Energia volta aos poucos na Venezuela após quase 24 horas de apagão

País sul-americano vive um dia de caos em meio à crise econômica, social e política

Escrito por AFP ,
Legenda: Aeroporto internacional Simón Bolivar, em Maiquetia, ficou sem eletricidade devido ao apagão que atingiu o país
Foto: AFP

O serviço de eletricidade era restabelecido aos poucos em Caracas e outras regiões da Venezuela, após um apagão de quase 24 horas que afeta todo o território, o pior já registrado no país, segundo informações de moradores. Amplos setores da capital e da periferia começaram a recuperar o serviço por volta do meio-dia, assim como em regiões dos estados de Miranda, Vargas - onde fica o aeroporto internacional e o porto principal -, Anzoátegui (leste) e Bolívar (sul). Mas em alguns pontos de Caracas e em outras regiões do país, a retomada do fornecimento foi interrompida e o apagão voltou a estas zonas.

"Na minha casa a luz já chegou, mas perdi todo o dia porque não pude trabalhar, cada dia é um problema. É um caos a Venezuela que temos", disse  um pedreiro de 50 anos, no leste da capital.

A situação caótica foi provocada pelo apagão maciço, que começou na quinta-feira às 16h50 locais (17h50 de Brasília): hospitais colapsados, voos cancelados do aeroporto internacional Simón Bolívar e outros terminais aéreos, muitas casas sem água, comércios fechados. Muitos caminharam horas devido à falta de transportes.

Diante da situação, o autoproclamado presidente Juan Guaidó insistiu que todos participem na manifestação que ele já havia convocado para este sábado. "A solução da crise é o cessar da usurpação. Por isso o chamado é para amanhã nas ruas", tuitou Guaidó.

Desde quinta-feira, o governo do presidente Nicolás Maduro acusa os Estados Unidos de liderar uma "guerra elétrica" e fala de "sabotagem imperialista".

O governo tomou a decisão "com o objetivo de facilitar os esforços para a recuperação do serviço de energia elétrica no país, vítima da guerra elétrica imperialista", tuitou a vice-presidente da Venezuela, Delcy Rodríguez. 

Durante o apagão, a Venezuela ficou isolada, com as fronteira fechadas. A economia parou, pois ninguém conseguia sacar dinheiro dos caixas eletrônicos. Na quinta-feira, o serviço de telefonia e o metrô de Caracas interromperam os serviços, o que obrigou milhares de pessoas a caminhar por quilômetros até suas casas.

"Até o telefone está desligado, o calor insuportável, estamos sem água. O país está virando um desastre", disse Armando Cordero, de 57 anos.

A partida entre Deportivo Lara e Emelec do Equador pelo Grupo B da Copa Libertadores - prevista para quinta-feira em Barquisimeto - foi reprogramada para a tarde de sexta-feira. 

De acordo com a imprensa, o apagão afeta praticamente todo o país, com cortes em 23 dos 24 estados e na capital. As linhas telefônicas e a internet funcionam de modo intermitente.

Especialistas responsabilizam o governo socialista pela falta de investimentos na manutenção da infraestrutura em meio a uma grave crise econômica, mas autoridades denunciam atos de "sabotagem".

"Guerra elétrica"

Na quinta-feira à noite, o ministro da Comunicação, Jorge Rodríguez, denunciou uma sabotagem "crimina, brutal", que pretende deixar a Venezuela sem energia elétrica durante "vários dias" e a acusou o senador americano Marco Rubio.

Rubio, duro crítico do governo de Nicolás Maduro, fez piada ao retuitar um vídeo de Rodríguez: "Não, não é o Dr. Evil do filme Austin Powers. É 'Caracas Bob' (...) que revelou como eu sabotei pessoalmente uma central hidrelétrica e provoquei um apagão de amplitude nacional".

"A guerra elétrica anunciada e dirigida pelo imperialismo americano contra nosso povo será derrotada. Nada nem ninguém poderá vencer o povo de Bolívar e Chávez. Máxima união dos patriotas", escreveu Maduro no Twitter.

O presidente socialista mantém um duro confronto com o governo de Donald Trump, que reconheceu o presidente do Parlamento, Juan Guaidó, como chefe de Estado interino da Venezuela, como outros 50 países.

Há um ano, Maduro ordenou à Força Armada ativar um plano especial para proteger as instalações do  sistema elétrico diante da "guerra" para gerar o descontentamento popular, mas as falhas persistem.

Sabotagem

A empresa estatal Corporação Elétrica Nacional (Corpoelec) denunciou, sem apresentar detalhes, um ato de sabotagem na central de Guri, localizada no estado de Bolívar.

"Sabotaram a geração em Guri... Isso faz parte da guerra elétrica contra o Estado. Não permitiremos. Estamos trabalhando para recuperar o serviço", publicou no Twitter a Corpoelec.

Guri é uma das maiores represas geradoras de energia da América Latina, atrás apenas da de Itaipu, entre Brasil e Paraguai.

"Temos El Guri, Tocoma e Caruachi. Temos Planta Centro e Tacoa. Temos água, petróleo e gás. Mas lamentavelmente temos um usurpador em Miraflores", tuitou Guaidó.

A queda de energia na Venezuela também afetou o estado brasileiro de Roraima, cujo fornecimento de energia depende de Guri, e as autoridades tiveram que ativar suas cinco usinas termelétricas na quinta-feira para garantir energia.

A economia do país sofre: o bolívar, a moeda local, sofreu uma gigantesca desvalorização e a hiperinflação deve chegar 10.000.000% em 2019, de acordo com as projeções do FMI.

A situação provoca uma falta de cédulas, pois a nota de maior valor, 500 bolívares, equivale a apenas 15 centavos de dólar, o que é insuficiente para comprar uma bala. Desta maneira, as transações eletrônicas são indispensáveis, inclusive para operações pequenas como comprar pão.

A oposição e vários especialistas culpam o governo socialista pela falta de investimento na manutenção da infraestrutura em meio à grave crise econômica, mas altos funcionários venezuelanos frequentemente denunciam atos de "sabotagem".