Professores de Fortaleza esperam um maior interesse pelo hebraico

Aproximação diplomática do Brasil com Israel abre oportunidades para estudiosos de uma das línguas mais antigas do mundo

Escrito por Sérgio Ripardo ,
Legenda: Na capital cearense, ler livros sagrados, como a Torá, no idioma original é uma das razões para aprender o hebraico
Foto: Shutterstock

O hebraico é o idioma oficial de Israel e também uma das línguas mais antigas ainda em uso no mundo. A aproximação diplomática do Brasil com o país do Oriente Médio, como mostra a viagem do presidente Jair Bolsonaro à Nação, tende a despertar cada vez mais interesse nessa linguagem. Em Fortaleza, o aprendizado desse idioma é motivado pela necessidade de estudos de livros sagrados no texto original e de viagens à Terra Santa.

"Metade dos alunos busca aprender o hebraico por um motivo religioso. O judaísmo está mais acessível hoje", conta o professor Jónatas Cavalcante, um paulista filho de cearense e casado com cearense, com origens judaicas.

Na Cidade dos Funcionários, ele oferece aulas presenciais e também pela internet. Há dez anos, Cavalcante ensina o idioma oficial de Israel.

A perspectiva de maior presença de projetos israelenses no Brasil, após os acordos recém-assinados por Bolsonaro com o primeiro-ministro hebreu Benjamin Netanyahu, deve aumentar a demanda local por intérpretes e tradutores em hebraico.

"Com certeza, a realidade de Israel se aproxima do povo brasileiro. Hoje se percebe mais caravanas, pacotes de turismo do Ceará para Israel. Se a pessoa souber hebraico, ela pode aproveitar melhor sua viagem", exemplifica.

Teologia

Outras opções para se aprender a "língua dos judeus" na capital cearense são os grupos de estudo e cursos oferecidos na Faculdade Católica de Fortaleza (Seminário da Prainha) e na Igreja Peniel de Fortaleza, no Centro, indica o professor poliglota Farid Shauqi, que ensina hebraico nesses dois lugares. "Sou autodidata. Comecei a praticar o hebraico com turistas israelenses em Fortaleza, em 1985", lembra o cearense, que se considera um "eterno aprendiz".

Ele também fala outros idiomas, como o árabe, o persa, o armênio ocidental, alemão e o inglês. "Em breve, espero voos diretos entre Fortaleza e Tel Aviv, afinal, o Ceará é o local no Brasil mais perto do Oriente Médio", comenta.

O aprofundamento nos estudos da Torá, livro sagrado do judaísmo, é uma das razões para a procura pelo hebraico. "Há também quem busca ler 39 livros da Bíblia na língua original, de Gênesis a Malaquias", conta o professor Farid. Ele pondera, no entanto, que já teve alunos ateus, comunistas, que o interesse pelo hebraico não se limita à motivação religiosa. "Há sempre aquelas pessoas que gostam de viajar, de conhecer outros países, estudar outras línguas", ressalta.

Internet

Na avaliação dos dois professores de hebraico em Fortaleza, hoje está mais fácil aprender um idioma estranho à nossa cultura ocidental, graças aos recursos das aulas a distância e à variedade de recursos de multimídia da era digital.

"Nos anos 80, era mais difícil encontrar um dicionário, tudo era raro", observa Farid, acrescentando, no entanto, que antigamente a fantástica jornada de mergulhar em um idioma tinha mais "sabor", em comparação às facilidades contemporâneas de ouvir vídeos no YouTube ou encontrar nativos para treinar pronúncia e gramática.

Cavalcante, o professor do Curso Alef, explica que o tempo de aprendizado do hebraico vai depender da dedicação do aluno. O curso básico do idioma israelense dura três meses. São 12 aulas (uma hora e 15 minutos por semana, no mínimo). Os níveis intermediário e avançado do curso vão apresentando maiores desafios de fluência, conversação, leitura e audição.

A internet permite que estudantes estrangeiros também aprendam o hebraico a partir de Fortaleza.

"No curso a distância, atendo estudantes de hebraico até de outros países. Tenho, por exemplo, um aluno indiano", conta Cavalcante.

Ele destaca ainda que filhos de judeus buscam os cursos de hebraico para aprender o idioma nativo de seus pais - alguns com planos de trocar o Brasil por Israel. "Em terra de cego, quem tem olho é rei", resume o professor.

22 letras
Assim como no alfabeto árabe, no hebraico os textos são escritos da direita para a esquerda. O alfabeto hebraico é composto de 22 letras

Tatuagem
A Lei Judaica proíbe a tatuagem no corpo, mas palavras em hebraico são cada vez mais solicitadas em estúdios de tatuagem