comitê formado por usuários e, além disso, temos comissões gestoras em cada reservatório, que são as pessoas que moram em volta e têm ajudado no trabalho (de fiscalização). Em cada reservatório, nós temos um agente de guarda. Ele tem barco, ele fiscaliza, mas sem a atuação do usuário, do povo que mora em volta, não adianta", afirmou.

Qualidade

Adeodato destacou que o trabalho da Companhia com a sociedade é voltado para quantidade, que é um problema sério, mas também para a qualidade. "Temos interagido com as comunidades e já fizemos mais de 33 inventários ambientais nos nossos reservatórios, onde são definidas medidas objetivas para reverter esses processo de qualidade da água, que vem piorando".

Quanto à questão da qualidade do que sai dos reservatórios do Estado e chega na casa do consumidor, a gerente do laboratório da Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece), Neuma Buarque, esclarece que a companhia realiza um "rigoroso controle de qualidade". Segundo ela, a Cagece gasta muito nesse período de estiagem: "A água é praticamente uma lama e para remover lama e transformar em água, é complicado. Com certeza, após sair do tratamento vai dar para usar, se não der, o abastecimento é suspenso".

Engajamento

Além dos problemas de quantidade e qualidade, para a Unesco, todo os envolvidos no tema, incluindo organizações governamentais e internacionais, setor privado, sociedade civil e universidades, devem estar engajados e preocupados com a situação das pessoas mais pobres e vulneráveis no que diz respeito a gestão dos recursos hídricos. Em artigo sobre o Ano Internacional da Cooperação pela Água, a Unesco destaca que "as escolhas feitas no campo da gestão da água também devem ser consistentes com outras políticas governamentais, e vice-versa. Decisões sobre aspectos sociais, políticos e econômicos devem ser tomadas buscando distribuir de forma justa a alocação dos recursos, considerando os limites biofísicos do meio ambiente".

EMERSON RODRIGUES
REPÓRTER

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