8 a cada 10 vagas ofertadas na RMF foram intermitentes ou parciais

Segundo estudo do IDT, o Estado e a capital cearense apresentaram uma taxa maior de criação de oportunidades de trabalho do que o País nesta modalidade, considerando o período de novembro de 2017 a maio de 2019

Escrito por Samuel Quintela , samuel.quintela@diariodonordeste.com.br
Legenda: O setor de serviços foi o que mais ofereceu vagas de trabalho intermitente e de tempo parcial
Foto: Foto: Natinho Rodrigues

Oito a cada dez empregos gerados na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF) entre novembro de 2017 e maio de 2019 foram em regimes de trabalho intermitente ou de tempo parcial. Mais precisamente, segundo pesquisa do Instituto de Desenvolvimento do Trabalho (IDT), 83,6% das vagas geradas não se enquadravam no modelo convencional brasileiro. No Ceará, o número marcou 65,8%. As estatísticas levam em consideração os estudos do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), divulgados pelo Ministério da Economia.

Além de surpreendentemente altos já em relação ao cenário local, os dados geraram preocupação aos analistas do IDT por estarem muito acima da média do País, o que pode ser considerado como sinal da precarização do mercado de trabalho no Ceará. Se no Estado, nesse período, quase dois terços das oportunidades de trabalho geradas não foram pelo regime convencional, no País, o número de vagas de trabalho intermitente ou em tempo parcial representou apenas 27,1% do total.

De acordo com Mardônio Costa, analista de mercado do IDT, as estatísticas compiladas do Caged indicam uma precarização do mercado do trabalho. A movimentação, segundo ele, repercute a diminuição da capacidade de investimentos das empresas e, também, a redução do potencial do consumo das famílias, que acaba impactando a necessidade de produção.

Além disso, as características do mercado cearense, focado nos setores de comércio e serviços, teriam potencializado a evolução das contratações em modalidades intermitentes ou em tempo parcial. A sazonalidade de períodos específicos, como as festas de fim ano ou datas comemorativas, tem ajudado a impulsionar o comportamento das empresas na hora de buscar opções mais baratas ao contratar pessoal.

"O setor de serviços responde por 44% dos empregos gerados no Ceará, e é um setor que depende muito dessa dinâmica de sazonalidade, mas nós tivemos que levar em consideração a conjuntura econômica do País e do Estado. A construção civil e a indústria são setores que têm sido bastante penalizados pela crise e isso limita a capacidade de gerar empregos. E nesse cenário de incertezas, as empresas acabam optando por essas opções mais baratas de contratação para reduzir os custos de operação porque o consumo tem sido menor", avaliou Mardônio Costa.

Inserção

Contudo, o analista de mercado do IDT apontou que os empregos gerados nos últimos meses, mesmo não seguindo o modelo formal da CLT, podem ser encarados como uma boa opção de inserção de jovens no mercado. Segundo os dados apresentados, os jovens de até 24 anos acumularam 35,2% das oportunidades de trabalho intermitente e 42,3% de todas as vagas de tempo parcial.

A segunda faixa etária mais participativa foi a de adultos entre 30 e 39 anos, que ficou com 29,1% dos empregos intermitentes e 24,3% dos trabalhos em tempo parcial. "O que nos leva a uma preocupação é que essa média de contratações dessas modalidades está bem acima do número nacional, já que, no Brasil, foram 27,1% de todas as contratações no período analisado. Em contrapartida, esses empregos podem ter ajudado a amenizar o desemprego no Estado, principalmente entre os jovens, que são os mais contratados nessas modalidades, assim como as mulheres, que têm grande participação dos empregos em tempo parcial", disse Costa.

Precarização

Apesar da perspectiva otimista apontada pelo analista, a média dos salários das pessoas contratadas para os regimes intermitente e em tempo parcial ficaram abaixo da média total dos empregos gerados nos últimos meses, confirmando a perspectiva de precarização do mercado. Segundo os dados do IDT, a média de todos os vencimentos registrados entre novembro de 2017 e maio de 2019, no Ceará, ficou em R$ 1.250. Enquanto isso, as vagas de trabalho em tempo parcial ofereceram uma remuneração média de R$ 925,16. Já os empregos intermitentes pagaram um salário de R$ 979,68. O cenário, explicou Costa, é reflexo de uma estratégia das empresas para reduzir custos operacionais em um momento de crise econômica nacional.

"As empresas continuam exigindo ensino médio completo, mas a contratação em regime intermitente ou tempo parcial é uma prática do mercado quando você tem mão de obra abundante e o desemprego elevado. As empresas admitem as pessoas com valores de salário menor do que elas pagavam antes para reduzir os custos", apontou.

Falta de oportunidades

O analista de mercado ainda apontou que, apesar de oferecer salários menores, as modalidades de trabalho intermitente e de tempo parcial dão a possibilidade de o trabalhador ter mais de um vínculo, podendo aumentar a renda.

No entanto, Danielle Lima, de 33 anos, relatou que a busca por um emprego não tem sido fácil nos últimos meses. Ela tem procurado vários tipos de oportunidade, principalmente, de operador de caixa, mas está há mais de quatro meses à procura de uma vaga. Danielle fala que gasta pelo menos uma hora por dia para se locomover ao Sine/IDT para buscar emprego. Já Gleicyane Ferreira, 26, revelou que está atrás de emprego há mais de quatro anos, sem sucesso.

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