18 mil desembarcaram da Europa e dos EUA na Capital em fevereiro

Passageiros vieram de países onde a contaminação pelo novo coronavírus era crescente no período e passaram pelo Aeroporto de Fortaleza semanas antes da confirmação dos primeiros casos no País e no Estado

Escrito por Redação , negocios@svm.com.br
Legenda: Companhias começaram a suspender voos internacionais na Capital só em 16 de março
Foto: FOTO: KID JÚNIOR

Quando os primeiros casos de Covid-19 foram registrados no Brasil ao fim de fevereiro, o Aeroporto Internacional de Fortaleza ainda operava normalmente voos para Europa e Estados Unidos, onde o novo coronavírus já vinha se alastrando. Segundo dados da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), o terminal da Capital recebeu em fevereiro pouco mais de 18 mil passageiros provenientes do exterior, com exceção de Buenos Aires (Argentina) e Caiena (Guiana Francesa), que ainda não tinham histórico de casos.

O número de passageiros internacionais que passaram em Fortaleza, contabilizando as origens na Europa e Estados Unidos, é o maior entre os aeroportos do Nordeste. Em igual período, desembarcaram no Aeroporto Internacional do Recife 13 mil viajantes, enquanto que em Salvador, passaram pouco mais de 10 mil pessoas vindas do exterior, com exceção da América do Sul e Central.

Na Capital, neste período, a maioria dos passageiros teve origem em Lisboa (5.025), Miami (3.812), Paris (3.003) e Amsterdã (2.754). Embora Portugal e Holanda não tivessem registrado, em fevereiro, muitos casos confirmados de Covid-19, grande parte dos viajantes vem de outros países e faz conexão nestes locais, o que significa dizer que boa parcela pode ter transitado por regiões que, naquela época, já sinalizavam muitas ocorrências da doença.

De acordo com a plataforma digital IntegraSUS, montada pela Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa), até às 17h10 de ontem (9), o Estado já contabilizava 1.445 casos confirmados da Covid-19 e 57 óbitos em decorrência dessa infecção viral. Fortaleza concentra a maioria dos registros: 1.283 confirmações e 45 mortes.

Relação

Após o Governo Estadual solicitar à Anac a suspensão dos voos internacionais no dia 14 de março, as companhias começaram a suspender a maioria das operações para o exterior. Nessa data, decreto do Governo Federal também restringiu a entrada de estrangeiros provenientes de países foco da doença nos portos e aeroportos brasileiros.

A primeira companhia aérea a anunciar a suspensão dos voos internacionais na Capital foi a Air Europa no dia 16, seguida pela Cabo Verde e Gol (17), TAP (18), Air France/KLM (22) e Latam (29).

Para o professor Cláudio Jorge Alves, do Departamento de Transporte Aéreo do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), o número de passageiros e voos em Fortaleza pode ter relação direta com a grande quantidade de casos de Covid-19 no Estado. No entanto, ele reitera que esta não é a única explicação para a elevada taxa de contaminação.

"A relação parece que faz sentido, mas não é garantido que seja somente isso. Tem a própria postura da população, isolamento social. Isso (número de passageiros internacionais) contribuiu, sendo o Ceará porta de entrada de turismo. Faz sentido essa percepção, mas, cientificamente, não podemos concluir isso. Pode ter havido outros fatores que contribuíram para a contaminação", reforça o professor Alves.

Tradicionalmente, o Ceará recebe grande quantidade de turistas italianos, espanhóis, e mais recentemente, com a instalação do hub da Air France-KLM e Gol, franceses e holandeses. Os dados da Anac não consideram apenas estrangeiros, mas também passageiros brasileiros em trânsito para o Norte e Nordeste do País e tendo como destino o Estado.

Movimento

O engenheiro aeronáutico Igor Pires também concorda que a grande movimentação de passageiros em Fortaleza pode ter correlação com os casos do novo coronavírus no Ceará. Ele lembra ainda que as primeiras ocorrências foram em bairros nobres e de forte movimentação de turistas, como Meireles e Aldeota. Entretanto, ele pondera que não apenas isso foi fator decisivo para o aumento da Covid-19 no Estado.

"Honestamente, eu acho que essa movimentação de turistas estrangeiros pode ter contribuído para os casos no Ceará. Tanto que os primeiros surgiram em bairros ricos. Tem um pessoal transitando por esses locais e é onde tem a população de alta renda, que também viaja para o exterior", acrescenta.

Pires também afirma que muitos viajantes têm como destino final o Ceará. "Veja que a participação de Estados Unidos e Europa é quase a quantidade total de passageiros. Para as outras praças (Recife e Salvador) a participação é menor. O perfil de Fortaleza é de receber turistas. E aqui a concentração de estrangeiros é bem maior do que nas outras praças", avalia.

Companhias

Antes da crise do novo coronavírus, o Aeroporto de Fortaleza operava semanalmente pelo menos 25 voos para o exterior. Com o agravamento da crise, as rotas foram aos poucos sendo suspensas.

No entanto, as companhias já planejam seus retornos ao terminal da Capital. A maioria delas pretende voar em maio. A Air Europa, por exemplo, deve retomar as operações entre Madri e Fortaleza a partir de maio com dois voos semanais, conforme as previsões iniciais da empresa.

Já a portuguesa TAP deve voltar também em maio com cinco voos semanais até julho, passando para diária a frequência para Lisboa em julho. A Air France/KLM planejam o retorno ao Ceará no próximo mês a Paris e a Amsterdã, respectivamente.

Os voos para Miami pela Latam também estão previstos para maio. Pelo planejamento da empresa, a operação deve retornar com um voo semanal a menos, com quatro frequências por semana para a cidade norte-americana.

Gol e Azul devem retornar apenas em julho. A Gol, com voos diários para Miami e semanais para Buenos Aires, e a Azul, com sua ligação semanal para Caiena.

Já a Cabo Verde Airlines anunciou ontem (9) que deve retomar os voos também em julho deste ano. As informações fazem parte do Sistema de Registro de Operações da Anac que as companhias utilizam para programar seus voos. Os dados podem sofrer alteração à medida que surjam novas medidas para conter a crise sanitária.

 

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