Ofensiva de Trump põe sobrevivência da Huawei em xeque, dizem especialistas

Gigante chinesa terá dificuldades para driblar os obstáculos colocados pela Casa Branca nos seus planos do 5G

Escrito por AFP ,
Legenda: EUA tentam impedir que a chinesa Huawei domine a nova tecnologia do 5G
Foto: AFP

Ao impedir o acesso da Huawei à tecnologia americana, Donald Trump mira no calcanhar de Aquiles da gigante chinesa de smartphones, comprometendo sua viabilidade, segundo analistas. 

A Huawei, líder mundial de material de telefonia móvel e número dois em smartphones, tem um ponto fraco: sua dependência da tecnologia americana de chips eletrônicos, usados em seus celulares. 

>EUA adiam sanções contra Huawei por três meses

Alegando motivos de segurança nacional, o presidente Donald Trump proibiu os grupos americanos de comercializar com empresas estrangeiras de telecomunicações consideradas perigosas - tendo como alvo principal a Huawei, suspeita de espionagem para o governo chinês. 

Esse é um duro golpe contra os grupos americanos, de quem a Huawei é um dos maiores clientes. Contudo, para a gigante chinesa sediada em Shenzhen, no sul do país, ele pode ser fatal. 

"O pior seria um corte total de seu acesso à tecnologia americana", avalia o gabinete de assessores Eurasia Group. A Huawei "sem dúvidas não poderia sobreviver em seu formato atual". 

Imediatamente após a decisão do governo Trump, a Google anunciou no domingo que iria cortar laços com a Huawei. O grupo chinês depende da gigante americana e seu sistema operacional Android, usado na maioria dos smartphones do mundo.

"Revés considerável"

Sem o Android, dificilmente a Huawei conseguirá convencer os clientes a comprarem seus smartphones, sem apps como Gmail, Google Maps e YouTube - apenas entre os mais conhecidos. 

"Trata-se de um revés considerável para a divisão de smartphones da Huawei", observa o professor Ryan Whalen, do Centro de Direito e Tecnologia da Universidade de Hong Kong.

A Huawei afirma estar elaborando seu próprio sistema operacional, mas o atual duopólio formado pelo Android e pelo iOS, da Apple, parece impossível de ser destronado - como mostram os fracassos da Nokia, da Blackberry e da Microsoft neste setor. 

Graças a seu material de redes, a Huawei é uma líder inquestionável do 5G, a quinta geração de telefonia móvel, que vai permitir um acesso ultrarrápido à internet. 

Contudo, mesmo nesta área a Huawei pode estar vulnerável: anualmente, compra US$ 67 bilhões em materiais e equipamentos, US$ 11 bilhões deles de fabricantes americanas. 

De acordo com a Eurasia, as grandes fabricantes de chips - Qualcomm, Qorvo e Texas Instruments - já suspenderam suas entregas à Huawei, à espera de que as coisas se acalmem, bem como as desenvolvedores de softwares Oracle e Microsoft.

Isso poderia "comprometer totalmente" as ambições da Huawei no 5G, alerta o gabinete.

Peão?

O fundador da Huawei, Ren Zhengfei, ex-engenheiro do Exército chinês, descarta estes temores e garante que o grupo tem reservas de chips e pode produzi-los sozinho.

Contudo, especialistas do setor não estão convencidos.

"Não há nenhuma possibilidade de que a empresa sobreviva de forma duradoura (...) sem acesso à cadeia de fornecimento mundial" afirma Eurasia.

A Huawei de fato criou sua própria filial de produção de chips eletrônicos, a HiSilicon, mas esta filial também será afetada pelas sanções americanas.

O grupo chinês, privado, mas não cotado na bolsa, pode contar com o apoio do governo comunista. Contudo, sua sobrevivência vai depender, em grande medida, das verdadeiras intenções do presidente dos Estados Unidos - que pode se satisfazer com usá-lo como mero peão em sua guerra comercial contra Pequim.

Para resistir aos ataques de Washington, a Huawei aposta no apoio dos europeus, a quem o governo Trump tenta afastar do grupo chinês.

Um dos objetivos de isolar tecnologicamente a Huawei é forçar os europeus a deixar de lado o grupo chinês para a instalação do 5G, segundo o Eurasia. 

Vários países, como Alemanha, França e Holanda resistem à ofensiva norte-americana por ora. Mas no caso uma pressão crescer por parte de Washington, "será muito difícil para a UE continuar trabalhar com a Huawei", alerta Guntram Wolff, diretor do "think tank" de Bruxelas, Bruegel.