Dezenas de membros da facção PCC fogem de prisão no Paraguai

Detentos usaram um túnel para escapar

Escrito por Redação ,

Cerca de 75 presos ligados ao Primeiro Comando da Capital (PCC) fugiram neste domingo (19), da Penitenciária Regional de Pedro Juan Caballero, no Paraguai, próximo à fronteira com o Brasil. Um túnel foi encontrado no local, embora o governo acredite que parte dos criminosos tenha escapado pela porta da frente, com a cumplicidade de funcionários do presídio.

Em entrevista coletiva, a ministra da Justiça do país, Cecilia Pérez, ressaltou que o ministério denunciou em dezembro a existência de um plano de "fuga ou resgate" do PCC, pelo qual agentes penitenciários receberiam US$ 80 mil pela liberdade de líderes da facção. O efetivo policial foi reforçado nos presídios, mas não foi possível conter a fuga. A ministra considerou o caso "extremamente grave e sem precedentes" e colocou o cargo à disposição do presidente paraguaio, Mario Abdo Benítez.

Um dos fugitivos, segundo o governo paraguaio, é David Timóteo Ferreira, considerado o líder do PCC dentro do sistema penitenciário do Paraguai. Outros seis são tidos como matadores de aluguel ligados ao tráfico.

O ministro do Interior do país, Euclides Acevedo, anunciou alerta máximo de segurança. Ele afirmou que é possível que alguns dos presos já tenham escapado para o Brasil. Outros ainda podem estar no país. A maioria dos fugitivos é altamente perigosa, disse o ministro. "Agora, o principal objetivo é recapturá-los e disponibilizá-los ao Ministério Público", afirmou.

A Polícia de Ponta Porã (MS), na fronteira do Brasil com o Paraguai, encontrou três veículos queimados na BR-463, próximo ao distrito de Sanga Puitã, do lado brasileiro da linha internacional que separa os dois países. Como o achado se deu logo após a fuga , o secretário da Justiça e Segurança Pública de Mato Grosso do Sul, Antonio Carlos Videira, também acredita que parte dos criminosos fugiu para o Brasil.

Ele disse que 200 policiais de várias forças foram deslocados para a região. "São homens da Polícia Rodoviária Estadual, do Departamento de Operações de Fronteira, além de equipes do Bope, Choque e Garra da capital (Campo Grande), com apoio de helicóptero nosso. Vamos fechar não só a fronteira, mas também as divisas com os Estados de São Paulo, Paraná e Goiás, pois já temos a informação de que muitos dos fugitivos são brasileiros de fora do nosso Estado", disse.

O secretário informou ter feito contato com a Polícia Rodoviária Federal (PRF), com as secretarias desses Estados e com a Guarda Nacional do Paraguai para ações conjuntas.

"Nossa inteligência está em contato ininterrupto com a polícia do Paraguai para troca de informações e, se necessário, de documentos. Pode haver casos de presos de lá que não tenham mandado de prisão aqui. Vamos dar apoio incondicional a eles nesse caso, pois interessa à nossa segurança", disse. Segundo o secretário, as seguranças de terminais rodoviários, aeroportos e postos de fiscalização foram colocadas em alerta.

Minotauro

Aliados do traficante brasileiro Sérgio de Arruda Quintiliano, o "Minotauro", um dos principais líderes do PCC, preso em fevereiro de 2018 pela Polícia Federal brasileira, estão entre os 75 detentos que fugiram do presídio de Pedro Juan Caballero, na madrugada deste domingo, 19. Do total, 40 são brasileiros e 35 paraguaios. Conforme o Ministério da Justiça do país vizinho, os presos deixaram os dois pavilhões da penitenciária por um túnel de 25 metros de comprimento, mas não se descarta o envolvimento de responsáveis pela segurança do presídio na fuga em massa.

Os presos apontados por ligações com 'Minotauro' são os brasileiros Julio César Gomes, de 29 anos; Ailton Botelhos dos Santos, 35; Felipe Diogo Fernandes Dias, 25; Rafael de Souza, 25 e Luciano de Souza Martins, 26, além do paraguaio Marcos Paulo Valdez Moreira, de 25 anos. 'Minotauro' estava à frente da guerra do PCC contra facções rivais pelo controle do tráfico de drogas e armas na fronteira. O traficante brasileiro foi preso em fevereiro do ano passado em um apartamento, em Balneário Camboriú, litoral de Santa Catarina. Ele cumpre pena em penitenciária federal, no Brasil.

Na lista de presos estão outros nomes de destaque do PCC, como os de Claudinei Predebon e Cícero Fernando de Lima Almeida, presos em 2018, em uma mansão de Pedro Juan Caballero quando, supostamente, preparavam o resgate de detentos do PCC. Com eles foram apreendidos 16 celulares, carros de luxo, pistolas Glock de fabricação austríaca e munição para fuzil. Três meses após a prisão, eles foram soltos por um juiz paraguaio - a soltura ainda é objeto de investigação. No ano passado, a dupla voltou a ser presa com armas. Os dois são suspeitos da prática de execuções ordenadas pelo PCC.

Outro fugitivo, Timóteo David Ferreira, apontado com um dos responsáveis por recrutar paraguaios para a facção, protagonizou polêmica entre a Justiça e a polícia do país, ao ser enviado por uma juíza para uma clínica médica, quando havia um plano para seu resgate. A transferência foi suspensa por ordem do Tribunal de Justiça. Timóteo havia sido preso com outros seis integrantes da facção em maio de 2017, em Pedro Juan, com três fuzis, grande quantidade de munição, drogas e quatro veículos usados em ações criminosas.

Guerra

A guerra entre as facções causou ao menos 130 mortes por execuções emboscadas na região nos três últimos anos, segundo as autoridades paraguaias. Só a cidade brasileira de Ponta Porã, que é separada de Pedro Juan Caballero por uma avenida, registrou 54 homicídios em 2018, a maioria ligada com o tráfico. Em 2018, a cidade de 95,6 mil habitantes tinha registrado 32 assassinatos.

No dia 14 deste mês, o Departamento de Estado dos Estados Unidos elevou o nível de alerta aos americanos em viagens a parte do Brasil, incluindo a fronteira com o Paraguai, em Mato Grosso do Sul. A recomendação foi no sentido de evitar uma distância menor que 150 km da fronteira, devido ao risco de violência.

No sábado, horas antes da fuga de presos no presídio de Pedro Juan Caballero, a Polícia Nacional do Paraguai estava mobilizada para prender os autores das execuções que vitimaram, o ex-prefeito de Bella Vista Norte, Julio Cesar Rojas Vadora, assassinado a tiros quando assistia a uma partida de futebol do Deportivo Ybyturuzú, equipe local. Também foi morto o chefe da Secretaria Nacional de Erradicação da Malária (Sanepa), Alejandro Malberti Delgado, que estava com Rojas. Outras três pessoas ficaram feridas.

Os assassinos entraram no estádio em uma motocicleta e fizeram disparos com uma submetralhadora contra a arquibancada. Conforme a polícia, o alvo dos disparos seria o ex-prefeito. Houve pânico e correria e os executores aproveitaram a confusão para fugir. Até a tarde deste domingo, os suspeitos não tinham sido presos.

Moro

O ministro Sérgio Moro, da Justiça e Segurança Pública, disse no Twitter neste domingo que a pasta está trabalhando com forças de segurança estaduais para impedir que criminosos que fugiram de um presídio no Paraguai retornem ao País. Setenta e cinco detentos integrantes da facção Primeiro Comando da Capital (PCC) fugiram da Penitenciária Regional de Pedro Juan Caballero, próxima à fronteira com o Brasil, neste domingo.

"Se voltarem ao Brasil, ganham passagem só de ida para presídio federal", prometeu Moro.

"Estamos trabalhando junto com as forças estaduais para impedir a reentrada no Brasil dos criminosos que fugiram de prisão do Paraguai."

O ministro ainda garantiu ajuda ao país vizinho para recapturar os criminosos.

"O Paraguai tem sido um grande parceiro na luta contra o crime."