Trump vê Brasil pior do que vizinhos no controle de vírus e pede fim de voos

O presidente estadunidense disse ainda que planeja exigir que pessoas que chegam ao país, especialmente vindas do Brasil e de outros da América Latina, sejam testadas para coronavírus antes de embarcar

Escrito por Estadão Conteúdo ,
Legenda: Essa não é a primeira vez que Trump fala em proibir voos do Brasil
Foto: AFP

O presidente dos EUA, Donald Trump, disse, nessa terça-feira (28), que o Brasil passa por um grave surto de coronavírus e afirmou que o avanço da pandemia tem sido diferente, no caso brasileiro, do registrado em outros países da América Latina.

Em um encontro com o governador da Flórida, Ron DeSantis, na Casa Branca, o estadunidense sugeriu a suspensão dos voos do País para ajudar na contenção da doença.

Trump disse ainda que planeja exigir que pessoas que chegam aos EUA, especialmente vindas do Brasil e de países da América Latina, sejam testadas para coronavírus antes de embarcar. "Estamos elaborando um sistema pelo qual testaríamos (os passageiros) e estamos trabalhando com as companhias aéreas sobre isso", afirmou.

Atualmente, há nove voos semanais partindo do Brasil para os EUA em três rotas ainda em operação, segundo informações do governo estadunidense. Duas para a Flórida e uma para o Texas. Até agora, a Casa Branca não restringiu a chegada de brasileiros, mas recomendou que viagens não essenciais ao país sejam evitadas e os que voltarem do Brasil fiquem em casa por 14 dias.

A Embaixada dos EUA em Brasília vem alertando que os estadunidenses no Brasil retornem imediatamente ou se preparem para ficar por tempo indefinido onde estão. O encontro com DeSantis, um republicano, foi para discutir a retomada das atividades econômicas na Flórida, após um mês de quarentena na maior parte do Estado.

"O Brasil tem um surto sério, como vocês sabem. Eles também foram em outra direção da tomada por outros países da América do Sul. Se você olhar os dados, vai ver o que aconteceu, infelizmente, com o Brasil", afirmou Trump. "Então, estamos olhando muito de perto e em coordenação com outros governadores, especialmente com o Ron (DeSantis)."

DeSantis garantiu que está preocupado com a questão em razão da "evolução dos contágios no Brasil" e em outros lugares que têm muita interação com Miami. O governador, porém, foi um pouco comedido, principalmente quando Trump lhe perguntou se pensa em "cortar voos" do Brasil. "Não necessariamente", respondeu o governador da Flórida. "Se você precisar, nos avise", disse Trump, sugerindo que pode interromper os voos, se for o caso.

Os EUA são atualmente o epicentro mundial da pandemia de coronavírus. O país ultrapassou, nessa terça, a marca de 1 milhão de infectados, com quase 60 mil mortos. As autoridades estadunidenses, no entanto, têm comemorado alguns resultados que sugerem que o pico da disseminação já passou, especialmente em Nova York.

Essa não é a primeira vez que Trump fala em proibir voos do Brasil. No fim de março, o presidente estadunidense disse que estava observando o crescimento dos casos de coronavírus no País e afirmou que considerava impor algumas restrições de viagens.

O presidente estadunidense tem evitado comentar a posição de seu colega brasileiro, Jair Bolsonaro, que tem minimizado a gravidade da disseminação do coronavírus, apesar de já ter sido questionado duas vezes sobre o tema na última semana. "Estamos realmente analisando alguma restrição", disse Trump, há um mês, sobre a limitação da entrada de brasileiros.

Também em março, um funcionário do alto escalão do Departamento de Segurança Interna dos EUA disse que a força-tarefa da Casa Branca vinha reavaliando diariamente a necessidade de novas restrições. Ao falar sobre a América Latina, mencionou especificamente o Brasil como o país que mais preocupa o governo.

No fim de janeiro, os estadunidenses restringiram os voos da China. Depois, impuseram limitações a voos de Irã, União Europeia, Reino Unido e Irlanda. As medidas restringem a entrada de estrangeiros. Apenas estadunidenses ou moradores com status de residentes permanentes são admitidos.

Consultado pelo jornal O Estado de S. Paulo, o governo brasileiro disse que não vai se manifestar sobre as declarações do presidente estadunidense. O objetivo de Brasília, no momento, é evitar atritos diplomáticos com Trump.

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