Turquia anuncia abertura de fronteira para passagem de refugiados à UE

Refugiados seguiram para os pontos de passagem no norte, nas divisas com Grécia e Bulgária, e no oeste, perto das ilhas gregas de Lesbos e Chios, muitos se arriscando na travessia em barcos infláveis

Escrito por Estadão Conteúdo ,
Legenda: Centenas de imigrantes ficaram presos na fronteira entre Turquia e Grécia, porque esta reforçou a presença militar no local para que ninguém entrasse na União Europeia
Foto: AFP

A Turquia anunciou, nessa sexta-feira (28), a abertura de sua fronteira com a Europa por 72 horas para a passagem de refugiados, a maioria sírios. A decisão é uma resposta ao ataque sírio que matou 33 soldados da Turquia em Idlib, na quinta-feira (27), e seria uma tentativa do presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, de pressionar a União Europeia a apoiar sua ofensiva contra as forças de Bashar Assad no norte da Síria.

A abertura das fronteiras foi anunciada na TV estatal turca. Imediatamente, refugiados seguiram para os pontos de passagem no norte, nas divisas com Grécia e Bulgária, e no oeste, perto das ilhas gregas de Lesbos e Chios. Sem a presença da Guarda Costeira da Turquia, que foi orientada a não reagir, muitos se arriscaram na travessia em barcos infláveis.

Muitos imigrantes, temendo que a janela de 72 horas seja curta demais, organizaram caravanas de ônibus de Istambul para Edirne, última grande cidade antes da fronteira grega. Os governos de Grécia e Bulgária reforçaram a presença militar e garantiram que ninguém entraria na União Europeia.

"Eles não vão entrar na Grécia", afirmou à Reuters um funcionário do governo grego. "São imigrantes ilegais, não os deixaremos entrar."

O primeiro-ministro grego, Kyriakos Mitsotakis, também foi categórico pelo Twitter. "Um número significativo de migrantes e refugiados se reuniu em grandes grupos na fronteira terrestre grega-turca e tentou entrar no país ilegalmente. Quero deixar claro: nenhuma entrada ilegal na Grécia será tolerada", afirmou.

Mesmo com os alertas, a polícia grega teve trabalho, na sexta-feira, para conter cerca de 300 refugiados e empurrá-los de volta para a Turquia com bombas de gás lacrimogêneo e granadas de efeito moral.

Na outra fronteira terrestre da Turquia, com a Bulgária, a segurança também foi reforçada. O primeiro-ministro búlgaro, Boyko Borissov, anunciou o envio de mil homens para impedir a entrada de imigrantes e refugiados. O premiê se reunirá com Erdogan na segunda-feira (2) para discutir a crise.

Em Bruxelas, os burocratas europeus se assustaram quando viram as imagens, captadas por drones, de caravanas de refugiados atravessando campos, florestas e se aproximando da fronteira com a Grécia. Logo depois, a UE exigiu que Erdogan cumpra um acordo de 6 bilhões de euros (cerca de R$ 30 bilhões) para impedir a passagem de imigrantes. Segundo o tratado, em vigor desde 2016, a Turquia interromperia o fluxo de pessoas em troca do dinheiro.

Tensão na região

A nova crise entre Turquia e UE ocorre após Erdogan intensificar sua intervenção militar na Síria. Ele pretende ocupar uma vasta zona-tampão no norte do país para realocar os 3,6 milhões de refugiados detidos na Turquia e expulsar da fronteira os rebeldes curdos, considerados terroristas pelo governo turco.

O problema é que Assad vem recebendo ajuda russa há mais de quatro anos. Desde setembro de 2015, o ditador sírio vem retomando o território perdido, primeiro para os jihadistas do Estado Islâmico, depois para os rebeldes dissidentes, que lutam ao lado da Turquia.

> Tensão entre Rússia e Turquia sobe de tom por ofensiva na Síria

O último reduto dos opositores sírios e das forças turcas é a província de Idlib, onde ocorrem os maiores enfrentamentos. Na quinta-feira, um ataque de forças da Síria matou 33 soldados turcos na região. Irritado, Erdogan convocou uma reunião de emergência de seu gabinete.

Segundo autoridades do governo turco, ele mandou a polícia, a Guarda Costeira e os agentes de fronteira a não impedirem o trânsito de refugiados. Nos bastidores, diplomatas da UE acreditam que a medida seja uma forma de pressionar o bloco a dar mais apoio à operação militar turca na Síria.

Erdogan também tenta obter apoio da Otan, organização da qual a Turquia é membro, para criar uma zona de exclusão aérea em Idlib. A medida protegeria as tropas turcas de ataques de aviões russos e sírios. Até o momento, porém, os líderes da aliança atlântica tiveram uma reação tímida.

Escalada de tensão na Síria faz 800 mil deixarem suas casas

Nessa sexta, após reunião dos países da Otan, os representantes da organização expressaram solidariedade com a Turquia, mas rejeitaram qualquer ação militar e descartaram a zona de exclusão aérea. O secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, pediu apenas que Rússia e Síria interrompam os "ataques indiscriminados" e "respeitem a lei internacional".

Quanto a Moscou, Erdogan vem adotando cautela e evitando um confronto direto. Nessa sexta, os russos negaram qualquer participação no ataque que matou 33 soldados turcos. Em Ancara, no entanto, o governo turco vê com desconfiança as declarações do Kremlin, já que a Rússia comanda as ações aéreas em Idlib. No entendimento da Turquia, mesmo que não tenham participado da operação, os russos sabiam do bombardeio e não fizeram nada para impedi-lo. (Com agências internacionais)

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.