Confrontos deixam mais mortos no Iraque e governo bloqueia Internet

Em um país isolado do mundo, sem Internet e sem redes sociais, franco-atiradores que o Estado diz não poder identificar atiraram contra a multidão durante cinco dias

Escrito por AFP ,
Legenda: Desde o início do movimento popular que reivindica a "queda do regime" mais de 270 pessoas morreram - manifestantes em sua maioria
Foto: AFP

Mais mortos, confrontos perto dos prédios oficiais de Bagdá e no principal porto do país, somados a um longo bloqueio de Internet levam a temer, nesta terça-feira (5), que o Iraque mergulhe no caos.

Desde o início do movimento popular que reivindica a "queda do regime", lançado em 1º de outubro, mais de 270 pessoas morreram - manifestantes em sua maioria, de acordo com balanço feito pela AFP.

Nas últimas 36 horas, pelo menos dez manifestantes foram mortos pelas forças da ordem na capital. Ainda assim, na praça Tahrir, os manifestantes garantem "não ter medo". Em várias cidades do sul, os governos estão paralisados por um movimento de desobediência civil.

A segunda-feira (4), começou com sangue em Kerbala, ao sul de Bagdá, e terminou com um bloqueio de Internet entre meia-noite e 9 horas, despertando as dolorosas lembranças do início do mês. Em um país isolado do mundo, sem Internet e sem redes sociais, franco-atiradores que o Estado diz não poder identificar atiraram contra a multidão durante cinco dias.

De 1º a 6 de outubro, segundo o boletim oficial das autoridades, 157 pessoas foram assassinadas. Depois de 18 dias de relativa calma para a maior peregrinação xiita do mundo, o protesto foi retomado em 24 de outubro.

Porto bloqueado
Desde ontem, a violência se intensificou. Quatro manifestantes foram mortos na madrugada de segunda na cidade santa xiita de Kerbala. Lá, os manifestantes tentaram incendiar o consulado iraniano.

Também houve confrontos no centro de Bagdá, com a polícia atirando balas reais contra a multidão. Segundo fontes médicas, duas pessoas morreram.

Os embates aconteceram, principalmente, em pontes que levam à embaixada do Irã, à sede do governo e aos Ministérios das Relações Exteriores e da Justiça. Durante a noite, um manifestante foi morto pela polícia em Nassiriya.

Na província petroleira de Basra, os manifestantes bloqueiam há vários dias a estrada que leva ao porto de Umm Qasr, vital para as importações. A maioria dos navios deixou o local sem poder descarregar sua carga, relata uma fonte portuária.

No início do mês, quando a Internet ainda estava fora do ar, as forças de segurança atiraram na multidão, matando dois manifestantes. Em outras partes do sul, em Nassiriya e Diwaniya, os piquetes paralisam os prédios públicos.

Nos últimos dias, a ira das ruas se concentrou no Irã, país que atua no Iraque, assim como os Estados Unidos. Diante da crise, o general Qasem Soleimani, comandante das forças de operações exteriores do Exército ideológico iraniano, multiplicou as visitas ao Iraque. E os comentários do líder supremo iraniano, Ali Khamenei, que denuncia uma "conspiração" americana e israelense, exacerbaram a ira dos iraquianos.

"São os iranianos que dirigem o país. Preferimos morrer a permanecer sob seu jugo", declarou hoje uma manifestante na praça Tahrir, onde uma forca e um simbólico "tribunal do povo" foram instalados na segunda à noite.