Ataques no Sri Lanka: Número de vítimas chega a 290 mortos

Série de oito explosões em hotéis de luxo e igrejas católicas levou a centenas de mortes e toque de recolher no país

Escrito por AFP ,
Legenda: Militares inspecionam o interior da Igreja de São Sebastião em Negombo, após atentado suicida
Foto: AFP

Uma série de oito explosões em hotéis de luxo e igrejas católicas durante a celebração da Páscoa no Sri Lanka deixou pelo menos 290 mortos e 450 feridos. A tragédia marca a maior onda de violência já registrada no país desde o fim da guerra civil no país.

Os atentados foram registrados na capital, Colombo, e nas regiões de Katana e Batticaloa por volta das 8h45 (0h15, no horário de Brasília).

Entre os alvos estavam três importantes igrejas, onde aconteciam as missas da Páscoa e os hotéis cinco-estrelas Shangri-La, Kingsbury, Cinnamon Grand e Tropical Inn. Uma explosão ainda foi registrada em um complexo de casas.

Legenda: Policiais inspecionam os destroços de um carro após explosão, enquanto sacerdotes observam em Colombo
Foto: AFP

Ao menos 31 estrangeiros, entre eles indianos, portugueses, turcos, britânicos, australianos, japoneses, americanos, dinamarqueses e um francês, estão entre os mortos. Outros 14 continuam desaparecidos e podem estar entre as vítimas ainda não identificadas.

Entre os dinamarqueses, estão três dos quatros filhos do bilionário Anders Holch Povlsen, dono do grupo de moda Bestseller e acionista majoritário da marca ASOS.

Os ataques não foram reivindicados até o momento e a presidência decretou estado de emergência a partir de segunda-feira à meia-noite (15H30 de Brasília) em nome da "segurança pública".

O primeiro-ministro, Ranil Wickremesinghe, convocou uma reunião do conselho de segurança nacional em sua casa para o final do dia. "Eu condeno veementemente os ataques covardes contra nosso povo hoje. Eu chamo todos para permanecerem unidos e fortes", postou no Twitter.

O presidente do Sri Lanka, Maithripala Sirisena, pediu calma e cuidado à população. "Por favor, fiquem calmos e não sejam enganados por rumores", declarou Sirisena, em mensagem à nação.

Ataques

Foram oito atentados coordenados. Seis ocorreram na capital, Colombo, atingindo quatro hotéis, uma igreja e um complexo residencial. Outros dois ataques foram registrados em igrejas nas regiões de Katana e Batticaloa.

Os primeiros casos ocorreram de forma coordenada por volta das 8h45 (0h15, no horário de Brasília), em três hotéis de Colombo e três igrejas católicas que realizavam missas em celebração à Páscoa, nas três cidades atingidas.

Horas mais tarde, outras duas explosões ocorreram na capital. Uma delas ocorreu em um pequeno hotel situado ao lado do zoológico de Dehiwala e a outra, em um complexo de casas em Dematagoda, na periferia de Colombo.

No hotel de luxo Cinnamon Grand, em Colombo, um homem-bomba detonou o explosivo na fila de clientes que esperavam para entrar em um bufê de Páscoa no restaurante do local.


"Ele se dirigiu para o início da fila e se explodiu", relatou um funcionário do hotel. "Era o caos total", acrescentou.

Autoridades dizem que a maioria das explosões foram ataques suicidas e acreditam que militantes do Estado Islâmico egressos do Oriente Médio estejam por trás dos ataques.

Ainda no domingo, a Força Aérea do país disse ter encontrado mais um explosivo caseiro, que foi removido, em uma área próxima ao principal aeroporto de Colombo.

Outras duas explosões ocorreram mais tarde durante buscas da polícia por suspeitos: uma perto do zoológico, no sul de Colombo, e outra no distrito de Dematagoda, que deixaram três policiais mortos.

O presidente se mostrou "em choque e triste com o que ocorreu" e esclareceu que "as investigações estão em curso para descobrir que tipo de conspiração está por trás destes atos cruéis".

Investigação

O governo decretou estado de emergência a partir de meia-noite, depois de atribuir a autoria dos atentados ao grupo terrorista local National Thowheet Jama'ath (NTJ).

O porta-voz do governo do Sri Lanka, que apontou o grupo NJT, disse que não entende "como uma pequena organização neste país poderia fazer tudo isto".

"Estamos investigando sobre uma possível ajuda estrangeira e seus outros vínculos, como formaram homens-bomba, como produziram as bombas", completou.

O NJT se tornou conhecido no ano passado por atos de vandalismo contra estátuas budistas. A polícia foi alertada há 10 dias que o grupo preparava atentados suicidas contra igrejas e a embaixada da Índia em Colombo.

Legenda: Policiais ficam de guarda do lado de fora do Santuário de Santo Antônio em Colombo
Foto: AFP

"Os serviços de inteligência informaram que há grupos terroristas internacionais por trás dos terroristas locais", afirmou o presidente Maithripala Sirisena durante um encontro com diplomatas estrangeiros.

As autoridades cingalesas anunciaram até o momento a detenção de 24 pessoas, mas não revelaram detalhes sobre nenhuma delas.

Também informaram que o FBI tem ajudado na investigação. A Interpol também enviou uma equipe de investigadores.

Cenário após a tragédia

"A situação não tem precedentes", disse um funcionário do necrotério de Colombo que pediu anonimato. "Pedimos aos parentes que apresentem mostras de DNA para ajudar a identificar alguns corpos muito mutilados".

Uma mulher que perdeu o irmão mais velhos e três sobrinhos não conteve as lágrimas ao identificar os parentes. O sobrinho mais novo tinha apenas oito meses. "O que ele fez para merecer isto?".

Legenda: Sapatos de vítimas são mantidos como evidencia do atentado ocorrido no interior da Igreja de São Sebastião em Negombo.
Foto: AFP

Dilip Fernando, um católico de Negombo, cidade que fica a 30 km da capital Colombo, estava parado diante da igreja de São Sebastião. Ele não participou da missa no domingo porque o templo estava lotado e por pouco escapou do massacre provocado por um atentado suicida.

"Se a igreja estivesse aberta, eu entraria. Não temos medo. Não vamos deixar que os terroristas ganhem. Nunca! Vou continuar frequentando a igreja", declarou Fernando.

Dentro da igreja, as telhas caídas se misturavam aos escombros. As paredes e estátuas estavam repletas de estilhaços.

Nas ruas, os moradores tentavam retomar suas vidas. As pessoas começaram a sair de suas casas para seguir até o trabalho em automóveis, motos e tuk-tuk, os típicos triciclos motorizados do sudeste asiático.

Reações

O secretário de Estado americano, Mike Pompeo, prometeu nesta segunda-feira que os Estados Unidos continuarão lutando contra o "terrorismo radical islâmico" após os ataques no Sri Lanka.

"O terrorismo radical islâmico continua a ser uma ameaça, e continuamos a realizar um trabalho real contra esses seres humanos perversos" acrescentando que havia falado por telefone com o primeiro-ministro do Sri Lanka, Ranil Wickremesinghe.

Perguntado se a ameaça revelava que o Estado Islâmico ainda representa riscos, Pompeo respondeu que os Estados Unidos tinham destruído com sucesso o califado do grupo jihadista na Síria, mas que devem "permanecer ativos e vigilantes" em todo o mundo.

O presidente Jair Bolsonaro condenou os atentados em sua conta no Twitter. Em sua postagem Bolsonaro disse que "o extremismo deixa rastros de morte e dor". 


O papa Francisco também condenou os ataques. "Recebi com tristeza e dor a notícia dos graves atentados que, justamente hoje, dia de Páscoa, levaram luto e dor a algumas igrejas e locais sagrados no Sri Lanka", declarou o pontífice durante a bênção de Páscoa diante de milhares de fiéis na praça São Pedro, no Vaticano.

Quase 1,2 milhão de católicos vivem no Sri Lanka, um país de 21 milhões de habitantes, onde os cristãos representam quase 7% da população, majoritariamente budista (70%). O país também tem 12% de hinduístas e 10% de muçulmanos.