Esquerda italiana faz exigências por aliança

O Partido Democrático quer se distanciar da gestão dos últimos 14 meses aplicada por Salvini, líder da Liga, que manteve uma política de portos fechados aos navios de ONGs que têm resgatado imigrantes em alto-mar

Escrito por Estadão Conteúdo ,
Legenda: O secretário-geral do PD, Nicola Zingaretti pediu que, caso haja uma aliança, o novo gabinete seja diferente do anterior quanto ao programa e à equipe governamental
Foto: Vincenzo Pinto / AFP

O Partido Democrático da Itália (PD), de centro-esquerda, fez exigências ontem ao Movimento 5 Estrelas (M5S) para integrar uma coalizão de governo, entre elas o respeito à União Europeia. O objetivo é evitar eleições antecipadas ainda neste ano, o que poderia levar o ministro do Interior, Matteo Salvini, ao cargo de primeiro-ministro. A movimentação entre o PD e o M5S ocorre um dia depois da renúncia do primeiro-ministro Giuseppe Conte, após ruptura entre o M5S e a Liga, liderada por Salvini.

Fontes do PD explicaram à agência EFE que foram feitas cinco exigências, entre elas o respeito e a lealdade à filiação da Itália à União Europeia (UE) e o compromisso para fomentar que o projeto comum supere suas carências e avance para uma Europa de direitos, liberdades, solidariedade e sustentabilidade ambiental e social.

Além disso, o partido de esquerda exigiu que haja um “ponto de inflexão na organização e administração dos fluxos migratórios com base nos princípios de solidariedade, legalidade, segurança e direitos humanos, em pleno cumprimento dos convênios internacionais e em estreita corresponsabilidade com as instituições e governos europeus”.

O PD quer se distanciar da gestão dos últimos 14 meses aplicada por Salvini, líder da Liga, que manteve uma política de portos fechados aos navios de ONGs que têm resgatado imigrantes em alto-mar. 

O PD também quer acordar com o M5S um “novo programa econômico e social centrado na igualdade social, territorial, geracional e de gênero”, que fomente o investimento em crescimento com atenção à sustentabilidade ambiental e ao desenvolvimento, e exista pleno reconhecimento às instituições democráticas, à Constituição e ao papel central desempenhado pelo Parlamento na Itália.

As fontes indicaram que, se houver essas condições, o Partido Democrático estará disposto a formar um Executivo que dure e tenha como objetivo imediato a elaboração do Orçamento-Geral para 2020 visando a potencialização do crescimento em uma economia estancada.

O secretário-geral do PD, Nicola Zingaretti, criticou em declarações à imprensa o governo do M5S e da Liga, “responsável por uma paralisia da economia, um empobrecimento generalizado, um setor empresarial mais pobre e um isolamento sem precedentes da Itália no cenário europeu e internacional”.

Zingaretti pediu que, se o PD e o M5S constituírem uma aliança, o novo gabinete será totalmente diferente do anterior quanto ao programa e à equipe governamental.

As duas forças parlamentares tentam somar forças para evitar eleições antecipadas e, ao mesmo tempo, evitar o avanço do partido de ultradireita Liga, de Salvini, que impulsionou uma política de linha dura contra os imigrantes. 

Nas eleições legislativas de 2018, o Movimento 5 Estrelas obteve 32% dos votos, enquanto que o Partido Democrático foi a segunda legenda mais votada, com pouco mais de 17%. No entanto, pesquisas recentes mostram que o partido de extrema direita Liga conquistaria 38% dos votos em novas eleições nacionais. 

O presidente Sergio Mattarella reuniu-se ontem com os presidentes da Câmara e do Senado para discutir sobre a crise política e a possibilidade de os partidos com maiores bancadas no Parlamento formarem alianças.

Enquanto Salvini aguardava ontem sua vez de apresentar seus argumentos a Mattarella, qualificou qualquer tentativa de formar uma coalizão como uma conspiração contra ele. O ministro do Interior insistiu que os eleitores deveriam determinar quem os governará. “Qualquer governo que nascer será um governo contra a Liga”, disse Salvini a jornalistas que lhe perguntaram sobre as negociações entre o Movimento 5 Estrelas e o Partido Democrático. 

A crise foi justamente provocada por Salvini, que havia anunciado o fim de sua aliança com o M5S e pedido uma moção de desconfiança contra Conte, esperando provocar a antecipação das eleições e capitalizar com sua elevada popularidade. (Com agências internacionais)