Brasil e México fazem rodada de negociações para livre-comércio

Estudo realizado pela Funcex (Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior), identifica 346 produtos que podem ser favorecidos em um acordo comercial com o México

Escrito por Folhapress ,

Negociadores de Brasil e México discutem nos próximos dias 19 e 20 a metodologia para retomada das conversas de um acordo de livre-comércio com potencial para zerar tarifas de 205 produtos brasileiros, de acordo com levantamento encomendado pela CNI (Confederação Nacional da Indústria).

O estudo, realizado pela Funcex (Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior), identifica 346 produtos que podem ser favorecidos em um acordo comercial com o México. Desses, 136 já são exportados para o vizinho dos Estados Unidos. Os demais 210 têm potencial para venda ao país governado por Andrés Manuel López Obrador.

O levantamento da Funcex avalia que 205 grupos de produtos poderiam ter a tarifa zerada, sendo 82 já vendidos ao México e 123, não. São máquinas e equipamentos, químicos, borracha, metalurgia e produtos alimentícios cujas exportações poderiam ser beneficiadas com um acordo que eliminasse a cobrança de tarifas.

Diego Bonomo, gerente-executivo de comércio exterior da CNI, afirma não ser possível estimar quanto o aumento da exportação desses produtos para o México poderia gerar em valores. Para fazer essa estimativa, seria necessário desenhar um modelo econométrico com variáveis que não foram contempladas no estudo.

Bonomo afirma ver uma disposição maior das duas partes em fechar um acordo de livre-comércio, especialmente após uma mudança de humor do México, que passou mais de duas décadas priorizando o Nafta (tratado comercial com os Estados Unidos e o Canadá). No ano passado, o presidente americano, Donald Trump, conseguiu renegociar o pacto, qualificado pelo republicano como o "pior acordo comercial" já assinado.

O Brasil, então, poderia ser beneficiado com essa maior predisposição dos mexicanos para diversificar seus parceiros de negócios. "O México tem as vantagens que os países da América do Sul têm, porque não há uma barreira de língua relevante, é um país que tem uma economia estável e que tem acesso preferencial aos mercados americano e canadense", afirma o gerente da CNI.

O Brasil poderia expandir suas exportações agrícolas, enquanto o México se beneficiaria mais ao ampliar as vendas de bens industriais. Ainda há, no entanto, resistências bilaterais.

A gente é muito competitivo na agricultura e existe um temor do México em relação à nossa agricultura. E tem um desinteresse dos Estados Unidos de o Brasil ter um acordo com o México, porque os EUA hoje acessam o mercado mexicano preferencialmente, principalmente na agricultura.

"Se o México fizer um acordo em pé de igualdade conosco, nós vamos passar a competir em pé de igualdade com os americanos dentro do mercado mexicano". Por causa do interesse defensivo, Bonomo considera que qualquer acordo que represente uma ampliação significativa dos pactos já existentes com o México já seria uma boa notícia.

Hoje, o Brasil possui dois acordos em vigor com o México, um de preferências fixas que contempla cerca de 800 produtos e outro que regula o comércio automotivo e de partes. As tratativas atuais começaram em 2015, ainda no mandato da ex-presidente Dilma Rousseff (PT).

O México é o oitavo principal destino das exportações brasileiras. No acumulado do ano até agosto, US$ 3,18 bilhões foram destinados ao país. A nação da América do Norte, por outro lado, vendeu US$ 2,87 bilhões ao Brasil no mesmo período – 7º lugar no ranking.

As negociações com o México representam o mais recente capítulo nos esforços do Brasil para abrir sua economia. O Brasil também já iniciou conversas por um acordo comercial com os americanos e acredita que o acordo entre a União Europeia e o Mercosul será ratificado.