Assange passa primeira noite na prisão e inicia luta contra extradição

EUA pedem extradição do fundador da Wikileaks por ciberpirataria

Escrito por AFP ,
Legenda: Julian Assange dentro de van da polícia que o levou ao Tribunal de Westminister após ser preso em Londres
Foto: Reprodução

Julian Assange, que passou sua primeira noite detido em Londres, enfrenta nesta sexta-feira uma longa batalha judicial sobre sua extradição para os Estados Unidos, depois de ficar quase sete anos refugiado na embaixada do Equador no Reino Unido.

O hacker de 47 anos, que as autoridades americanas querem julgar porque o consideram uma ameaça à sua segurança em razão dos vazamentos de documentos secretos pelo site Wikileaks, está na penitenciária de Belmarsh, no sudoeste de Londres, segundo revelou uma fonte judicial próxima ao caso.

Belmarsh é um estabelecimento de segurança máxima que pode acomodar 910 prisioneiros, incluindo presos que possam atrair forte interesse público, segundo um relatório de inspeção de 2018.

Julian Assange foi acusado na quinta-feira pelo sistema de justiça britânico de não ter comparecido ante um tribunal, um crime punível com um ano de prisão. O veredicto será anunciado em uma data posterior.

O fundador do Wikileaks foi preso na quinta-feira na sede da embaixada equatoriana após Quito retirar seu direito de asilo em virtude de uma ordem de prisão britânica de 2012, sob a acusação de estupro e agressão sexual na Suécia, e de um pedido de extradição dos EUA por ataque cibernético.

Agentes consulares australianos vão solicitar visita, segundo anunciou a chanceler australiana Marise Payne, que se disse estar "persuadida de que vão tratá-lo de maneira justa". 

 

Assange diz não à extradição


Após a prisão, Assange foi apresentado a um tribunal de Westminster.

"Você aceita o pedido de extradição?", perguntou o juiz Michael Snow. 

No banco dos réus, Assange, vestido com uma jaqueta preta, cabelo comprido amarrado em um rabo de cavalo e com uma longa barba branca, respondeu negativamente. A solicitação americana será examinada em uma audiência em 2 de maio.

O australiano vai "lutar" contra este pedido de extradição, declarou sua advogada Jennifer Robinson. 

Para ela, a detenção de Assange "cria um precedente perigoso para órgãos de imprensa e jornalistas" em todo o mundo.

Assange é acusado de ter ajudado a ex-analista de inteligência americana Chelsea Manning, antes conhecida como Bradley Manning, a obter a senha para acessar milhares de documentos classificados. 

A plataforma WikiLeaks de Assange disseminou centenas de milhares de documentos secretos do exército e da diplomacia dos Estados Unidos.

Após sua prisão, o Departamento de Justiça americano anunciou que solicitou sua extradição para julgá-lo por "conspiração através de ciberpirataria (hacking)", crime pelo qual pode ser condenado a até cinco anos de prisão nos Estados Unidos.

 

Acusação adicional 


"Mas não há nenhuma garantia de que uma acusação adicional não será pronunciada" uma vez que ele esteja "em solo americano", alertou o editor do WikiLeaks, Kristin Hrafnsson, que pediu ao governo britânico que negue o pedido de extradição.

"O governo britânico deve garantir que um jornalista nunca seja extraditado para os Estados Unidos por ter publicado documentos e vídeos (que mostram) assassinatos de cidadãos inocentes", acrescentou.

A batalha judicial pode durar entre 18 meses e dois ano, segundo Ben Keith, advogado britânico especializado em casos de extradição. "E as chances de ganhar são baixas".

"No Reino Unido, ninguém está acima da lei", disse Theresa May na quinta-feira na Câmara dos Comuns. "Julian Assange não é um herói", afirmou por sua vez o ministro das Relações Exteriores, Jeremy Hunt.

De acordo com o ministro da Justiça Sajid Javid, o custo de sua estadia na embaixada do Equador foi de 13,2 milhões de libras (67,12 milhões de reais) de 2012 a 2015 para a polícia britânica, forçada a vigiá-lo 24 horas por dia.

Na Suécia, Elisabeth Massi Fritz, advogada responsável pela acusação de estupro contra Assange, disse na quinta-feira que iria pedir a reabertura da investigação após a prisão do fundador do WikiLeaks.

"Faremos tudo para que os promotores reabram a investigação sueca e para que Assange seja entregue à Suécia para ser julgado por estupro", disse Elisabeth.