Efeito estufa na Terra pode ficar irreversível, alertam cientistas

Aquecimento global de 2ºC pode desencadear um ‘efeito dominó’ nos processos da Terra e agravar o atual quadro

Escrito por Redação ,

Sydney/Tóquio. A Terra precisa urgentemente de uma transição para uma economia verde porque a contaminação por combustíveis fósseis ameaça empurrar o planeta para um duradouro e perigoso estado de “efeito estufa”, alertaram pesquisadores em novo estudo internacional.

Nas últimas semanas, várias regiões do Hemisfério Norte tem sofrido com as altas temperaturas. Na Califórnia (EUA), o calor provocou aquele que já é o maior incêndio da história do Estado. A Grécia também sofreu com as chamas há poucas semanas. Espanha e Japão têm registrado mortes por conta da onda de calor. O país europeu já contabiliza nove perdas humanas e o asiático cerca de 140.

Se o gelo polar continuar derretendo, as florestas encolhendo e os gases de efeito estufa, aumentando a novos máximos – como acontece atualmente a cada ano–, a Terra chegará a um “ponto de inflexão”, isto é, a um ponto de dano irreversível.

Cruzar esse limiar “garante um clima de 4 a 5 graus Celsius superior à era pré-industrial, e níveis do mar entre 10 e 60 metros mais altos do que os de hoje”, advertiram cientistas nas Atas da Academia Nacional de Ciências. E isso “poderia acontecer em apenas algumas décadas”, advertiram.

Terra estufa

“É provável que uma Terra Estufa seja incontrolável e perigosa para muitos”, alerta o artigo escrito por cientistas da Universidade de Copenhague, da Universidade Nacional da Austrália e do Instituto de Pesquisas de Efeitos Climáticos de Potsdam, na Alemanha.

Ao fim do século ou até mesmo antes, os rios transbordariam, as tempestades causariam estragos nas comunidades costeiras e os arrecifes de coral desapareceriam.

A média das temperaturas globais poderia exceder a de qualquer período interglacial – isto é, nas épocas mais quentes entre as Eras do Gelo– do último 1,2 milhão de anos. O degelo polar produziria níveis do mar dramaticamente mais altos, inundando as terras costeiras onde vivem centenas de milhões de pessoas.

“Lugares na Terra se tornarão inabitáveis se a ‘Terra Estufa’ virar realidade”, disse o coautor do estudo Johan Rockstrom, diretor-executivo do Stockholm Resilience Center. Os pesquisadores sugerem que o ponto de inflexão poderia ocorrer quando o aquecimento do planeta Terra se situar 2° Celsius acima dos níveis pré-industriais. 

O planeta já aqueceu 1°C em relação à era pré-industrial e continua esquentando à velocidade de 0,17°C por década.

“Um aquecimento de 2°C poderia ativar elementos de inflexão importantes, elevando ainda mais a temperatura para ativar outros elementos de inflexão em um efeito dominó, que poderia fazer a temperatura do sistema da Terra aumentar ainda mais”, frisou o estudo.

“Essa cascata poderia inclinar todo o sistema da Terra para um novo modo de operação”, disse o coautor Hans Joachim Schellnhuber, diretor do Instituto de Pesquisas de Efeitos Climáticos de Potsdam. Os especialistas também estão preocupados com outros fenômenos, como os incêndios florestais, que se propagarão à medida que o planeta se tornar mais quente e seco e têm o potencial de acelerar o acúmulo de dióxido de carbono e o aquecimento global.

Recorde na Califórnia

O Mendocino Complex já se tornou o pior incêndio da história da Califórnia, nos Estados Unidos, e continuou avançando ontem sem que os bombeiros consigam conter as chamas, que já arrasaram mais de 117,6 mil hectares. O Departamento Florestal e de Proteção Contra Incêndios da Califórnia (Cal Fire) informou que o fogo está 34% controlado, o que representa uma leve melhora em relação ao dia de ontem, quando 30% das chamas estavam contidas. No entanto, nas últimas 24 horas, o incêndio continuou se espalhando, arrasou mais 7 mil hectares e superou o recorde de Thomas, que até agora era o maior da história da Califórnia. 

 

No ano passado, ele deixou 113,8 mil hectares devastados nos condados de Ventura e Santa Barbara.

Estudo ‘seletivo’

Afirmar que 2°C é um ponto sem retorno “é novo”, disse Martin Siegert, codiretor do Instituto Gratham no Imperial College de Londres, que não participou do estudo. Os autores do estudo “coletaram ideias e teorias previamente publicadas para apresentar uma narração sobre como ocorreria o cruzamento do limiar”, disse. “É bastante seletivo, mas não disparatado”.

Segundo os cientistas, as pessoas devem mudar imediatamente seus estilos de vida para serem melhores tripulantes da Terra. Os combustíveis fósseis devem ser substituídos por fontes de energia com emissões baixas ou nulas, e deveriam ser criadas mais estratégias para absorver as emissões de carbono, como pôr fim ao desmatamento e plantar árvores para absorver o dióxido de carbono.

Na lista de ações está a gestão do solo, melhorar práticas agrícolas, a conservação de terras e costa e as tecnologias de captura de carbono. No entanto, mesmo se os humanos deixassem agora de emitir gases de efeito estufa, a tendência atual de aquecimento poderia desencadear outros processos do sistema Terra, que levariam a um aquecimento ainda maior, como o degelo polar.