Análise: indústria e agronegócio ganharão com acordo de Mercosul e UE

O acordo firmado entre o Mercosul e a União Europeia vai trazer vantagens competitivas ao Estado, uma vez que há possibilidade de aumentar a exportação, além de renovação do parque industrial cearense 

Escrito por Carolina Mesquita , carolina.mesquita@diariodonordeste.com.br
Legenda: Setores de infraestrutura e logística também serão favorecidos com o acordo comercial. Porto do Pecém já firmou parceria com o Porto de Roterdã
Foto: Natinho Rodrigues

Após duas décadas de negociações, o acordo de livre-comércio entre o Mercosul e a União Europeia foi assinado ontem (28). A resolução prevê a redução ou eliminação de taxas de exportação para um leque de produtos em até 10 anos. Segundo análises de especialistas, indústria e agronegócio deverão ser os principais beneficiados no Ceará.

O economista Alcântara Macêdo avalia que o tratado deve impulsionar de forma significativa o setor agrícola. “Quando o agronegócio se expande, os setores industriais que o atendem, como máquinas e equipamentos, passam a ter uma relação de comércio. E assim sucessivamente”, explica Alcântara. O aumento da demanda é reflexo do fortalecimento da União Europeia como um mercado consumidor, através das exportações.

Além do agronegócio, a indústria de transformação, com destaque para a Companhia Siderúrgica do Pecém (CSP), o setor têxtil e de pescados são apontados pelo economista como os segmentos que deverão apresentar evidente aumento na venda para o mercado internacional.

Porto do Pecém

Sobre a agricultura, Alcântara afirma não ser capaz de avaliar se há produtividade e competitividade para um protagonismo do setor em termos de exportação no Estado, uma vez que 92% do território cearense está no Semiárido. “Apesar disso, muitos produtos são enviados para fora a partir do Porto do Pecém, o que deve acontecer com cada vez mais expressividade agora”.

Em contrapartida, o presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado do Ceará (Faec), Flavio Saboya, acredita que a fruticultura tem muito a ganhar com o acordo. “Isso nos dará mais flexibilidade para enviar os produtos, ainda mais um mercado com consumidores que possuem um nível de renda mais elevado. Sem dúvida, estimulará bastante o setor”.

Ainda sobre exportação, Karina Frota, gerente do Centro Internacional de Negócios (CIN) da Federação das Indústrias do Estado (Fiec), revela que as exportações do Ceará ainda estão muito concentradas nos Estados Unidos. “Tivemos mês em que eles (EUA) chegaram a representar 45% de tudo que mandamos para o mercado internacional. Para termos uma maior representatividade nas exportações brasileiras, precisamos de novos mercados, e a União Europeia vem justamente se fortalecer como essa opção”, afirma.

Indústria

Outro setor produtivo que deve conseguir tirar muitas vantagens do acordo é o da indústria. Karina ressalta que o parque industrial do Estado precisa passar por uma modernização, processo que deve ser facilitado com as taxas nulas ou menores de comércio bilateral. “Nós temos consciência das renovações que precisam ser feitas. Agora, comprar insumos, matéria-prima, tecnologia, equipamentos, vai ficar mais barato. Muitas vezes, os preços de importação inviabilizaram o aprimoramento de negócios”, ressalta Frota.

Infraestrutura

O vice-presidente do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças do Ceará (Ibef), Raul Santos, destaca os equipamentos de logística que o Ceará possui como instrumentos que fortalecem ainda mais o Estado como um desfrutador das melhorias que estão por vir. “O Porto do Pecém possui parceria com o Porto de Roterdã, que fica em território da UE. Fora isso, temos um hub aéreo com voos conectando o Estado ao bloco econômico”, destaca Santos. Ele ainda assinala a possibilidade do surgimento de outros mercados. “Além daqueles que serão beneficiados com mais facilidade para exportar, outros negócios podem surgir apenas para suprir uma demanda que pode ser observada. Afora isso, empresários de outras regiões podem se sentir atraídos a se instalarem no Estado diante da infraestrutura de logística que temos”, acrescenta o executivo.

Karina Frota reitera a avaliação do vice-presidente do Ibef. “Nós temos uma localização estratégica. É o ponto mais perto do continente europeu. Isso tem nos colocado em uma posição diferenciada em relação ao restante dos estados”, frisa Karina.

Adequação

De acordo com Raul Santos, muitas das empresas que hoje fazem a inserção de seus produtos na Europa através de Portugal não vão mais precisar necessariamente fechar acordo com o país. “Essa prática é muito comum, pela adequação de os produtos serem um pouco mais fáceis, tendo em vista o idioma e outros fatores”. O porta-voz do Ibef conclui evidenciando a força da União Europeia. “É o segundo maior bloco econômico do mundo e conta com cerca de 1 bilhão de pessoas que são potenciais consumidores”.

Mudança de opinião

O economista Alcântara Macêdo acrescenta que a atenção que o mercado europeu está dando ao Mercosul revitaliza as possibilidades de o bloco não retroceder. “Além disso, a equipe econômica passou a ver com outros olhos a possibilidade de o Mercosul dar vantagens para a economia brasileira”, pontua.

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