Beto entra na disputa presidencial nos EUA

Democrata é mais um nome que pretende concorrer à vaga do partido para eleição de 2020

Escrito por AFP ,
Legenda: Beto O'Rourke atrai principalmente a atenção do eleitorado mais jovem
Foto: AFP

O democrata Beto O'Rourke anunciou nesta quinta-feira (14) sua pré-candidatura à presidência dos Estados Unidos, unindo-se ao numeroso grupo de candidatos que desejam desafiar Donald Trump em 2020.

"A única maneira de vivermos à altura da promessa dos Estados Unidos é dar tudo de nós e fazer isto por todos nós", afirmou o ex-congressista de 46 anos, estrela em ascensão do Partido Democrata, em um vídeo.

O'Rourke era cotado como potencial candidato democrata desde que disputou uma vaga no Senado contra o republicano Ted Cruz. A briga terminou em um resultado inesperadamente apertado, graças a sua popular campanha de inclusão e de participação política cidadã, que ganhou atenção nacional.

Há apenas dois anos, ele era um congressista de baixo perfil com poucas conquistas políticas, mas com uma paixão contida.

Sua sedutora rejeição ao "status quo" da política, que incluiu a promessa de evitar o dinheiro procedente das corporações, ou dos Comitês de Ação Política (PAC), inspirou seus seguidores no Texas, além de ajudá-lo a arrecadar um grande montante de recursos de campanha, a grande maioria de doações privadas.

Ao concentrar sua campanha de 2018 no ativismo de base refletiu um movimento de inclusão e um compromisso político, enquanto fazia campanha confiando em uma personalidade afável e em seus instintos políticos.

"Tenho uma boa ideia de quem somos, e não somos um povo que tome suas decisões com base no medo", disse O'Rourke à AFP em setembro passado, em Dallas. "Não temos medo do futuro", acrescentou.

Ele chamou a atenção de alguns dos mais mais fortes ícones culturais dos Estados Unidos como Beyoncé, que usou um boné com a palavra "Beto" no Instagram para seus 125 milhões de seguidores.

Com sua confirmação, ele passa a integrar um grupo de pré-candidatos democratas que inclui, entre outros, Elizabeth Warren, Kamala Harris, Cory Booker, Kirsten Gillibrand, Amy Klobuchar e Bernie Sanders.

A peça que falta para o quebra-cabeças das eleições de 2020 é o ex-vice-presidente Joe Biden, que deve anunciar, em breve, seus planos políticos.

O herdeiro de Obama?

Durante a incansável campanha de 20 meses para o Senado, que o levou aos 254 condados do Texas, esse homem alto, com muita energia e carismático aperfeiçoou um discurso que buscava inspiração extrapartidária e procurava encontrar pontos em comum. Para muitos, lembrou a visão otimista para o país que alavancou Barack Obama há uma década.

Depois da atuação de destaque de O'Rourke, a colunista Elizabeth Bruenig escreveu no jornal "The Washington Post" que alguns membros relevantes do Partido Democrata estavam tratando Beto como o "aparente herdeiro ao trono de Barack Obama".

Uma exaltação desse tipo pode ser prematura, mas Trump é consciente de sua fama.

Durante um discurso em fevereiro sobre segurança fronteiriça na cidade natal de O'Rourke, El Paso, junto à fronteira com o México, o presidente classificou o democrata como um "homem jovem que tem muito pouco para oferecer... salvo que tem um grande nome".

A visita de Trump à cidade natal de Beto parece apenas ter servido para impulsionar o democrata, que esteve à frente de um comício perto dali.

"Esta noite enfrentaremos as mentiras e o ódio com a verdade e uma visão positiva, inclusiva e ambiciosa para o futuro", disse O'Rourke a seus seguidores.

'Nada a perder'

Robert Francis O'Rourke nasceu e cresceu em El Paso. Depois de se formar na Universidade de Columbia, dedicou-se à sua grande paixão pelo punk rock, trabalhando de vez em quando em Nova York, para depois retornar ao Texas e começar uma companhia de software.

Aos 32 anos, obteve uma cadeira na Câmara de Vereadores da cidade de El Paso, seguidos de seis anos no Congresso.

Sua espontaneidade pode se tornar um grande recurso, como quando fez uma defesa ferrenha dos jogadores negros de futebol americano que se ajoelharam durante o hino, em protesto pela brutalidade da polícia.

Durante a campanha, O'Rourke manteve uma agenda liberal que faria a maioria dos republicanos sofrer. Pediu o impeachment de Trump, apoiou a expansão da cobertura médica a todos os americanos e disse querer abrir caminho para a concessão de cidadania para milhões de imigrantes em situação clandestina.

Como congressista, O'Rourke foi mais cauteloso e se uniu à Nova Coalizão Democrata, de centro e pró-business, da Câmara de Representantes.

No documentário "Na corrida com Beto", que registrou sua campanha para o Senado, deu um conselho aos candidatos jovens como ele: "Concorram como se não tivesse nada a perder".