Tensão entre Rússia e Turquia sobe de tom por ofensiva na Síria

O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, ordena uma ofensiva militar em Idlib, noroeste da Síria, enquanto Rússia rebate e adverte para o “pior cenário”

Escrito por Redação , mundo@svm.com.br
Legenda: Famílai deixa província de Idlib diante de tensão entre Rússia e Turquia
Foto: Foto: AFP

O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, anunciou, ontem, uma ofensiva militar de forma “iminente” em Idlib, noroeste da Síria, mas a Rússia lançou uma advertência contra estas pretensões. Sinal da extrema tensão na zona, Erdogan reiterou seu ultimato ao regime para que se retire antes do fim de fevereiro do leste de uma estratégica estrada e dos arredores dos postos de observação turco, em Idlib.

“A operação em Idlib é iminente”, disse Erdogan em um discurso no Parlamento.

“Estamos em contagem regressiva. São as últimas advertências”, insistiu.

De Moscou, o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, advertiu Erdogan de que “se trata de uma operação contra o poder legítimo da República síria e das Forças Armadas da República síria, o que seria, sem dúvida, o pior cenário”.

Estas ameaças acontecem no momento em que as conversas entre Ancara e Moscou, que apoia o governo Bashar al-Assad, não conseguiram reduzir a tensão na região de Idlib. “Infelizmente, nem as conversas realizadas no nosso país e na Rússia, nem as negociações no terreno nos permitiram chegar ao resultado que desejamos”, condenou Erdogan. “Estamos muito longe do ponto que queremos alcançar, é um fato. Mas as conversas (com os russos) continuarão”, acrescentou.

ONU

O emissário da ONU para a Síria alertou, ontem, o Conselho de Segurança das Nações Unidas para o “risco iminente de escalada”. “Não posso informar de nenhum avanço para dar fim à violência no noroeste (sírio) ou retomar o processo político”, lamentou Pedersen em uma reunião mensal do conselho. 

A Rússia se opôs, ontem, à adoção no Conselho de Segurança da ONU de uma declaração para pedir o fim das hostilidades e o respeito ao direito internacional humanitário no noroeste da Síria, impulsionada pela França, apontou o representante desse país, Nicolas de Rivière.

“A Rússia disse que não”, declarou Rivière a jornalistas, depois de uma reunião muito tensa do conselho a portas fechadas. 

Bastião rebelde

Apoiadas pela aviação russa, as forças de Damasco realizam nas últimas semanas um duplo ataque para recuperar este último bastião rebelde e jihadista. No início de fevereiro, as tensões aumentaram de várias maneiras quando os soldados turcos estacionados em Idlib no âmbito de um acordo entre Ancara e Moscou morreram em bombardeios sírios.

Em paralelo às advertências, a Turquia vem mobilizando há vários dias reforços militares na região de Idlib. “Fizemos todos os nossos preparativos para poder aplicar nossos próprios planos”, disse Erdogan. “Estamos decididos a fazer de Idlib uma região segura para a Turquia e para a população local, a qualquer custo”, acrescentou.

Êxodo em massa

Essas tensões também provocaram atritos entre Ancara e Moscou, que cooperam estreitamente na Síria desde 2016, apesar de seus interesses divergentes. Em 2018, os dois países alcançaram um acordo em Sochi (sul da Rússia), no intuito de silenciar as armas.

A Turquia vê com maus olhos o avanço do regime em Idlib, temendo um novo fluxo de deslocados para seu território. Cerca de 3,7 milhões de sírios se refugiam nesta área desde 2011.