EUA e Turquia cobram esclarecimentos da morte de jornalista saudita

Donald Trump e Recep Tayyip Erdogan conversaram, por telefone, sobre o assassinato de Jamal Khashoggi

Escrito por AFP ,

Os presidentes de Turquia e Estados Unidos, Recep Tayyip Erdogan e Donald Trump, concordaram nesta sexta-feira - em conversa por telefone - que o assassinato do jornalista saudita Jamal Khashoggi precisa ser totalmente esclarecido e que não deve se permitir qualquer encobrimento.

"Os dois líderes concordaram que é preciso esclarecer totalmente o assassinato de Jamal Khashoggi e que qualquer encobrimento do incidente não deve ser permitido", informou um funcionário da presidência.
 

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A conversa ocorreu um dia após o procurador-geral da Arábia Saudita denunciar 11 dos 21 suspeitos detidos por suposto envolvimento no crime, mas isentar o poderoso príncipe herdeiro Mohamed bin Salmán.

Jamal Khashoggi, jornalista colaborador do "Washington Post" e crítico do atual regime saudita, foi visto pela última vez entrando no consulado saudita em Istambul, no dia 2 de outubro. As autoridades turcas afirmam que o jornalista foi executado e esquartejado.

O próprio Erdogan afirma que a ordem para assassinar o jornalista partiu "dos mais altos níveis do governo" em Riad, mas não chegou a apontar diretamente o príncipe Mohamed bin Salman, conhecido como MBS.

Homenagem

Dezenas de pessoas realizaram nesta sexta-feira em Istambul uma oração funerária simbólica em homenagem a Khashoggi, no mesmo dia em que a imprensa turca revelou haver mais provas que desacreditam a versão do assassinato dada pela Arábia Saudita.

Ante um espaço vazio, tradicionalmente reservado para um caixão em frente à mesquita de Fatih, os amigos de Khashoggi fizeram uma oração pelos ausentes, um ritual do Islã para os mortos cujos corpos foram destruídos ou não foram encontrados.

"Como estamos convencidos de que o corpo nunca será encontrado, decidimos organizar essa oração pela salvação da alma de Jamal", disse Fatih Öke, diretor da Associação de Mídia Árabe Turca (TAM), da qual o jornalista era membro. 

A cerimônia, que foi realizada sob chuva, "é também uma mensagem enviada ao mundo para dizer que o homicídio não ficará impune, a justiça será feita", disse Ibrahim Pekder, um habitante de Istambul que assistiu ao tributo.

Os cartazes exibidos pelos amigos de Khashoggi diante da mesquita não deixam dúvidas sobre suas suspeitas, com a palavra "mártir" sob o rosto do jornalista, e a inscrição "assassino" sob a do príncipe herdeiro Mohamed bin Salman, conhecido como "MBS". 

Nova provas

A Turquia dispõe de provas, em particular de uma segunda gravação de áudio, que contradizem a versão do procurador saudita sobre o assassinato de Khashoggi, afirmou o jornal Hürriyet.

O procurador-geral saudita pediu na quinta-feira pena de morte para cinco acusados por seu papel no assassinato de Khashoggi. 

Ele afirmou que o jornalista foi drogado, assassinado e esquartejado no consulado de seu país em Istambul no dia 2 de outubro, mas isentou de qualquer culpa o príncipe herdeiro. 

De acordo com o procurador saudita, uma equipe viajou a Istambul com a missão de transportar de volta o jornalista por bem ou por mal, mas mas o chefe do grupo tomou a decisão de matá-lo sem consultar os superiores hierárquicos.

Os restos mortais do jornalista, de 59 anos, foram depois entregues a um agente do lado de fora do consulado. O influente colunista Abdulkadir Selvi, próximo ao governo turco, afirma no jornal Hürriyet que uma gravação de áudio em poder das autoridades de Ancara demonstra que em nenhum momento aconteceu uma tentativa de negociar com Khashoggi para convencê-lo a retornar à Arábia Saudita.

De acordo com Selvi, o jornalista não foi drogado e sim estrangulado ou asfixiado "com uma corda ou uma sacola de plástico". O colunista afirma ainda que as forças de segurança turcas têm uma segunda gravação de áudio de 15 minutos feita antes do assassinato que não permite dúvidas sobre o caráter deliberado do crime.

No áudio é possível "ouvir a equipe saudita conversando sobre como vão matar a Khashoggi, revisando o plano preparado com antecedência e recordando a cada um dos integrantes o papel que devem desempenhar", informa Selvi.

"Também há provas obtidas após o assassinato, como ligações telefônicas internacionais feitas pela equipe saudita", completa. O homicídio se tornou um escândalo de escala global. Na quinta-feira, os Estados Unidos anunciaram sanções econômicas contra 17 autoridades sauditas envolvidas neste assassinato, entre elas pessoas próximas ao príncipe-herdeiro, assim como o cônsul-geral em Istambul, Mohammed Al Otaibi.