Após derrota, Theresa May está por um fio

Primeira-ministra britânica sofreu derrota no Parlamento

Escrito por AFP ,
Legenda: Theresa May arriscou sua carreira insistindo em um acordo para tirar o Reino Unido da União Europeia
Foto: AFP

A primeira-ministra britânica, Theresa May, uma política que demonstrou extraordinária perseverança no espinhoso caminho para o Brexit, pôs em risco nesta terça-feira (12) o destino do Reino Unido e o seu próprio futuro político por sua insistência em não mudar de rumo.

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"A primeira-ministra tem que aceitar que sua forma de abordar isto não está funcionando (...) Este é o momento de mudar de direção, não de seguir insistindo", havia dito a deputada trabalhista Yvette Cooper um dia antes de o acordo do Brexit defendido por May ter sido rejeitado pela segunda vez no Parlamento.

Fiel à sua reputação de teimosa, a política de 62 anos, que projeta uma imagem de frieza um pouco mecânica, sobreviveu a cada golpe que recebeu por quase três anos.

Após ver rejeitado estrondosamente pelo Parlamento britânico, em janeiro, o acordo que alcançou com tanto esforço com a UE, voltou a mergulhar em árduas negociações com Bruxelas, depois das quais o texto voltou a sofrer um revés histórico.

Se tivesse conseguido a aprovação, teria sido "à base de estoicismo e perseverança", na opinião de Iain Begg, professor de Ciências Políticas na London School of Economics.

Mas este fracasso a deixará "como a pessoa que provocou a explosão dos conservadores" e arriscou o futuro do país ao insistir em seu plano até as vésperas da data fixada para o Brexit, em 29 de março.

Segundo Charles Walker, importante figura do Partido Conservador, isto poderia levar também a novas "eleições gerais em questão de dias ou semanas".

Sobrevivência e determinação

May chegou ao poder nas semanas caóticas após o referendo de 2016, cujo resultado levou à demissão do então primeiro-ministro conservador David Cameron, de quem foi ministra do Interior por seis anos.

Apesar de ser eurocética, ela era a favor de permanecer na UE, mas teve pouco envolvimento na campanha, insistindo apenas na necessidade de limitar a imigração, o assunto favorito dos apoiadores do Brexit.

Apenas um ano depois de chegar a Downing Street, convocou eleições legislativas catastróficas para fortalecer sua posição, na qual, no entanto, acabou perdendo a maioria absoluta e dependendo do apoio do pequeno partido norte-irlandês DUP para poder governar.

Desde então, os ataques dos eurocéticos e pró-europeus de sua própria formação a abalaram várias vezes.

Vários de seus ministros a abandonaram no caminho pedregoso de uma negociação que se provou mais difícil do que esperavam, incluindo dois defensores do Brexit, Dominic Raab e David Davis, e o chefe da diplomacia Boris Johnson, que desde então se tornou um de seus mais ferrenhos rivais.

Mas, até agora, May sempre sobreviveu e seguiu adiante com seu plano, convencida de que é "o melhor para o Reino Unido".

Perfil

Theresa Brasier - seu nome de solteira - nasceu em 1º de outubro de 1956 em Eastbourne, cidade costeira do sudeste do país.

Depois de estudar geografia na Universidade de Oxford, onde conheceu seu marido, Philip, e trabalhar por pouco tempo no Banco da Inglaterra, ela deu seus primeiros passos na política em 1986, ano em que foi eleita conselheira do distrito londrino de Merton antes de se tornar deputada em 1997.

De 2002 a 2003, ela foi a primeira mulher a ocupar o cargo de secretária geral de sua formação. 

A própria May se descreveu certa vez como "uma mulher difícil pra cacete", e seu atual ministro das Relações Exteriores, Jeremy Hunt, recentemente advertiu: "Não subestimem Theresa May".

Embora seus inimigos a tenham acusado de ser míope, todos concordaram em sua determinação.

"Ela é muito diligente, trabalhadora, imersa em detalhes. É tecnocrata, muito dura e pode ser bem teimosa", declarou à AFP o ex-democrata liberal Clegg, vice-primeiro-ministro do governo de coalizão de Cameron. 

"Todas essas coisas são qualidades muito boas em um político do governo", reconheceu Clegg. "Mas nunca vi nela muita imaginação, flexibilidade, instinto ou visão", concluiu.