Vitória de Netanyahu em Israel torna distante a paz para palestinos

Primeiro-ministro conquista quinto mandato e especialista explica o efeito da vitória da direita no processo de paz na Palestina

Escrito por Sérgio Ripardo ,
Legenda: Benjamin Netanyahu e sua esposa Sara comemoram a vitória do Likud nas eleições legislativas de Israel, durante comício em Tel Aviv
Foto: AFP

A vitória do direitista Likud, partido do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, na eleição legislativa de Israel, torna distante a esperança de uma solução pacífica para o conflito territorial do país hebreu com os palestinos, avaliou a professora Juliana Costa, do curso de Relações Internacionais na Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado (Fecap), de São Paulo, em entrevista ao Diário do Nordeste.

"Este não é o melhor cenário para os palestinos. O processo de paz fica bastante complicado", pontuou Juliana Costa, acrescentando que as duas partes não devem melhorar o diálogo em busca de entendimento para o conflito.

Apoiado durante a campanha eleitoral pelo presidente americano Donald Trump e outros expoentes da direita, como o presidente Jair Bolsonaro, o "Rei Bibi", como é chamado por seus seguidores, driblou o desgaste de denúncias de corrupção com a promessa de anexar territórios ocupados na Cisjordânia - uma decisão que tende a enterrar a solução de dois Estados para o conflito israelo-palestino, contrariando o consenso da comunidade internacional.

Netanyahu já acumula 13 anos no cargo de premiê e, com o quinto mandato, estabelecerá um recorde de longevidade no poder. Seu partido chegou a ser superado nas pesquisas durante a campanha eleitoral pela coalizão do ex-militar centrista Benny Gantz, do partido Azul e Branco, mas Netanyahu se esforçou para atrair o apoio das legendas de extrema direita.

A professora de Relações Internacionais lembra as manobras usadas pelo premiê para levar vantagem na batalha por mais um mandato. "Ele antecipou as eleições".

Inicialmente, o pleito estava marcado para o fim deste ano, mas Netanyahu temia que seu indiciamento por corrupção, com risco de prisão, o tirasse da disputa. Em dezembro do ano passado, as eleições legislativas foram remarcadas para a última terça-feira (9).

O procurador-geral de Israel anunciou em fevereiro a intenção de processá-lo por corrupção, fraude e abuso de confiança em três casos de doações de milionários, assim como reformas legislativas em troca de cobertura favorável da imprensa. O procurador fixou o dia 10 de julho como data limite para uma última audiência antes de decidir se abre processo.

Nos últimos dias de campanha, Netanyahu esteve onipresente, dando entrevistas e publicando constantemente nas redes sociais.

"Será um Governo de direita, mas serei um primeiro-ministro para todos", declarou Netanyahu. Para ele, foi "uma magnífica vitória".

A apuração dos votos criou um suspense, que entrou pela madrugada desta quarta-feira. O jornal israelense Haaretz mostrava, na capa de seu site, o número de assentos do Parlamento (total de 120) conquistados pelas coligações de Netanyahu e de Gantz no ritmo da contagem dos votos. A disputa foi cabeça a cabeça.

Com 97% dos votos apurados, os resultados parciais apontavam, nesta quarta-feira, que o Likud e aliados terão 65 cadeiras, o suficiente para consolidar a maioria e formar o novo governo. Os números finais devem demorar alguns dias para ser apurado. Cabe ao presidente Reuven Rivlin considerar que partido encarregará para formar o novo Governo.

A esquerda israelense saiu humilhada das urnas, com apenas seis cadeiras no Parlamento para o histórico Partido Trabalhista."Não existe em Israel a polarização política entre direita e esquerda", observa a professora da Fecap.

Plano de paz de Trump

É esperado o anúncio de um plano de paz de Donald Trump nas próximas semanas. O premiê de Israel, Benjamin Netanyahu, já avisou que rechaçaria tirar "uma pessoa sequer" dos assentamentos na Cisjordânia ocupada

Chance de entendimento

Trump comentou a reeleição de Netanyahu. "Todo mundo diz que você não pode ter paz no Oriente Médio, com Israel e os palestinos. Acho que temos uma chance"