Incêndio em Notre-Dame: o que se sabe até agora

Milhões de pessoas em todo o planeta acompanharam horrorizadas a evolução das chamas, que arderam intensamente durante mais de 12 horas

Escrito por Redação ,
Legenda: O incêndio da catedral Notre-Dame durou mais de 12 horas
Foto: Foto: Geoffroy Van Der Hasselt / AFP

incêndio que arrasou parte da catedral de Notre-Dame de Paris foi apagado nesta terça-feira (16), mas ainda persistem dúvidas sobre a resistência da estrutura que sobrou.

Milhões de pessoas em todo o planeta acompanharam horrorizadas a evolução das chamas, que arderam intensamente durante mais de 12 horas, depois que o incêndio começou na parte superior da catedral gótica, destruindo parte do teto e sua emblemática flecha.

Na manhã desta terça-feira (16), o porta-voz do Corpo de Bombeiros de Paris, Gabriel Plus, anunciou que o incêndio está totalmente apagado. As chamas se "propagaram muito rapidamente pelo conjunto do teto, em quase 1.000 metros quadrados", explicou.

Agora os bombeiros vigiam as estruturas, sua movimentação e trabalham para "apagar os focos residuais", completou.

O trabalho dos bombeiros prossegue diante dos olhares tristes de parisienses e turistas, que aproximaram para observar o estado da catedral.

O que causou

Após apagar o fogo que destruiu parte da catedral, as autoridades agora trabalham na perícia para identificar o que causou o incêndio desta segunda (15). Os bombeiros indicam que a tragédia está "potencialmente ligada" ao trabalho de reformas da construção.

O procurador de Paris afirmou nesta terça-feira (16) que as autoridades privilegiam a pista de acidente para o incêndio que devastou a catedral, ao declarar que "nada aponta para um ato voluntário".

"Cinco empresas trabalham no local. Hoje começaram a prestar depoimento os operários destas empresas. Estão previstos 15. Quinze atuaram, estiveram presentes ontem (segunda-feira)", afirmou Rémy Heitz à imprensa diante da catedral, antes de indicar que a polícia judicial mobilizou quase 50 investigadores para o caso.

O que não foi consumido pelo fogo

Legenda: Parte da estrutura de Notre-Dame, como um terço do teto, paredes de pedra e alguns vitrais, resistiu ao incêndio
Foto: Foto: Ludovic Marin / POOL / AFP

Parte da estrutura de Notre-Dame, como um terço do teto, paredes de pedra e alguns vitrais, resistiu ao incêndio que devastou a catedral parisiense, mas vulnerabilidades foram detectadas no prédio, em particular na abóbada, declarou o secretário de Estado do Interior, Laurent Nuñez. 

"O fogo está sufocado, agora a principal preocupação (...) é garantir que o prédio não tenha rachaduras", disse o funcionário do governo à imprensa. "Globalmente, a estrutura resiste", mas "algumas vulnerabilidades foram identificadas, particularmente na abóbada e uma trecho do transepto norte, que deve ser reforçado", explicou. 

"A tarefa dos bombeiros de Paris até esta manhã era preservar os dois campanários, Norte e Sul, para assegurar que as torres não fossem afetadas".

As estátuas monumentais que decoravam o teto da catedral também escaparam por pouco da tragédia, depois que foram enviadas na semana passada ao sudoeste da França para um processo de restauração, mas o galo relicário que coroava a flecha (a torre do templo) queimou antes de ser enviado para a renovação.

Vítimas

O incêndio que atingiu Notre-Dame nesta segunda-feira (15) não fez vítimas fatais, mas um bombeiro e dois policiais ficaram feridos. Segundo o corpo de bombeiros, o fogo que tomou conta da parte superior da igreja teve início às 18h50 no horário local (13h50 no horário de Brasília), logo após o fim do horário de visitação do público, às 18h45 na hora local. A polícia prontamente isolou a área.

"Agora começamos uma missão de tentar salvar as preciosas obras de arte e estamos dando prioridade de ampliar a segurança nas imediações para proteger os turistas e os vizinhos dos riscos de desmoronamento", afirmou o vice-prefeito a um canal de TV local.

Reconstrução

Legenda: Após apagar o incêndio na catedral Notre-Dame, agora os bombeiros vigiam as estruturas, sua movimentação e trabalham para "apagar os focos residuais"
Foto: Foto: Bertrand Guay / AFP

Milionários e doadores privados estão se mobilizando para financiar a longa e custosa reconstrução da catedral de Notre-Dame, destruída em parte pelo incêndio. Para reconstruir o templo, que anualmente recebe 13 milhões de visitantes - uma média de 35 mil pessoas por dia - serão necessários artesãos especializados e madeiras raras.

A restauração poderá custar centenas de milhões de euros e se prolongar por vários anos, até mesmo décadas, embora especialistas afirmem que as consequências poderiam ter sido piores.

O presidente da França, Emmanuel Macron, prometeu reconstruir o emblemático edifício gótico. A UNESCO, com sede em Paris, prometeu trabalhar com a França para restaurar a catedral, inscrita desde 1991 em sua lista de patrimônios da humanidade. 

"Já estamos em contato com especialistas e preparados para enviar uma missão urgente para avaliar os danos, salvar o que pode ser salvo e começar a tomar medidas para o curto e médio prazo", disse Audrey Azoulay, secretário-geral da agência da ONU, em comunicado.

As promessas de doações já atingem quase 500 milhões de euros.

O bilionário francês Bernard Arnault, proprietário do grupo LVMH, especializado em produtos de luxo, anunciou na terça-feira (16) que doará 200 milhões de euros (226 milhões de dólares) para a reconstrução.

A oferta foi feita depois que a Kering, grupo de moda fundado por outro bilionário francês, François Pinault, ofereceu 100 milhões de euros para "reconstruir completamente Notre-Dame".

Por sua vez, a prefeita de Paris, Anne Hidalgo, disse nesta terça (16) que a cidade financiaria a reconstrução com 50 milhões de euros e propôs uma conferência internacional para coordenar as doações e restaurar o edifício.

A Heritage Foundation, uma organização francesa financiada por fundos privados, pede doações em seu site. Houve também apelos semelhantes através do site de crowdfunding Leetchi.

Notre-Dame e sua importância histórica

A catedral de Notre-Dame é um símbolo da cultura europeia e testemunha da história da França. Localizada no coração de Paris, às margens do rio Sena, a igreja guarda várias relíquias veneradas pelos católicos, um órgão de notáveis dimensões e numerosas obras de arte.

Nos saques e pilhagens que ocorreram no local durante a Revolução Francesa e nos motins de 1831, esta joia de estilo gótico perdeu uma parte de suas obras-primas. Seu tesouro litúrgico, que era um dos mais ricos da França até desaparecer em 1789, foi sendo reconstruído pouco a pouco.

A réplica mais valiosa guardada na Notre-Dame é a Santa Coroa, que os católicos acreditam que foi usada por Jesus pouco antes de ser crucificado. Esta relíquia escapou das chamas desta segunda, assim como a túnica de São Luís, um dos reis mais famosos da França, que também é guardada na catedral, segundo seu reitor.

Além da Santa Coroa, Notre-Dame conserva outras duas relíquias da Paixão de Cristo: um pedaço da Cruz e um cravo. Por outro lado, o galo que ficava no topo da torre que caiu nesta segunda-feira (15) trazia no topo a Coroa de Espinhos, uma relíquia de San Dionísio e outra de Santa Genoveva.

Além disso, a catedral ainda abriga órgãos construídos no século XV, três rosáceas que representam as flores do paraíso, 37 representações da Virgem Maria, algumas delas esculpidas no século XIV, e o sino Bourdon, que pesa 13 toneladas e foi fundido há 300 anos.

A catedral de Notre-Dame também é conhecida no mundo inteiro graças à obra do escritor Victor Hugo "O corcunda de Notre-Dame", romance adaptado um grande número de vezes para o cinema, em especial pelos estúdios Disney, ou transformado em comédia musical. Foi para salvar o monumento, fortemente degradado, que o escritor começou a escrever esta obra, em 1831.

Com informações da AFP.