Erdogan exige que Assad afaste tropas dos postos de observação turcos na Síria

A escalada de tensão entre Turquia e Síria acontece após os violentos e inéditos confrontos entre tropas sírias e turcas na segunda-feira (3) na província de Idlib, último reduto jihadista e rebelde, que deixaram mais de 20 mortos

Escrito por AFP ,
Legenda: Resgate de vítimas do desabamento de um prédio após conflitos entre Síria e Turquia, na região de Idlib
Foto: AFP

O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, fez nesta quarta-feira (5) um ultimato ao governo de Bashar al-Assad para que recue na região noroeste da síria, depois que vários confrontos provocaram atrito entre Ancara e Moscou, aliado de Damasco. Apesar das advertências, as forças do regime sírio prosseguiam com o avanço no noroeste do país.

Nas últimas 24 horas, as tropas sírias reconquistaram 20 cidades e vilarejos dos rebeldes e jihadistas no sul da província de Idlib, informaram a ONG Observatório Sírio para os Direitos Humanos (OSDH) e a agência estatal síria Sana.

As forças governamentais estão agora a menos de um quilômetro da localidade estratégica de Saraqeb, situada no cruzamento das rodovias M5, M4 e da estrada que leva a a Idlib, capital da província de mesmo nome, indicou o OSDH.

A escalada de tensão entre Turquia e Síria acontece após os violentos e inéditos confrontos entre tropas sírias e turcas na segunda-feira (3) na província de Idlib, último reduto jihadista e rebelde, que deixaram mais de 20 mortos.

O governo sírio, com o apoio da aviação russa, intensificou os ataques a partir de dezembro para ganhar terreno em Idlib, chegando inclusive a cercar dois postos de observação construídos por Ancara como parte de um acordo assinado em 2018 com Moscou.

"Dois de nossos 12 postos de observação estão atrás das linhas do regime. Esperamos que o regime se retire de nossos postos de observação até o fim de fevereiro", afirmou Erdogan em um discurso em Ancara. "Se o regime não se retirar, a Turquia será obrigada a agir sobre o assunto", completou.

Na segunda-feira, tiros da artilharia síria mataram oito soldados turcos. Ancara respondeu com bombardeios contra posições sírias que deixaram pelo menos 13 mortos.

Erdogan disse que transmitiu a mensagem ao presidente russo Vladimir Putin, principal aliado do governo sírio, em uma conversa telefônica na véspera. Ele destacou que o ataque contra as forças turcas era uma "guinada" no conflito sírio. "Não deixaremos que as coisas continuem como antes, quando o sangue dos militares turcos foi derramado", afirmou.

"Responderemos sem nenhum aviso a qualquer novo ataque contra nossos militares ou contra os combatentes (rebeldes sírios) com os quais cooperamos", reiterou o presidente.

A Turquia, que apoia alguns grupos rebeldes sírios, assinou com a Rússia vários acordos de cessar-fogo em Idlib, último reduto da oposição no noroeste da Síria. 

Apesar dos pactos, o governo da Síria, com o apoio da aviação russa, intensificou nas últimas semanas a ofensiva na província fronteiriça com a Turquia e, em seu avanço, cercou alguns postos turcos.

Os combates dos últimos dois meses no noroeste da Síria deixaram 520.000 deslocados, segundo a ONU. Esta situação preocupa a Turquia: mais de 3,6 milhões de pessoas se refugiaram em seu território desde o início do conflito na Síria em 2011. A guerra na Síria provocou mais de 380.000 mortes.