Uma queda para a liberdade

Escrito por Redação ,
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Em 9 de novembro de 1989, o mundo assistia à derrubada do maior símbolo da Guerra Fria: o Muro de Berlim

Um dos períodos mais importantes da história da humanidade completa, amanhã, duas décadas. Em novembro de 1989, o peso das pessoas derrubou, literalmente, o muro que dividiu, durante 28 anos, a capital da Alemanha e se tornou o maior símbolo da Guerra Fria.

Também conhecido como o "muro da vergonha", o Muro de Berlim foi construído em agosto de 1961. Segundo historiadores, as razões para a construção remontam à derrota da Alemanha de Hitler na Segunda Guerra Mundial, em 1945.

Empobrecido e com um saldo devastador de cinco milhões e meio de mortos, o país foi divido de acordo com a nova ordem geopolítica mundial que separava as potências entre socialistas e capitalistas. Berlim foi, então, separada em duas regiões: a República Democrática Alemã (RDA) - socialista - e a República Federal Alemã - capitalista.

Até 1961, os berlinenses ainda tinham trânsito livre de uma região a outra. Para impedir a expansão do bloco rival, a URSS bloqueou em 1948 todas as rodovias e estradas de ferro que ligavam a parte oriental (socialista) à ocidental (capitalista).

O objetivo era fazer com que os capitalistas abandonassem a cidade. Caso contrário, os berlinenses do bloco ocidental morreriam de fome e frio, devido ao corte no abastecimento. França, Estados Unidos e Inglaterra decidiram, então, enviar mantimentos pela fronteira.

O bloqueio durou cerca de 11 meses e não impediu a migração entre as duas regiões. Entre 1949 e 1961, 2,6 milhões de alemães do lado oriental foram para o ocidental, onde havia uma recuperação econômica mais acelerada. As fugas em massa representavam o colapso econômico com a redução de mão-de-obra.

Por conta disso, Nikita Kruschev, o premiê soviético, tomou uma decisão radical. Sem respeitar casas, prédios ou ruas, a URSS começou a construir, no dia 13 de agosto de 1961, um muro de 37 quilômetros na área urbana de Berlim.

Mais tarde, a barreira se estendeu por 155 quilômetros, separando a Berlim Ocidental da Oriental e distanciando muitas famílias da noite para o dia.

O colapso
A queda do Muro de Berlim começou a ser arquitetada com a política de liberalização e reestruturação criada pelo então secretário-geral do Partido Comunista da União Soviética (PCUS), Mikhail Gorbachov.

A abertura no mundo socialista impulsionou milhares de cidadãos da RDA a marcharem para a fronteira com a Hungria. No total, mais de 51 mil pessoas conseguiram assim migrar para o lado ocidental.

Durante todo o ano de 1989, mais de 130 mil alemães orientais conseguiram atravessar para o lado Ocidental, da mesma forma como acontecia antes da construção do Muro. Enquanto isso manifestações se multiplicaram por todo o país.

Especula-se que um mal-entendido provocou a queda do Muro. Em uma coletiva de imprensa, o ministro das Comunicações da época, Günter Schabowski, leu apressadamente uma nota, que dizia que os alemães poderiam cruzar a fronteira entre as duas Alemanhas sem qualquer permissão. Questionado quando a lei começaria a ser válida, ele respondera que naquele mesmo dia a legislação tinha entrado em vigor.

Com a declaração, milhares de pessoas foram imediatamente aos postos de comando do Muro, exigindo sua passagem. Nesse dia, pela primeira vez em 28 anos, alemães de ambos os lados de Berlim se encontraram livremente.

Na noite fria do dia nove, o mundo assistiu à derrubada das paredes de concreto pela multidão de alemães que lutava pela reunificação do país. A celebração marcou o fim da Guerra Fria e o início de um novo capítulo da história mundial.

OPINIÃO DO ESPECIALISTA
A simbologia da ruína do Muro de Berlim

Durante 28 anos, o muro foi o símbolo mais visível da Guerra Fria entre as duas superpotências mundiais: EUA e URSS. O seu desaparecimento tem também um poder simbólico de longo alcance, pois a sua derrubada marca o fim de uma época, e o início de um novo tempo.

Ao longo dos vinte anos que nos separa do evento que verdades estabelecidas, muitas mudanças aconteceram no mundo, nem sempre da forma vaticinada pelos apresados profetas do fim da história.

Passados vinte duas decádas, desapareceram também a desconfiança de seus vizinhos de uma Alemanha unificada, hoje um dos fortes parceiros no processo de unificação política e econômica de uma Europa fortalecida. As reformas estruturais empreendidas na economia têm tido êxito, com imenso custo político, principalmente para o ex-ministro Helmut Kohl que ao lado o russo Mikhail Gorbatchov, os quais garantiram a reunificação pacífica.

A euforia do primeiro momento com a reunificação emudeceu. Berlim ainda é uma cidade dividida pelo ressentimento. A lição que a humanidade deve tirar disso é tudo fazer para que outros muros da vergonha não sejam construídos.

FRANCISCO MOREIRA
Historiador e professor da Unifor


FIQUE POR DENTRO
O muro do terror


A República Democrática Alemã gastou 870 milhões de marcos para erguer o Muro de Berlim e demais instalações da fronteira, que tinham o objetivo de dividir o lado Oriental do Ocidental. Somente na região metropolitana da capital alemã, a fortaleza tinha mais de 43 quilômetros de comprimento. Ao longo de seu percurso, interrompia oito linhas de trens urbanos, quatro de metrô e 193 ruas e avenidas. Além disso, o "gigante de concreto" atravessava 24 quilômetros de rios e cruzava 30 quilômetros de bosques. A fronteira de Berlim era controlada 24 horas por dia. Soldados armados em mais de 300 torres de observação vigiavam constantemente para evitar fugas ao lado Ocidental. A área da fronteira tinha 100 metros de largura, com diversos tipos de obstáculos. Esse território era conhecido como "faixa da morte". Documentos da Polícia secreta da Alemanha comunista, a Stasi, revelaram que mais de 75 mil alemães foram presos tentando escapar entre 1961 e 1989. Dos mortos, 250 foram baleados junto ao muro.

JULIANNA SAMPAIO
ESPECIAL PARA O INTERNACIONAL