Curto-circuito é a hipótese mais provável para incêndio na Notre-Dame

Investigação está em andamento para descobrir o que realmente provocou as chamas

Escrito por AFP ,
Legenda: Investigadores começam a levantar hipóteses sobre o que exatamente ocorreu para provocar fogo na Notre-Dame
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Investigadores ouvidos pelo canal britânico de televisão Sky News apontaram, nesta quinta-feira, que um curto-circuito na rede elétrica é a hipótese mais provável para explicar a causa do incêndio que destruiu, na última segunda-feira, parte da Catedral de Notre-Dame, no coração de Paris.

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"Acredita-se que o fogo começou acidentalmente, e os investigadores estão interrogando os funcionários da Catedral e dos trabalhadores da construção civil encarregados das obras", informou a emissora. Pelo menos 40 pessoas estão prestando depoimento às autoridades.

A França avalia  opções distintas, como a construção de uma catedral efêmera, para manter a Notre-Dame viva durante as obras que já começaram, com o reforço de alguns pontos fragilizados da construção, enquanto homenageia "heróis" que a salvaram.

Cerca de 600 bombeiros trabalharam durante toda a noite de segunda-feira para apagar o fogo que derrubou a torre e parte do teto da famosa catedral parisiense, evitando um desastre ainda pior. 

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Sessenta agentes continuavam vigiando nesta quinta a estabilidade da estrutura do prédio e consolidando três pontos vulneráveis apontados por especialistas.

"O país e o mundo inteiro estavam nos observando e vocês foram exemplares", declarou o presidente da França, Emmanuel Macron, que recebeu nesta quinta cerca de 300 agentes no Palácio do Eliseu.

"Vocês são o exemplo perfeito do que deveríamos ser", acrescentou, louvando a coragem desses homens e mulheres, a quem concederá a medalha de ouro da França, reconhecendo seu "valor e devoção". 

Notre-Dame, o monumento histórico mais visitado da Europa - recebeu 12 milhões de turistas de todo o mundo no ano passado - se salvou "por 30 minutos" graças ao trabalho heróico dos bombeiros de Paris, garantiu o secretário do Interior, Laurent Nuñez.

Pontos de vulnerabilidade

A prefeita de Paris, Anne Hidalgo, também prestou homenagens nesta quinta aos bombeiros e outros socorristas que ajudaram a salvar obras de arte do interior da catedral gótica de 850 anos, em uma cerimônia pública nos arredores do quartel da capital.

"Eles salvaram, colocando suas vidas em risco, parte de nós mesmos", disse, celebrando a "coragem sem limites" dos bombeiros, aclamados por uma multidão debaixo do sol de Paris. "Queremos hoje expressar nossa gratidão infinita, nosso reconhecimento eterno", acrecentou. 

O ministro da Cultura, Franck Riester, informou nesta quinta que três dias após o incêndio continua havendo a preocupação de que partes da construção possam despencar. 

Um corredor lateral, onde estão vitrais em forma de rosa, e o frontão ocidental, entre os dois sinos, ainda corriam perigo, detalhou, mas já há equipes trabalhando para consertá-los. 

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Reconstrução em cinco anos?

Na terça, em discurso à nação, Macron esboçou uma estratégia ambiciosa de reconstruir Notre-Dame em cinco anos - um plano recebido com ceticismo por alguns especialistas. 

Para Denis Dessus, presidente da Ordem de Arquitetos da França, "partir do princípio de que é preciso reconstruir rapidamente monumento quase milenar é um erro". "É importante não reduzir o tempo dos estudos que determinam a pertinência das obras", afirmou. 

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Também veio à tona um debate entre especialistas sobre qual Notre-Dame reconstruir. Deve-se manter o modelo gótico medieval ou imaginar uma nova estrutura, adaptada aos tempos modernos?

"O arquiteto-chefe dos monumentos históricos terá que decidir se devem reconstruir a versão descrita por Victor Hugo, a que conhecemos pela interpretação neogótica de Viollet-le-Duc, ou se devemos imaginar uma catedral do século XXI", explicou Dessus.

Quanto à flecha que coroava a catedral, o governo anunciou nesta quarta-feira um concurso internacional de arquitetura para decidir se e como será substituída e estrutura de 93 metros, que foi construída no século XIX pelo arquiteto francês Eugène Viollet-le-Duc, após a original, construída em 1250, mas muito debilitada, foi retirada no fim do século XVIII.

Durante os trabalhos de reconstrução, uma catedral efêmera de madeira será erigida em frente à catedral parisiense.

"Quero um lugar lindo (...), um pouco simbólico, que atraia", explicou nesta quinta o reitor de Notre-Dame, Patrick Chauvet, em entrevista à emissora CNews. 

No lugar, aberto ao público, segundo explicou, terá sacerdotes "para poder falar" e acolherá também os "curiosos" e turistas que visitan cada ano Notre-Dame.