Greve geral em Barcelona é marcada por confronto entre manifestantes e policiais

Cerca de meio milhão de catalães protestam contra a condenação de líderes separatistas, julgado pelas Justiça espanhola por terem iniciado um movimento de independência em 2017

Escrito por AFP ,
Legenda: A Suprema Corte espanhola impôs sentenças de nove a 13 anos a nove líderes separatistas por causa da tentativa de secessão de 2017
Foto: Foto: Pau Barrena/AFP

Depois de várias noites de violência, mais de meio milhão de separatistas catalães se manifestaram nas ruas de Barcelona nesta sexta-feira (18), em um dia de greve geral contra a condenação de seus líderes pelos tribunais espanhóis.

No quinto dia seguido de protestos, a cidade foi palco de novos confrontos entre manifestantes e policiais - como mostram o asfalto queimado e as janelas quebradas -, a elegante avenida do Paseo de Gracia recebeu uma maré humana amarela, vermelha e azul, as cores da bandeira da independência. 

Segundo a polícia municipal, 525.000 pessoas participavam da mobilização contra a condenação de seus líderes pela justiça espanhola.

O ambiente festivo contrastava com outro protesto a poucas ruas de distância, com centenas de jovens que ergueram barricadas com lixeiras em chamas e lançaram objetos contra os agentes que protegiam a sede da Polícia Nacional.

Os policiais responderam com balas de borracha e bombas de gás lacrimogêneo e prenderam quatro manifestantes, todos menores, de acordo com fontes oficiais, enquanto 25 pessoas foram atendidas nos hospitais da cidade.

Milhares de pessoas que partiram na quarta-feira de cinco cidades da província, com faixas e bandeiras independentistas, começaram a entrar em Barcelona para a grande manifestação.

"Estamos há muitos anos reivindicando com muita paciência e queremos que isto seja o gatilho para a situação mudar", disse David Blanco, um agente comercial de 56 anos que se juntou à última etapa da marcha.

Catalunha sob uma nuvem de gás

Na metrópole catalã, onde milhares de estudantes já estavam mobilizados, os efeitos da greve eram claros.

Mesmo pessoas contrárias à independência da região também foram às ruas.

Josue Condez, de 34 anos e não separatista, se envolveu em uma bandeira espanhola, também queria participar da mobilização contra uma "sentença desproporcional" da Suprema Corte, que impôs sentenças de nove a 13 anos a nove líderes separatistas por causa da tentativa de secessão de 2017. 

"Sinto-me catalão e espanhol, não sou separatista, mas não podemos infligir 13 anos de prisão a um político eleito por organizar um referendo (ilegal), mais do que por homicídio", afirmou o técnico ferroviário.

Depois de um início mais tranquilo, eclodiram confrontos entre militantes radicais que atiravam pedras e outros objetos contra a polícia perto da delegacia central da cidade. Vários focos de incêndios eram mostrados pelas televisões locais.

A Basílica da Sagrada Família fechou suas portas em razão de um protesto, enquanto a Ópera do Liceu cancelou sua programação e a maioria dos estandes do mercado Boqueria, muito famoso entre os turistas, permaneceram fechados.

No aeroporto, 57 voos foram cancelados, segundo sua administradora Aena. E várias estradas da região foram bloqueadas nas primeiras horas da manhã, segundo fontes locais.

"Sou catalã, mas não apoio este projeto separatista de maneira alguma. A gente se deixa manipular, e a juventude muito mais", protestava Carmen Isern, uma mulher de 75 anos cujos filhos estavam participando da greve desta sexta.

No quinto dia da mobilização contra as penas de 9 a 13 anos de prisão anunciadas na segunda-feira contra seus dirigentes pela tentativa de secessão em 2017, um sindicato independentista convocou esta greve geral para paralisar a região, que representa um quinto do PIB espanhol.

A montadora Seat paralisou suas atividades na fábrica de Martorell, perto de Barcelona, que emprega mais de 6.500 pessoas. 

"Os prejuízos econômicos para a Catalunha já são consideráveis", declarou a número dois do governo espanhol, Carmen Calvo.

Os distúrbios na Catalunha também provocaram o adiamento da partida de 26 de outubro entre o FC Barcelona e o Real Madrid. Os clubes terão que fixar uma nova data para o clássico.

"Queremos falar, queremos votar, queremos decidir. Ver se nos escutam. Se não, continuaremos aqui na rua", disse Elisenda Casadellà, estudante de 22 anos.

Novas barricadas

Este dia de mobilização foi precedido por uma noite de violência em Barcelona.

Centenas de jovens, aos gritos de "independência", montaram barricadas no centro da cidade e lançaram coquetéis molotov na polícia, segundo jornalistas da AFP no local.

Uma agência bancária e uma loja de roupas foram saqueadas, de acordo com a polícia regional, que disparou balas de borracha contra os manifestantes.

Terça e quarta-feira, Barcelona já havia experimentado essas cenas de guerrilha urbana após os primeiros confrontos na segunda-feira durante o bloqueio do aeroporto por cerca de 10 mil manifestantes.

Segundo a polícia, mais de 110 pessoas foram presas desde o início da semana, incluindo 16 na quinta-feira à noite. Um total de 42 pessoas ficaram feridas na região na quinta, incluindo 36 em Barcelona, segundo os serviços de emergência.

O Ministério do Interior informou o número de mais de 200 policiais feridos desde o início da violência.

Nascida da frustração de uma parte da base separatista, dois anos após o fracasso da tentativa secessionista de 2017, essa violência marca um ponto de virada para o movimento separatista, que sempre se gabou de não ser violento. 

A violência "prejudica seriamente as instituições e a reputação internacional da Catalunha", disse o ministro do Interior, Fernando Grande-Marlaska.

Nas ruas de Barcelona, como no resto da região, a questão da independência divide. Segundo a última pesquisa publicada em julho pelo governo regional, 44% da população é a favor da independência, enquanto 48,3% é contra.