Papa não menciona pedofilia

Escrito por Redação ,
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Na celebração da Quinta-feira Santa, Bento XVI condenou o aborto e a injustiça, mas não citou casos de abuso

Roma. O papa Bento XVI celebrou ontem a missa da Quinta-feira Santa, com a qual abriu os rituais litúrgicos da Semana Santa, marcada este ano por uma onda de escândalos e denúncias de pedofilia contra sacerdotes da Igreja Católica.

O pontífice afirmou que os cristãos não devem aceitar injustiças, como "o assassinato de crianças inocentes que ainda não nasceram", mas não citou os casos de pedofilia que assolam a Igreja Católica da Europa e Estados Unidos.

Durante a missa, celebrada na Basílica de São Pedro, no Vaticano, o papa comentou que "a luta dos cristãos consistia, e consiste, não no uso da violência, mas no fato que eles estavam, e ainda estão, prontos a sofrer pelo bem, por Deus".

Bento XVI recordou que Cristo, "apesar de ser coberto de insultos, não insultava". "Maltratado, não ameaçava com vinganças, e sim confiava naquele que julga com justiça", afirmou.

O papa fez referência aos sofrimentos de Cristo e assegurou que "a felicidade que vem de Cristo nos dá a capacidade de sofrer e, no sofrimento, seguir sendo profundamente felizes".

Pela manhã, o papa abençoou os óleos santos na missa crismal e, mais tarde, lavou, em sinal de humildade, os pés de 12 sacerdotes, o mesmo número de discípulos que acompanhou Cristo durante sua última ceia. Durante o ritual, os participantes foram convidados a doar dinheiro para a reconstrução do seminário de Porto Príncipe, no Haiti, destruído pelo terremoto de 12 de janeiro que devastou a ilha caribenha deixando um saldo de 220 mil mortos e cerca de 1,3 milhão de feridos.

Processo

Os advogados de vítimas de pedofilia cometidas por padres nos Estados Unidos querem que Bento XVI, acusado como responsável maior pela ocultação das denúncias na Igreja Católica, seja testemunha do processo. O Vaticano afirma, contudo, que o papa tem imunidade como chefe de Estado.

"O papa é certamente um chefe de Estado, que tem o mesmo status de todos os chefes de Estado", afirmou Giuseppe Dalla Torre, chefe do tribunal do Vaticano, em entrevista ao jornal "Corriere della Sera". De acordo com Dalla Torre, o papa tem, assim, imunidade nas cortes estrangeiras.

Os advogados de várias vítimas de abuso sexual cometidos por padres querem trazer o papa como testemunha, em uma tentativa de provar a negligência do Vaticano com este tipo de crime. O papa, contudo, é protegido pela imunidade diplomática concedida por mais de 170 países, incluindo os Estados Unidos, pelas suas relações com o Vaticano. Eles consideram o Vaticano um Estado soberano e o papa como seu líder.

Dalla Torre rejeitou ainda uma estratégia adotada por advogados de que os bispos americanos, alguns deles acusados de simplesmente transferir pedófilos de paróquia, poderiam ser considerados empregados do Vaticano, o que tornaria seu "chefe", o papa, responsável por seus atos. "A Igreja não é uma corporação multinacional. Ele tem primazia espiritual sobre a Igreja, mas casa bispo é responsável por comandar sua diocese", explicou.

O porta-voz do Vaticano, padre Federico Lombardi, afirmou, ontem, que Bento XVI vê o escândalo de pedofilia que assola a Igreja Católica da Europa e dos Estados Unidos como "um teste para si próprio e para a Igreja Católica". "O papa é uma pessoa de fé. Ele vê isso como um teste para ele e para a igreja", afirmou Lombardi, questionado como o papa está reagindo as denúncias de pedofilia.

Ontem, o líder da Igreja Católica nos Estados Unidos, cardeal Francis George, elogiou a atitude de Bento XVI frente as acusações de pedofilia. Segundo ele, o papa decidiu "de forma rápida" quais seriam os meios para combatê-la e curá-la. "Bento XVI foi o papa que nos deu meios e maneiras de fazer frente a essa crise rapidamente, inclusive de forma a ajudar para a cura", declarou o cardeal.

Segundo ele, o cardeal Joseph Ratzinger, atual papa, quando exercia o cargo de prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, "permitiu deixar os depredadores fora do sacerdócio e nos convidou a estender as mãos às vítimas".