Bolsonaro recebe credenciais de embaixadora indicada por Guaidó

Contrários à decisão, a avaliação dos militares no Planalto é que, ao entregar cartas credenciais a uma representante da oposição, o presidente brasileiro envia uma "provocação desnecessária" a Nicolás Maduro

Escrito por FolhaPress ,
Legenda: A representante de Juan Guaidó havia sido desconvidada da cerimônia desta terça (4), mas foi reincluída na lista
Foto: Foto: Federico Parra / AFP

Contrariando o conselho de seus assessores militares, o presidente Jair Bolsonaro recebeu, nesta terça-feira (4), as cartas credenciais da embaixadora para o Brasil do autoproclamado presidente da Venezuela, Juan Guaidó, em cerimônia no Palácio do Planalto.

Na semana passada, a Folha de S.Paulo mostrou que María Teresa Belandria - indicada por Guaidó para representá-lo no Brasil em fevereiro - havia sido desconvidada da cerimônia desta terça, da qual também participam os novos chefes das missões diplomáticas de México, Colômbia, Paraguai, Arábia Saudita, Peru, Guiné e Indonésia.

Ela foi reincluída na lista de participantes de última hora.

Na tradição diplomática, a apresentação das credenciais ao chefe de Estado marca oficialmente o início da missão de um embaixador como representante do seu país em uma nação estrangeira.

A avaliação da ala militar do Palácio do Planalto - que defendia que Belandria não participasse da cerimônia - é que, ao receber as cartas credenciais de uma representante da oposição ao chavismo, Bolsonaro enviaria uma "provocação desnecessária" ao ditador Nicolás Maduro, justamente no momento em que os generais conseguiram reduzir a tensão na fronteira entre os dois países.

A fronteira entre as cidades de Pacaraima (em Roraima) e Santa Elena de Uairén (na Venezuela), que ficou fechada por quase três meses, foi reaberta no início de maio.

O governo também retomou nas últimas semanas as negociações com emissários de Maduro para que a Venezuela volte a vender energia elétrica para Roraima, o único estado brasileiro que depende da importação de eletricidade.

Além das questões práticas, há um cálculo político por trás da opinião dos militares, de que Belandria não deveria entregar suas cartas credenciais a Bolsonaro.

Os militares avaliam que o levante liderado por Guaidó em 30 de abril não foi bem-sucedido e enfraqueceu sua posição. María Teresa Belandria deixou o Palácio do Planalto nesta terça-feira sem dar declarações à imprensa.