Protestos e a presença militar aumentam nas ruas do Líbano

As manifestações começaram com o anúncio de uma nova taxa sobre as chamadas realizadas via WhatsApp, em um país cuja vida cotidiana não para de degradar, com cortes incessantes de água e eletricidade, 30 anos após o fim da guerra civil (1975-1990)

Escrito por AFP ,
Legenda: Os soldados e as forças de segurança são mais numerosos nos arredores dos pontos de conflito
Foto: AFP

As grandes manifestações no Líbano contra as autoridades continuam a ganhar força, apesar das medidas anunciadas pelo governo, e o Exército aumentou sua presença nas ruas.

A mobilização, longe de diminuir após as reformas apresentadas pelo governo na segunda-feira, ganhou terreno em Beirute, onde desde o amanhecer se multiplicaram as barricadas dos manifestantes nas ruas que levam ao centro da cidade.

Os soldados e as forças de segurança também são mais numerosos nos arredores dos pontos de conflito, de acordo com jornalistas da AFP, que constataram a presença de veículos blindados. "Foi tomada a decisão de abrir as principais estradas para facilitar a circulação dos cidadãos", disse uma fonte militar à AFP.

Uma barricada foi retirada para desbloquear o acesso norte de Beirute e o Exército, até agora  bastante discreto, começou a se mobilizar. Bancos, escolas e universidades permanecem fechados até novo aviso.

Hassan, de 27 anos, e seus amigos não se deixaram impressionar pelos soldados, quando estes retiraram as barreiras que haviam instalado no meio da rua. Os jovens sentaram-se quietos no chão, com bandeiras libanesas, e os militares recuaram. A rua permaneceu bloqueada. "O sentimento de medo desapareceu!", gritou Hassan. 

Michel Khairallah, um jovem garçom, quer "bloquear o país até a vitória". O que significa até o estabelecimento de um novo governo "sem ministros corruptos", composto por "pessoas jovens e competentes" capazes de levar o país adiante.

Pelo sétimo dia consecutivo, estão previstas manifestações no norte e no sul do país. Na terça-feira, dezenas de milhares de pessoas se reuniram em Beirute e Trípoli, no norte.

O plano de reforma econômica apresentado na segunda-feira pelo primeiro-ministro Saad Hariri não mudou a situação, apesar de incluir medidas muito simbólicas, como a redução dos salários dos ministros e deputados. "Muito pouco, muito tarde?", questionou o jornal L'Orient le Jour. 

Por enquanto, nenhum líder emergiu da mobilização. Na terça-feira, surgiu um "comitê de coordenação da revolução", que fez um discurso na Praça dos Mártires em Beirute, mas sua representatividade não convenceu completamente.

Um grupo de economistas propôs seus serviços para tentar encontrar soluções. Os protestos surgiram após o anúncio, em 17 de outubro, de uma nova taxa sobre as chamadas feitas através do serviço de mensagens WhatsApp.

Este novo imposto atingiu em cheio a população de um país cuja vida cotidiana não para de degradar, com cortes incessantes de água e eletricidade, 30 anos após o fim da guerra civil (1975-1990). Sem esquecer uma classe política no poder há décadas, acusada de corrupta e de ser incapaz de encontrar soluções.

Por sua parte, Hariri, que mantém boas relações com a comunidade internacional, crê num apoio financeiro do exterior para ajudar a avançar o país. Na terça, ele se reuniu com os embaixadores da França e dos Estados Unidos, dois países amigos, para convencê-los da solvência de seu plano de emergência. Ele espera, acima de tudo, desbloquear um fundo de 11 bilhões de dólares, prometido em abril de 2018 em uma conferência em Paris em troca de reformas estruturais.